GCAD_RIMAS DEVOTAS

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GCAD_Vol II – RIMAS DEVOTAS [orações tradicionais]

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Incluí algumas das numerosíssimas orações tradicionalmente transmitidas de geração em geração, sem garantia de total ‘ortodoxia teológica’…

Originariamente teriam músicas (gregorianas, sim) ) e estariam, mesmo, ligadas aos rituais das Horas: prima, laudes, nona, vésperas, etc….

Do pondo de vista linguístico, existem vocábulos e formas morfossintácticas notáveis como documentos da evolução da Língua, cujo estudo ultrapassa em muito o âmbito deste site.

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EXEMPLOS

Padre Nosso Pequenino  [Vol II – págs 1112-1117]

Padre-nosso pequenino pelo monte se vai surgindo com as chaves do paraíso. – Quem mas deu, quem mas dera? – Foi Santa Maria Madalena. Cruz no monte e cruz na fonte, nunca o demónio comigo se encontrou nem de noite, nem de dia nem na hora do meio-dia. S.José bate à porta c’ua capa mui devota perguntando por o menino, por o menino do Jordão. O menino põe o pé no seu altar e o sanguinho* a pingar. – Toca, toca, Madalena, não no chegues a limpar, que estas são as cinco chagas que o Senhor tem de passare. Quando Deus era menino pôs o pé no seu altare o sanguinho a pingar. – Toca, toca, Madalena, não no chegues a limpar, que estas são as cinco chagas que eu tenho que passare. já os galos pretos cantam, já os anjinhos se levantam, já o Senhor subiu a cruz. Para sempre amém, Jesus.

*Sanguinho = pequena peça de linho branco com que o sacerdote limpa o cálice no final da missa.

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Padre Nosso saboroso

Padre-nosso saboroso dos tristes desconsolados: Ó meu Deus, ó meu Senhor, perdoai-me os meus pecados. Ó cristão, que és de terra, olha que hádes morrere; Hádes dar as tuas contas do teu bom e mau vivere. Não caias em tentação com’à calma na geada; Lá estão três inimigos à espera da tua i-alma. Quem esta oração dissere três vezes ao deitar, Nem que tenha tantos pecados como areias tem o mar. E flores tem o campo em honra se l´hão-de tornar. As portinhas do céu abertas hão-de estar. Quem na sabe, não na diz, quem na ouve, não na aprende, À hora da sua morte se verá o que s’arrepende.

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Ave Maria Gloriosa

Engelina gloriosa, És formosa como ua rosa. Quando o Senhor quis nascer, Ó souto quis padecer. S. Martinho, confessor Lá se foi p’ra bom romeiro. Lá se vai p’ra monsenhor. As portas que ele chegar Nomeadas elas serão. Nem morra a mulher de parto, Nem filho de abafado, Nem fogo d’alharado.- Ò pombinhas que voais, No biquinho que levais?- Levamos olhos de crisma P’ra baptizar um filho da Virgem Maria Que nasceu neste sagrado dia. Quem esta oração disser D’ano a i-ano De dia a dia, As penas do inferno não veria. Quatro almas de lá tiraria: E a primeira seria a sua, A segunda a de seu pai, A terceira a de sua mãe, a quarta do benfeitor que lá tiver. Amen.

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Nossa Senhora das Dores

Nossa Senhora das Dores, com sete espadas ao peito; Quem muito servir a Deus tirará grande proveito. Amar a Deus é um gosto, amar a Deus é um regalo; Quem isto não considera anda mal encaminhado Pensando d’ir para o céu, mas há-de-s’ achar enganado. Olha a ti, ao pecador olha bem a ti, Que só tens uma i-alma; se a perdes, ai de ti!- Dê-me licença, Senhor, que eu lhe conte a minha vida; De triste que me vejo, não sei como lhe diga. Nossa Senhora das Dores, cofre do ventre sagrado: Tendo tão bom Jesus, pois sempre sejais louvada.

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Ave Maria, minha mãe

Ave, Maria, minha mãe,eu bem sei que paristee a todo o mundo remiste.Remi-me a mim, Senhora,Qu’eu sou grande pecador.Vós sois a casa de ouro,A arca da Santíssima Trindade,em que nos consagraO cálix e a hóstia no altar.Tem como chamao vosso filho Jesus Cristo.E Jesusestá na cruzpregado com cal e cravo.Na casa santa de Romaestá o Senhor aporfinado.E na casa santa de Deus foi ensinar.está cuidandoe pensando nas chagas do Nosso Senhor JesusCristo.Quantas são?Doze mil duzentas e vinte e cinco.

Quem esta oração souber e a disserTrês vezes ao dia, Terá a sua alma tão clara Como a coroa da Virgem Maria.- Quem la disser de manhã, Darei-lhe a minha salvação; Quem na disser à noite, Cinquenta anos que morra Sem ser confessada, Ficará como na mesma hora Em que foi baptizada.

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Grito das Almas

Alerta, cristãos, alerta, Que mandam dizer as almas Que no outro mundo estão, Qu’hemos de ir a batere Às portas do coração. Ó almas esquecidas, Que fazeis, que não rezais, P’ra ver s’as aliviais Daquelas penas acendidas, Cada vez s’acendem mais. Gritam nos pais pelos filhos E os filhos pelos pais E as mães, da mesma sorte. Ai Jesus, que dor tão forte! Tão seguida dos meus ais, Aquela mais sentida voz Pede toda a nós. Toda a noite e todo o dia Sempre estão em agonia, Por ver que não rezais Uma só ave-maria. Uma só ave-maria que rezeis, Grande esmola le fazeis. Gritam pelos seus herdeiros E pelos seus testamenteiros, Que não são desencargados Dos bens que cá deixaram. Ó tão triste pecador: Escutai os vossos ouvidos; Estão as almas em clamor, Dando os seus ais tão sentidos. Oh quem tão mal faz, Quem das almas é irmão Ele perde a devoção. Mandai dizer ua missa no ano, Mandai-l’ essa consolação. Dizem os novos e os ricos E os anjos benditos: Fazei esmolas aos pobres, Cada vez sois mais ricos. Quem isto fizer, A glória eterna Chega a ver.

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Ao entrar na Igreja

Aqui cheguei ao adro sem perguntar a ninguém; há por aqui boa nova do bom Jesus de Belém? Ficai aqui, pecados meus, que eu vou falar com Deus. esta hora não é vossa, é da Virgem, mãe de Deus. Nesta igreja de Deus entro a adorar o cálice bento e ao Santíssimo Sacramentoe aos anijnhos qu’estão dentro. Água benta vou tomar por cima dos meus pecados, p’ra que a hora da morte me sejam perdoados. Meu joelho deito em terra, minha alma ao coração; meus olhos deito ao céu a pedir a Deus perdão.

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Anjo da guarda

Ò anjo da minha guarda Santo anjo do senhor Meu zeloso guardador Se em ti nos confiou, E nos guarde, E nos reze, E domine. Amem.

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Com Deus me deito 3

Com Deus me deito, Com Deus me levanto, Co’a graça de Deus E do Divino Espírito Santo.

Nossa Senhora me cubra C’ o seu manto. Se bem coberta fore, Não terei medo nem temore Àquilo que mau fore.

À honra de Deus E da Virgem Maria, Um padre-nosso e uma ave-maria.

Amém.

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GCAD_RIMAS DE CASERNA

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GCAD-Vol II_RIMAS DE CASERNA

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NOTA:

Nestes exemplos não se transcrevem totalmente as rimas do II volume [10 págs 1056-1065].

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Para a mulher ser infeliz

P’r’ à mulher ser infeliz, só le basta ser mulhere;

sempre nas língua do mundo, esteja lá onde estiver.

Que não fala, tem presunção, se passa por indecente;

se fala p’ra toda a gente, não conhece a posição.

Mas se ela vai a um serão há lá uma língua que diz:

– Ela foi porq’ela quis; foi p’ra aquecer ao amante.

Isto é bastante p’r’à mulher ser infeliz.

Se vai à missa asseada, há quem se atreva a dizere:

– Tu não tens para comere e tens pr’andar engomada.

Mas se vai suja e mal tratada:

– É um bandalho porque quere,

Esteja lá onde estivere

e passe por quem passar,

para o mundo dela falar.

só le basta ser mulher.

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Sete anos servi um amo

Sete anos servi um amo, sete i-anos e mais um mês; por bem criados que tenha, ninguém le faz o que l’eu fez: emprenhei-lhe sete filhas e três criadas são dez; a i-ama pariu de mim e o amo valeu-se a pés.

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O Caloteiro

Senhor José, não me paga? Que vergonha é a sua? Desde que ferrou o cão, Não passou mais nesta rua.- É talvez por lhe dever Ou por ter medo de si.  deixe de comer ,Pra pagar o que bebi? – Trabalhe, seu mandrião, Caloteiro de má raça: Eu, quando compro a fazenda Tenho de largar a massa. Quer você, à minha custa, Encher a pança de graça? Não tem vergonha de ouvir O que dizem quando passa? Trabalhe, seu calaceiro,S e quer ter algum valor: Os calos são os anéis Do homem trabalhador. – Eu calos na mão não quero, É canalha que arrenego; Dispenso esses anéis Que não dão nada no prego. E é você que vem pregar Moral, com esse jeitinho? Foi você que me roubou, Vendendo água por vinho. Lembre-se, seu impostor, Daquele velho rifão Quem enganar um vendeiro Tem cem anos de perdão!

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A Morenita

Era meia noite, e eu à porta sentado, já tudo dormia, só eu acordado, e de repente passa a morenita, sainha bem curta e bela pernita.

Pego na bengala e vou atrás dela:

–  Pst! Olá menina! Pst! Olá donzela!

– Que é que você quer, ó seu atervido? sou mulher casada, já tenho marido!

Volto pra trás, triste e aborrecido: Olha a morenita, que já tem marido!…

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Rimances de cego

GCAD_RIMANCES DE CEGO

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GCAD-Vol II

RIMANCES DE CORDEL E DE CEGO

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Os rimances de cordel ou de cego eram narrativas em verso de carácter fatalista e trágico (assassinatos, pessoas “aleijadinhas”, filhos que matam os pais, mulheres enganadas, desonradas… (e tantos outros episódios anormais, raros e sensacionais)

Os rimances de cego circulavam pelas feiras e romarias de tempos ainda não totalmente extintos… – ultimamente acompanhadas de distribuição de folhetos com a letra, para recolha de dádivas dos comovidos ouvintes circundantes.

Também o fado se prestava a estas manifestações de tragédia e angústia solidária e libertadora: “fado da desgraçadinha”, por ex. . As tabernas foram secularmente espaços de transmissão de cultura, quer  e informativa, quer literária, musical e cénica (teatro elementar, exibicionismos vários) frequentados por pessoas sem acesso aos salões da aristocracia, sucessores dos selectíssimos espaços cortesãos.

Será ainda de citar que a Grécia Antiga (donde derivou toda a Cultura Ocidental)  nos 4 dias de jogos, alternava os Jogos atléticos (Olímpicos e outros) com uma trilogia de tragédias, para amaciar a opinião pública das crueldades das constantes guerras (por ex. entre Atenas, Esparta, os Persas, etc.) com uma comédia no último dia. As almas saíam purificadas, purgadas das paixões irracionais através da descarga patológica da catarse e o triunfo das acções nobres. Todos os atenienses eram obrigados a sujeitarem-se a esta pedagogia cultural, cívica e, até, religiosa.

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EXEMPLOS

DONA ISAURA [GCAD VOL II P 1043]  (Harm Altino M Cardoso)

Estando a Dona Isaura na janela debruçada (bis)

passou lá um rapazote: – Adeus, minha namorada (bis).

Isaura foi pró quintale e o malvado foi trás dela (bis), botou-lhe as mãos à cintura, logo ali fez pouco dela.

Sua mãe alevantou-se, foi saber da sua filha; encontrou-a no quintale, a chorar a triste vida.

– Vá-se embora, minha mãe, não tem cá nada a fazere, em parando minhas mágoas à porta le irei batere. Eram as três da manhã, Isaura à porta a batere:

– Entra, entra, ó minha filha, filha do meu coração, entra pelo corredore, vai a teu pai pedir perdão.

– Perdoa, meu pai, perdoa, tenha dó da desgraçada; tenho uma criança nos braços, do amante abandonada.

Do amante abandonada e da família aborrecida; meu pai, eu vou prá viela, na viela há mais na vida;

vou ganhar muito dinheiro, o meu corpo bem no sente,  Eu vou para a taberna, na taberna há mais gente, vou ganhar muito dinheiro ao balcão duma taberna!

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VAI-SE LER UMA QUADRA [GCAD VOL II – p 1054]  (Harm Altino M Cardoso)

Bai-se a ler uma quadra, Todos podem reparare (bis)

Que beu fazer aquele homem Do Brasil a Portugale: (bis)

Há quatro anos que estaba Da sua mulher ausente,

Uma noite tebe um sonho Que ela tinha um amente.

Ele aquerditou no sonho, Num tornou a trabalhari,

Tratou de arranjar passaije Pra Portugal e imbarcari.

Era meia-noite im ponto, À porta da infeliz bateu:

Deitadinha no seu leito Seu marido conheceu.

Taba deitada na cama Ela e mais uma menina:

Era filha duma irmã E dela era sobrinha.

Talhou-le penas e braços, Arrincou-le o coração,

Tirou-le nariz e olhos Na maior afelição!*

* Rimance com enredo na linha do de S. Macário (S Pedro do Sul)

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ABANDONEI O MEU LAR [GCAD VOL II – p 1040]  (Harm Altino M Cardoso)

Abandonei o meu lar Com toda a dedicação, (bis)

Fui prá guerra batalhar Meu corpo crucificar Em honra duma nação.(bis)

Quando andava na guerra, Andei por tão maus caminhos! Onde meus olhos perdi E com eles nunca vi O rosto dos meus filhinhos!

Vim prá terra imparado Por um camarada meu Que na guerra foi soldado E combateu a meu lado, Comigo tudo sofreu.

Pensando no meu destino, Essas mágoas me consomem, Ouvi dizer aos vizinhos Que a mãe dos meus filhinhos Vivia com outro homem!

Acabou a grande guerra, Fiquei todo satisfeito: Voltei para a minha terra Para a casinha da serra Mas sem medalhas no peito!…

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GCAD_CANÇÕES INFANTIS

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GCAD_CANÇÕES INFANTIS

[NOTA: Além das canções de berço e infantis, os livros abaixo citados incluem canções para todas as idades, embora aí não especificadas.]

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As canções infantis (como todas as outras cantigas populares tradicinais) têm uma origem anónima e secular e fazem parte do universo vivencial e social das gerações pré-rádios e televisões. que, desde a difusão da energia eléctrica, vieram globalizar e controlar as canções, tornando-as descaracterizadas e enlatadas, para consumo volátil.

As nossas recolhas de músicas tradicionais estão publicadas em vários livros, com pautas, letras (com tons de acompanhamento), de que destacam:

  • Algumas pautas e letras no livro CANÇÕES PARA TODS AS ESCOLAS  (1978) [Site]
  • Algumas pautas e letras no livro CANÇÕES INESQUECÍVEIS LUSO-EUROPEIAS (2ª ed. 2017) [Site]
  • Algumas pautas e letras no vol I do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO (I-2006/II-2007/III-2009) [Site]

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EXEMPLOS

Moda da Rita (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 147)  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

MODA DA RITA

Esta é que era a moda
que a Rita cantava,
Lá na Praia Nova,
olaré,
ninguém lhe ganhava!

Ninguém lhe ganhava,
ninguém lhe ganhou!
Esta é que era a moda
olaré,
que a Rita cantou!

Esta é que era a moda
que a Rita cantou.
Lá na Praia Nova,
olaré,
ninguém lhe ganhou!

Nota:

Observam-se importantes linhas sequenciais a partir do galego-português medieval da época da Fundação de Portugal:

É visível a estrutura paralelística formal da cantiga: a alternância vocálica da rima áspera (a//ó), o refrão e a repetição do mesmo conteúdo semântico.

O número par de estrofes dá lugar a uma ‘finda’ (a terceira estrofe), alicerçada na estrutura-base: ‘cantar/ ganhar’.
Outros aspectos a ter em conta: por um lado, a presença tradicional do mar galaico-português; por outro, o canto de tenção desafiadora e competitiva da Rita, que se situa nos parâmetros mais radicais da iniciativa amorosa feminina das próprias cantigas de amigo medievais.

Ainda é implicitamente visível o exibicionismo do corpo na praia.

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Laranjinha  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 136)  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

LARANJINHA

Olha a laranjinha
foi do chão ao ar,
o meu amorzinho
não veio ao jantar.

Não veio jantar,
não veio ao almoço
olha a laranjinha
foi do chão ao poço.

Podem improvisar-se outras quadras, de temática aleatória, conservando-se a estrutura poética paralelística medieval: o ‘leixa-pren’, a alternância vocálica e o número par de estrofes popular original:

Olha a laranjinha,
foi do chão à terra,
o meu amorzinho
é de lá da serra.
É de lá da serra,
é de lá do monte,
olha a laranjinha,
foi do chão à fonte.

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Pombinhas da Catrina (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 182)  [Rec e Harm Altino M Cardoso]

POMBINHAS DA CATRINA

As pombinhas da Cat’rina
andaram de mão em mão, (bis)
foram ter à Quinta Nova
ao pombal de S. João. (bis)

Ao pombal de S. João,
à Quinta da Roseirinha
minha mãe mandou-me à fonte
e eu quebrei a cantarinha.

– Ó minha mãe não me bata
que eu inda sou pequenina!
– Não te bato porque achaste
as pombinhas da Catrina.

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Parte, parte, ó pescador  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 191)  [Rec e Harm Altino M Cardoso]

PARTE, PARTE, Ó PESCADOR

1. Parte, parte, ó pescador
vai à pesca da sardinha (bis)
louvado seja o Senhor,
que guia a tua barquinha! (bis)

2. As ondas do mar são brancas
no meio são amarelas
coitadinho de quem nasce
p’ra morrer no meio delas!

NOTA- O mar sempre presente nas tradições populares. E a sardinha, um peixe bem típico e especial da mitologia portuguesa, herdada do paganismo e (re)ligada aos santos populares.

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Ribeira vai cheia  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 197)  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

RIBEIRA VAI CHEIA

Ribeira vai cheia
e o barco não anda,
tenho o meu amor
lá naquela banda.

Lá naquela banda
lá naquele lado
– ribeira vai cheia
e o barco parado….

NOTA: Conservando a tradição da iniciativa feminina e animista medieval do galego-português, a natureza é concebida como prolongamento (aqui é obstáculo e não confidente ou adjuvante) do anseio da rapariga que vai ao encontro do seu amor.
E o barco e o rio nunca serão suficientemente rápidos para o seu desejo de encontrar o seu amor, à espera “lá naquela banda”…

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O senhor do meio  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 208)  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

O SENHOR DO MEIO

O senhor do meio
julga que é alguém:
é um rapazinho
que nem barba tem!

O senhor do meio
ande ligeirinho
se não quer ficar
no meio sozinho.

NOTA: Visível na dança o despertar da mulher, das bonecas para o instinto de procriação, já com consciência biológica do seu poder sobre os rapazes, quando amadurecerem. Mas considerá-los ‘verdes’ pode incluir-se no provérbio quem desdenha qur comprar”.

Atenção também à iniciativa feminina, herdada das cantigas populares ‘de amigo’.

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Senhora Dona Anica  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 209)  [Rec e Harm Altino M Cardoso]

SENHORA DONA ANICA

Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim:

– Venha ver as lavadeiras
a fazer assim… assim… (lavar roupa)
as costureiras (coser)
os jardineiros (sachar)
os sapateiros (bater pregos ou engraxar)
os carpinteiros (serrar, aplainar, etc.)
as cozinheiras (mexer o cozinhado)
etc., etc.

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NOTA: Nesta cantiga, as crianças imitam, ou mimam, várias profissões ou actividades, algumas das quais se foram perdendo. É útil às crianças de agora, que dificilmente podem presenciar ao vivo os trabalhos que deram origem por ex. às mesas, às grades, às roupas, ao calçado…
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Vira-te pra mim, ó Rosa  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 215)  [Rec e Harm Altino M Cardoso]

VIRA-TE PRA MIM, Ó ROSA

Vira-te p’ra mim, ó Rosa,
que o cravo já ‘stá virado.*
É um brio dos rapazes
andar de chapéu ao lado.

*NOTA: Trata-se de uma cantiga de apelo e sedução, muito camuflada metaforicamente: a rosa é símbolo da mulher (rosa vermelha = mulher virgem) e cravo símbolo do homem (sempre apontado).
Na dança, mista, há um diálogo, atrevido por parte deles e subtil e irónico da parte delas – que no “chapéu ao lado”, identificam a crista do galo, sedutor insaciável (“o cravo já está virado”), mas ‘polígamo’ por natureza.
Na notação musical, as colcheias com um ponto marcam precisamente os avanços, ou ‘bicadas’, dos ‘galos’.

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Voltinhas do Marão  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 220)  [Rec e Harm Altino M Cardoso]

VOLTINHAS DO MARÃO 

Quem me rouba,
quem me rouba,
quem me rouba
é ladrão! (bis)
Ai! ai! ai!
Inda ontem fui roubada
Ai! ai! ai!
Nas voltinhas do Marão! (bis)

Lá, lá, lá, lá, lá,
lá, lá, lá, lá, lá! (bis)

Nas voltinhas do Marão . . .
olha as voltas que eu fui dar!
Ai! ai! ai!
Arrisquei a minha vida
Ai! ai! ai!
Para contigo casar!
Lá, lá, lá, lá, lá,
lá, lá, lá, lá, lá!

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Zé dos Nabos    (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 223)  [Rec e Harm Altino M Cardoso]

ZÉ DOS NABOS

O meu pai é Zé dos Nabos,(bis)
Minha mãe Ana Nabiça.
O meu tio é Zé do Grelo, (bis)
Minha avó só gostava de hortaliça.

O meu pai é Manuel Cuco,
Minha mãe, Cuca Maria;
Meus irmãos também são cucos,
Lá em casa tudo é cuco,
tudo é uma cucaria.

O meu pai é farmacêutico,
Passa a vida a fazer pírulas.
Eu quando preciso delas
Vou à gaveta e ‘tiro-las’.

O Zé beijou a Maria,
Mas a mãe viu-os beijar.
Foi contar logo ao marido,
E o pai obrigou-os a casar.

O meu pai é farmacêutico
Passa a vida a fazer pírulas
E eu quando preciso delas
Vou à gaveta e tiro-las.

OBS – É praticamente infinita a variedade de quadras (também improvisadas e em grupo) que se podem juntar a esta melodia.

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GCAD_TUNAS-VALSAS

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GCAD_TUNAS-VALSAS

A Música, com instrumentos individuais ou de grupo, sempre esteve presente na generalidade das festividades humanas, religiosas ou laicas: casamentos, baptizados, bailes, serenatas, arraiais… como actualmente.

As tunas rurais eram numerosas no Alto Douro e não tocavam apenas músicas importadas de outras regiões, sobretudo do Porto, mas orquestravam artesanalmente as cantigas tradicionais e autóctones, que achavam mais a seu gosto.

Na minha área infantil e juvenil (noroeste da Régua: Loureiro, Godim, Fontelas, Sanhoane, Medrões ) conheci pessoalmente alguns tocadores: na tuna de Loureiro, a minha freguesia, de que destaco o Armindo Chiné um clarinetista, pela sua intuição melódica e harmónica e (era caseiro) capacidade de liderança, Todos aprendiam e tocavam de ouvido, mas ele quase escrevia algumas pautas.

Quando o Pároco e a Junta de Loureiro precisaram de dinheiro para restaurar a torre da igreja, cada lugar da freguesia (uns cinco) formou um rancho com a respectiva Marcha e tocadores próprios; a recita só se completou em três anos. (Ver mais, neste site, em “Marchas da Juventude”)

Mas as urgências do trabalho da vinha tornavam muito penosa a prática musical destes homens de família; e quando os jovens começaram a deslocar-se para as escolas do concelho (por vezes em transportes fretados pelas câmaras, dadas as distâncias, o tempo e o relevo), as vocações perdiam-se facilmente, dissipando-se em novos horizontes, interesses e diversões.

A decadência e extinção destas tunas deu-se fatalmente quando começaram a aparecer os aerofones – harmónicas (realejos, gaitas de beiços), harmónicos (harmónios), concertinas, acordeões… Como agora, possuíam na mão direita um teclado focado na melodia e ainda o teclado  na mão esquerda, harmónico, com acordes de acompanhamento. Emulavam já o timbre sonoro de alguns instrumentos… Isto é: forneciam a música completa, ainda por cima dotada de muito melhor amplitude e projecção sonora – e a afinação era perfeita.

O golpe final foi dado pela difusão da energia eléctrica, que permitiu não ainda a TV, mas já os rádios, os gira-discos, logo a seguir os instrumentos electrónicos, com acordes automáticos…

Qualquer taberneiro podia, sozinho, adquirir os discos da moda e organizar belos bailes aos domingos, com discos pedidos e dedicados e pagos, o que, com o fornecimento dos copos da animação e um fast food sabidão, gerava uma saborosa receita semanal.

Os grupos musicais transformaram-se em conjuntos, que compunham grande parte do seu repertório e se dedicavam a actuar nas Festas da Região, rentabilizando a música com cachets e venda de cassetes de sua iniciativa.

Destaco o Conjunto Regional Duriense de Alcino Mesquita Gouveia (e o irmão Zé), homens de uma grande criatividade como compositores, cantores e tocadores das próprias cantigas.

Em Fontelas também se criou e ainda hoje existe o grupo Rabelos do Douro,

Também ainda recordo que, em Medrões (concelho de Sta Marta) existia um outro conjunto, nesses tempos liderado pelo violinista Arnaldo Guedes, o Arnaldinho da Singer.

Não posso deixar de referir a existência do Rancho de Barqueiros (antes do Rancho da C do Povo), o mais antigo de Portugal e que ainda hoje existe – ver referência à data de criação no meu livro “CANCIONEIRO SALOIO”.

A Música nunca deixou de estar presente na Região do Douro. Foco apenas o eixo Régua-Godim-Loureiro-Sanhoane- Medrões, mas desde sempre conheci várias tunas e bandas musicais provenientes de Cinfães e, sobretudo, Resende – onde ainda hoje existem duas bandas: a de S. Cipriano Nova e… a de S. Cipriano Velha.

Depois dos 14 anos, data em que o meu pai me ofereceu um violino, ainda escrevi as pautas e toquei umas músicas com os tocadores de Loureiro e também de Godim, com o Rancho de Ariz, dinamizado pela família Carvalhais. Tocávamos a Chula de Loureiro (ver/ouvir neste site), uma das mais bonitas e tocadas de entre todas – animava o rancho de Loureiro na romaria à N Sra da Serra do Marão, todos os anos e ainda actualmente.

Depois em Coimbra, a TAUC, as viagens nas férias para o País e estrangeiro, não me davam hipóteses de presença na música das minhas raízes.

É esta música que quero deixar escrita (letras e pautas) em alguns livros, coroados na obra GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, um trabalho de mais de 50 anos, editado em 2006, 2007 e 2009, com 1.150 músicas, 3 volumes, total de 1.920 páginas.

OBS – Ver e ouvir mais sobre a obra – procurar neste site.

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EXEMPLOS

O Douro na Régua (400 CPR)

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Valsa do Big Ben   (GCADouro, Vol II – Pg 806)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa 3  (GCADouro, Vol II – Pg 792)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa Amor de Mãe    (GCADouro, Vol II – Pg 795)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa Anda o Mar  (GCADouro, Vol II – Pg 796)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa das Vistas do Marão  (GCADouro, Vol II – Pg 805)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa Maria    (GCADouro, Vol II – Pg 813)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa Longe de Ti   (GCADouro, Vol II – Pg 806)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa Meu Benzinho   (GCADouro, Vol II – Pg 814)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Valsa Saúde Dinheiro e Amor   (GCADouro, Vol II – Pg 824)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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GCAD_TUNAS-TANGOS

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GCAD_TUNAS – TANGOS

Os tangos sempre tiveram um lugar importante nas tunas e na música de bailes.

O livro 400 CANÇÕES PRÓPRIAS REUNIDAS contém alguns tangos próprios, criados numa época juvenil cheia de ideais, projectos e esperanças.

O Vol II do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO apresenta uma recolha dos tangos que se ouviam no Alto Douro em meados do século XX nos numerosos  e concorridos eventos em que participavam tunas.

Como habitualmente, selecciona-se e apresenta-se uma pequena amostragem deste género musical.

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EXEMPLOS

Tango Serei Feliz com teu Amor (GCADouro, Vol II – Pg 784)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Tango andorinhas     (GCADouro, Vol II – Pg 779)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Tango O Último Copo    (GCADouro, Vol II – Pg 780)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Tango Duas Guitarras (GCADouro, Vol II – Pg 781)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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Tango de Loureiro (GCADouro, Vol II – Pg 782)  [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

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GCAD_TUNAS-MARCHAS

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EXEMPLOS

MARCHA DA RÉGUA

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MARCHA DE VILA REAL

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Marcha Terra Onde Nasci     (GCAD vol II  pg 757 – Recolha e Harm Altino M Cardoso

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Marcha Cá Estão os Jornais   (GCAD vol II  pg 749 – Recolha e Harm Altino M Cardoso)

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Marcha de Montemuro   (GCAD vol II  pg 733 – Recolha e Harm Altino M Cardoso)

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Marcha do Namorado   (GCAD vol II  pg 740 – Recolha e Harm Altino M Cardoso)

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Marcha dos Foliões    (GCAD vol II  pg 745 – Recolha e Harm Altino M Cardoso)

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Marcha do Rancho Grande   (GCAD vol II  pg 749 – Recolha e Harm Altino M Cardoso)

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Marcha Saudades de Amarante  (GCAD vol II  pg 753 – Recolha e Harm Altino M Cardoso)

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Marcha Você Tem     (GCAD vol II  pg 759 – Recolha e Harm Altino M Cardoso

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Fado de Lisboa

GCAD_TUNAS-FADOS (de Lisboa)

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GCAD_FADOS (de Lisboa)

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O Fado, originariamente cantiga de taberna e marginalidade, conseguiu impor-se artisticamente, com belas músicas  e poemas e pôde adquirir há poucos anos o estatuto de Património Mundial pela UNESCO,

As tunas rurais apresentavam repertórios com um fundo de base local e regional, mas também tentavam adoptar experiências eruditas apreendidas em visitas às Grandes Cidades: os espectáculos (teatros de revista, cabarets…) do Porto e, ainda, os de Lisboa.

Era tarefa de ouvido, difícil, pois não havia rádios nem mesmo pautas publicadas. Daí que hoje se torna impossível apresentar um carimbo de autor, ou mesmo de local ou região da recolha, tornando-se injusto arriscar um autor ou local ou uma data, sem ter a certeza.

No entanto, as peças autóctones das nossas Tunas durienses oferecem na gereralidade um sabor genuíno, gerador de uma saudosa emoção muito bem conseguida, embora em vias de se perder, como as restantes tradições transmitidas em proximidade cívica fixa.

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EXEMPLOS

[Notas: escolhem-se apenas estes, de uma listagem bem mais abrangente. Como sempre, os arranjos são de simples apresentação, não se obrigando a copiar os originais]

FADO DA DESGRAÇADINHA [Vol II – p 1158] (Recolha e Arranjo: Altino M Cardoso)

Virgem casta, eu já fui como tu,
já vivi como os anjos do céu; (bis)
esta fronte que vês humildada
foi coberta com cândido véu. (bis)

Eu também, como tu, tive flores,
tive tanta grinalda singela!
Tive beijos de um pai carinhoso…
Eu também, como tu, já fui bela!

Como tu, eu já tive esperança,
já gozei dessa vida sagrada:
hoje vivo a lutar com a dor
que fulmina a mulher desgraçada!

Tive mãe, como tu inda tens,
que velava por minha ventura,
que tornava meus dias ditosos,
de seus lábios me dava doçura…

Mas bem cedo, donzela, essa glória,
qual um sonho, depressa passou;
essas flores consagradas que tive,
foi um beijo infernal que as murchou!…

Esse véu inocente que tive
mo tiraram sem pena, sem dó!
Ímpia mão mo rasgou com desprezo,
nem as cinzas se encontram no pó!

Ai, perdoa, donzela, este canto
repassado de dor e de fel!
Ouve as queixas da triste perdida,
que são ecos da sorte cruel!…

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FADO CHORADINHO [Vol II – p 1155]  (Rec e Arranjo: Altino M Cardoso)

Fui encontrar a desgraça
Onde os mais acham prazer: (bis)
Amor, que dá vida a tantos,
Só a mim me faz morrer! (bis)

Ó cidra, considra ó cidra,
Ó cidra, considra bem:
Depois da cidra partida,
Cidra, que remédio tem? (bis)

Eu fui a mais desgraçada
Das filhas da minha mãe:
Todas têm a quem se cheguem,
Só eu não tenho ninguém!

Não sei que quer a desgraça,
Que atrás de mim corre tanto!
Hei-de parar e mostrar-lhe
Que de vê-la não me espanto.

Eu quero bem à desgraça
Que sempre me acompanhou,
Não posso amar a ventura
Que bem cedo me deixou!

Quem tiver filhas no mundo,
Não fale das malfadadas:
Porque as filhas da desgraça
Também nasceram honradas!

Das filhas da desventura
Devemos ter compaixão:
São mulheres como as demais,
Filhas de Eva e de Adão.

Debaixo do frio chão,
Onde o sol não tem entrada,
Abre-se uma sepultura,
Finda o fado à desgraçada!

E Deus, que tudo perdoa,
E a Virgem Nossa Senhora,
Hão-de ouvir a alma que implora
Salvação à pecadora!

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Fadinho do Cego   [GCAD Vol II – pg 700]  (Recolha e Arranjo: Altino M Cardoso)

OBS – Estrutura harmónica deste fado:

– na primeira parte (em tom MAIOR) narram-se factos tristes ou românticos da vida (amores, maldição, má sina, desgraças, etc.);

– a segunda parte (no tom relativo menor) expõe e aprofunda o lamento até ao fim.

Outros fados, radicalizam a desgraça desde o primeiro compasso –sempre em tom menor. Há exemplos neste livro. (GCAD- Vol II)

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Cânticos Religiosos Antigos

GCAD_MÚSICAS RELIGIOSAS antigas

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Músicas religiosas antigas

GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO – VOL II

O volume II do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO regista espécimes de canções religiosas antigas, datáveis do início do séc. XX, ou mesmo do séc XIX.

Destacam-se as cantadas na Missa (sobretudo no intróito, ofertório e comunhão), ao coração de Jesus e Maria, nas procissões, as dedicadas ao Natal e Reis, aos Santos (S. Pedro, St António, S José, S João…), e, sobretudo, a Nossa Senhora: NS da Conceição, da Assunção, da Paz, do Socorro, da Serra…

As dedicadas ao Natal e aos Reis (Janeiras) estão seleccionadas neste site em item próprio.

Como acontece com a Memória de toda a Música e Poética tradicional, estas canções, de autoria anónima e secular, vêm sendo bastante esquecidas pelas novas gerações, que têm à disposição novos meios de comunicação, quer de temas, quer de autores.

Pena é que a crescente materialização esteja a poluir algumas das poderosas vivências espirituais provenientes da própria Raiz da alma humana.

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EXEMPLOS:

Amado Jesus, José e Maria       (GCAD vol II pg1071) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

Amado Jesus, José e Maria, Meu coração Vos dou e a alma minha.
CORO: Amado Jesus, José e Maria…….
…….. Meu coração Vos dou e a alma minha.
…….. Assisti-me na última agonia.
…….. Expire em paz entre vós a alma minha.
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NOTA – Oração de Boa Morte

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Bendito Sejais   (GCAD vol II pg 1075) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

1.Bendito sejais, Jesus, meu amor,
Meu Pai e meu Senhor – Bendito sejais!
2.Ó meu bom Jesus, que no Céu reinais,
Os anjos Vos louvem – Bendito sejais!
3.Ó meu bom Jesus, que também estais
Connosco na terra – Bendito sejais!
4.És como bom Pai, por nós sempre olhai,
Com todo o desvelo – Bendito sejais!
5.Como bom pastor, Vós nos procurais
Quando Vos fugimos – Bendito sejais!
6.Vossa mesma Carne a comer nos dais
E a beber o Sangue – Bendito sejais!

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Louvado Seja   (GCAD vol II pg 1092) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

Louvado, louvado seja
Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado
E Sua Mãe Maria Santíssima!
NOTA: Esta fórmula de louvor a Deus era muito usada em certas ocasiões, por exemplo: 1.como palavras de saudação e respeito ao chegar junto de um grupo importante; 2. como palavras de agradecimento dos homens (e mulheres) ao despegarem do trabalho ao fim do dia e despedirem-se para regressarem a suas casas.

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Ó Senhor, Eu Não Sou Digno    (GCAD vol II pg 1100) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

Ó Senhor, eu não sou digno
De que entreis nesta mansão…
Mas dizei uma palavra
E sarai meu coração. (3 vezes)
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NOTA – Canto preparatório da Comunhão

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Ó Anjos Cantai Comigo    (GCAD vol II pg 1096) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

1.Ó anjos cantai comigo, Ó anjos louvai sem fim,
Dar graças eu não consigo, Ó anjos dai-as por mim.
2.Canta serena minha alma, Bela jóia em ti reluz,
Já colheste a rica palma, Já desceu a ti Jesus.
3.Ó Jesus, que amor tão terno, Ó Jesus, que amor é o teu:
Deixas o trono superno Vens fazer da terra céu!
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NOTA – Cântico após a Comunhão 
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Perdoa a Teu Povo, Senhor   (GCAD vol II pg 1103) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

Perdoa a Teu povo, Senhor!
Perdoa a Teu povo,
perdoa-lhe, Senhor! (bis)
‘Starás eternamente irritado?
Oh! Não! o Teu amor
Ouve o brado
Da nossa grande dor! (bis)
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NOTA – Canto de Penitência quaresmal.

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No Céu a Irei Ver    (GCAD vol II pg 1095) [Recolha e harmon Altino M Cardoso]

1.No céu a irei ver
No céu, que feliz dia!
Sim, irei ver Maria
Meu bem e meu prazer.
Refrão:
No céu, no céu, no céu,
Um dia a irei ver,
No céu, no céu, no céu,
Um dia a irei ver! (bis)
2.No céu a irei ver
A imortal Rainha,
E o afecto da alma minha
Pra sempre lhe dizer.
3.No fim de meu viver,
Ao meu juiz levado,
Terei Maria ao lado
E não hei-de temer.

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GCAD_Cantigas da VINHA A

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O GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO comporta três volumes (1.920 páginas), com uma recolha de 1.150 canções tradicionais do Alto Douro Vinhateiro, recolhidas pelo autor (Altino Moreira Cardoso) em quintas com epicentro em Godim e Loureiro, no concelho do Peso da Régua, donde é natural.

Naturalmente, a maior parte dessas canções tem como temática as vindimas, em que participava sazonalmente uma mão-de-obra (homens, mulheres e rapazes das cestas) rogada nos arredores serranos.

 

 

A grande quantidade de cantigas da vinha (várias centenas) motiva neste website uma amostragem privilegiada, distribuída por quatro grupos.

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EXEMPLOS

A pomba caíu ao mar (GCAD I, 56) [Recolha e harm AMC]

A pomba caíu ó mar,
Ai, a pomba ó mar caíu…
nos braços do meu amor
agarrei a pomba
e ela me fugiu…
A pomba caíu ó mar
A pomba caíu ó rio…
nos braços do meu amor
agarrei a pomba
a morrer de frio…

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A madrugada lá vem… (GCAD I, 50) [Recolha e harm AMC]

A madrugada lá bem, lá bem,
Atrás da serra, toda contente,
Bem dar abraços, bem dar beijinhos,
Faze carinhos a toda a gente.
Ó ai, stá o céu ineboado
mas ai, stá pra chober e num chobe
Ó ai, stá o meu amor doente,
Mas ai, stá pra morrer e num morre.
Ó ai, é um regalo na bida
Mas ai, ó pé da auga morare
Ó ai, quem tem sede bai bubere
Mas ai, quem tem calma bai nadare.
Ó ai, a rosa pra ser bonita,
Tem de ser d’Alexandria;
A mulher, pra ser formosa,
Tem de se chamar Maria!
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As ondas do mar são brancas (GCAD I, 106) [Recolha e harm AMC]

As ondas do mar são brancas,
no meio são amarelas…
coitadinho de quem nasce
pra morrer no meio delas!…

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Chamaste-me trigueirinha (GCAD I, 135) [Recolha e harm AMC]

Chamaste-me trigueirinha
isto é do pó da eira;
hádes-me ber ó domingo
como a rosa na roseira.
Refrão
Lá na minha terra
já num há quem queira
namorar comigo
à sigunda feira;
à sigunda feira
ó domingo à tarde,
ó bocê num quer
ó num tem bontade.
Num há roixo como ó lírio
nem berde como a ortiga:
gosto de ti meu amore
entes que alguém te diga.
Deitei o crabo à auga,
fechado saíu aberto
esses teus braços menina
são linhas com que me aperto.

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Deita a barca ao rio (GCAD I, 168) [Recolha e harm AMC]

Eu venho dali, dali,
Eu venho dali, d’além;
Dobaixo da laranjeira,
Tanta laranja lá tem…
Tanta laranja lá tem,
Tanta folhinha amarela
Dobaixo da laranjeira
Enganei uma donzela.
Enganei uma donzela,
Enganei o meu amor,
Dobaixo da laranjeira,
Faz sombra, não faz calor.
Faz sombra, não faz calor,
Não le cai a orvalhada;
Dobaixo da laranjeira,
Enganei a minha amada.

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Adelaidinha (GCAD I, 55) [Recolha e harm AMC]

Adelaide, Adelaidinha,
quem te há-de levar à cova? (bis)
quatro rapazes solteiros,
que eu sou rapariga nova. (bis)
Eu sou rapariga nova
e sou bem arranjadinha:
sapato à inguelesa,
saia branca à Adelaidinha!
Ó rapaz, cantas tom bem,
não podes cantar milhor!
À hora do meio-dia
fizestes parar o Sol!…

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Adeus, ó Laurinda (GCAD I, 65) [Recolha e harm AMC]

Oh ! quem me dera um valverde,
Ond’a água sobe e desce!
Oh ! quem me dera um amor,
Onde ninguém no soubesse!
Refrão:
Adeus, ó Laurinda,
Ó Laurinda, adeus, adeus!
Adeus, ó Laurinda,
Os teus olhos já são meus.
Os teus olhos, ó Laurinda,
São verdes, côr de limão ;
Quero-te tanto, ó Laurinda,
Trago-te no coração!

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Agora é que pinta o bago 2 (GCAD I, 70) [Recolha e harm AMC]

Agora é que pinta o bago
ai agora é que ando ó pintore;
agora é que eu bou falare
ai deberas ao meu amore.

Trai lai lai lai lai lai
Trai lai lai lai lai lai
Trai lai lai lai lai lai
Trai lai lai lai lai lai.

Outra versão:

Ai, agora é que pinta o bago
ai agora é que ando ó pintore
ai agora é que eu bou falare
ai deberas ó meu amore.

Colheram-se as ubas
já estão no lagare
arrumem os cestos
nós bamos bailare!

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Dançar a rabela (GCAD I, 163) [Recolha e harm AMC]

Avó, minha rica avó,
ai, venha dançar a rabela
que os moços inda não sabem
e eu quero aprendê-la.
Ó ai, olé, ó ai, olarilólé!
Ó moços de todo Doiro,
ai, na vindima lá da quinta
eu a dançar a rabela…
valia por vinte ou trinta!
Ó ai, olé, ó ai, olarilólé!

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Assenta-te aqui, António (GCAD I, 109) [Recolha e harm AMC]

Assenta-te aqui, António,
na mesa do meu tear,
enche-me aqui as canelas,(*)
o mundo deixa-o falar!
Refrão:
Pois agora é que é!
Pois agora é que não é!
Pois agora é que é
que a menina bate o pé!
Se o meu amor fosse António,
mandava-o envidraçar:
assim, como é Manele,
hei-de mandá-lo dourar!
O meu amor é António,
sobrenome não no sei:
inda há pouco que o amo,
inda num le praguntei!
António, lindo António,
espelho de me vestir…
quem tem um amor António,
vai ò céu e torna a vir!…

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Coradinha, olá  (G C A D, vol I, 156)  [Recolha e harm AMC]

– Coradinha, olá, olá!
coradinha, olá, limão!
dá-me cá esses teus braços,
darei-te o meu coração!
Refrão:
Fala-me, rosa, a mim sozinha,
v’rás como ficas coradinha!
– Darei-te o meu coração
e a chave pró abrir:
não tenho mais que te dar,
nem tu mais que me pedir!

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Caridinha  (G C A D, vol I, 130)  [Recolha e harm AMC]

Caridinha, meu amor, caridinha,
Caridinha, meu amor, caridosa… (bis)
hei-de amar a caridinha,
oh, cara tão linda!
oh, botão de rosa! (bis)
REFRÃO
Eu amo todo o teu sere
toda a tua branquidão,
e ainda mais os teus olhos
que tão fagueirinhos são…
quando olho para eles
ficam-me no coração!
Ó rosa, quando te abrires,
abre-te na minha mão,
porque, se abrires na mão d’oitro,
ó serás minha ó não!…
Hei-de te pôr no meu peito
fechada no coração!

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Cigano lindo  (G C A D, vol I, 151)  [Recolha e harm AMC]

Cigano, lindo cigano,
cigano lindo, meu bem,
lá vai o cigano preso
sem roubar nada a ninguém!
Sem roubar nada a ninguém,
sem roubar coisa nenhuma:
foi por achar uma corda,
na ponta tinha uma mula.
Na ponta tinha uma mula,
a mula puxava o trem:
lá vai o cigano preso
sem roubar nada a ninguém!
1980

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Boa tarde, Mariquinhas  (G C A D, vol I, 115)  [Recolha e harm AMC]

ELE
– Ai, Boua tarde, Mariquinhas,
ai, como é que tu tens passado? (bis)
ai, por causa de te num bere
ai, tanho tanta saudade! (bis)
ELA
– Ai, Boua tarde, Manuele, (bis)
ai, como bais tu de saúde?
ai, por causa de te num bere, (bis)
ai, já quis chorar e num pude!

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A cruita da macieira (GCAD II, 1121) [Recolha e harm AMC]

A cruita da macieira
rachada aos cavaquinhos
acudam aos namorados
que se matam aos beijinhos!
Que se matam aos beijinhos,
que se matam aos abraços…
a cruita da macieira
é rachadinha aos pedaços.
A cruita da macieira
cortada de nó em nó,
assim já era dançada
no tempo da minha avó.
A cruita da macieira
deitada no lume, estala:
assim faz o meu amor
passa por mim, não me fala.
Olha o ladrão do melro,
onde foi fazer o ninho:
na cruita da macieira,
no mais alto ramalhinho!
REFRÃO:
Ai, não é assim, ai assim, assim não é,
ai não é assim que a menina bate o pé.

_______ OBSERVAÇÃO:

A macieira está biblicamente ligada à tentação de experimentar o fruto proibido de Adão e Eva.
É aqui poeticamente associada à dança dos tempos antigos e sua função de proporcionar comunitariamente o encontro amoroso.
O regionalismo «cruita» (de cocuruto=vértice, ponto mais alto) exprime a conotação de vigilância e coscuvilhice, que o melro (pássaro de bico amarelo, popularmente malandreco…) explora e assume.
Ver o Capítulo Simbologias no 1º volume do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO.

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