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GCAD_CANÇÕES INFANTIS
[NOTA: Além das canções de berço e infantis, os livros abaixo citados incluem canções para todas as idades, embora aí não especificadas.]
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As canções infantis (como todas as outras cantigas populares tradicinais) têm uma origem anónima e secular e fazem parte do universo vivencial e social das gerações pré-rádios e televisões. que, desde a difusão da energia eléctrica, vieram globalizar e controlar as canções, tornando-as descaracterizadas e enlatadas, para consumo volátil.
As nossas recolhas de músicas tradicionais estão publicadas em vários livros, com pautas, letras (com tons de acompanhamento), de que destacam:
- Algumas pautas e letras no livro CANÇÕES PARA TODS AS ESCOLAS (1978) [Site]
- Algumas pautas e letras no livro CANÇÕES INESQUECÍVEIS LUSO-EUROPEIAS (2ª ed. 2017) [Site]
- Algumas pautas e letras no vol I do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO (I-2006/II-2007/III-2009) [Site]
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EXEMPLOS
Moda da Rita (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 147) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
MODA DA RITA
Esta é que era a moda
que a Rita cantava,
Lá na Praia Nova,
olaré,
ninguém lhe ganhava!
Ninguém lhe ganhava,
ninguém lhe ganhou!
Esta é que era a moda
olaré,
que a Rita cantou!
Esta é que era a moda
que a Rita cantou.
Lá na Praia Nova,
olaré,
ninguém lhe ganhou!
Nota:
Observam-se importantes linhas sequenciais a partir do galego-português medieval da época da Fundação de Portugal:
É visível a estrutura paralelística formal da cantiga: a alternância vocálica da rima áspera (a//ó), o refrão e a repetição do mesmo conteúdo semântico.
O número par de estrofes dá lugar a uma ‘finda’ (a terceira estrofe), alicerçada na estrutura-base: ‘cantar/ ganhar’.
Outros aspectos a ter em conta: por um lado, a presença tradicional do mar galaico-português; por outro, o canto de tenção desafiadora e competitiva da Rita, que se situa nos parâmetros mais radicais da iniciativa amorosa feminina das próprias cantigas de amigo medievais.
Ainda é implicitamente visível o exibicionismo do corpo na praia.
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Laranjinha (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 136) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
LARANJINHA
Olha a laranjinha
foi do chão ao ar,
o meu amorzinho
não veio ao jantar.
Não veio jantar,
não veio ao almoço
olha a laranjinha
foi do chão ao poço.
Podem improvisar-se outras quadras, de temática aleatória, conservando-se a estrutura poética paralelística medieval: o ‘leixa-pren’, a alternância vocálica e o número par de estrofes popular original:
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Pombinhas da Catrina (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 182) [Rec e Harm Altino M Cardoso]
POMBINHAS DA CATRINA
As pombinhas da Cat’rina
andaram de mão em mão, (bis)
foram ter à Quinta Nova
ao pombal de S. João. (bis)
Ao pombal de S. João,
à Quinta da Roseirinha
minha mãe mandou-me à fonte
e eu quebrei a cantarinha.
– Ó minha mãe não me bata
que eu inda sou pequenina!
– Não te bato porque achaste
as pombinhas da Catrina.
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Parte, parte, ó pescador (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 191) [Rec e Harm Altino M Cardoso]
PARTE, PARTE, Ó PESCADOR
1. Parte, parte, ó pescador
vai à pesca da sardinha (bis)
louvado seja o Senhor,
que guia a tua barquinha! (bis)
2. As ondas do mar são brancas
no meio são amarelas
coitadinho de quem nasce
p’ra morrer no meio delas!
NOTA- O mar sempre presente nas tradições populares. E a sardinha, um peixe bem típico e especial da mitologia portuguesa, herdada do paganismo e (re)ligada aos santos populares.
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Ribeira vai cheia (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 197) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
RIBEIRA VAI CHEIA
Ribeira vai cheia
e o barco não anda,
tenho o meu amor
lá naquela banda.
Lá naquela banda
lá naquele lado
– ribeira vai cheia
e o barco parado….
NOTA: Conservando a tradição da iniciativa feminina e animista medieval do galego-português, a natureza é concebida como prolongamento (aqui é obstáculo e não confidente ou adjuvante) do anseio da rapariga que vai ao encontro do seu amor.
E o barco e o rio nunca serão suficientemente rápidos para o seu desejo de encontrar o seu amor, à espera “lá naquela banda”…
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O senhor do meio (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 208) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
O SENHOR DO MEIO
O senhor do meio
julga que é alguém:
é um rapazinho
que nem barba tem!
O senhor do meio
ande ligeirinho
se não quer ficar
no meio sozinho.
NOTA: Visível na dança o despertar da mulher, das bonecas para o instinto de procriação, já com consciência biológica do seu poder sobre os rapazes, quando amadurecerem. Mas considerá-los ‘verdes’ pode incluir-se no provérbio quem desdenha qur comprar”.
Atenção também à iniciativa feminina, herdada das cantigas populares ‘de amigo’.
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Senhora Dona Anica (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 209) [Rec e Harm Altino M Cardoso]
SENHORA DONA ANICA
Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim:
– Venha ver as lavadeiras
a fazer assim… assim… (lavar roupa)
as costureiras (coser)
os jardineiros (sachar)
os sapateiros (bater pregos ou engraxar)
os carpinteiros (serrar, aplainar, etc.)
as cozinheiras (mexer o cozinhado)
etc., etc.
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NOTA: Nesta cantiga, as crianças imitam, ou mimam, várias profissões ou actividades, algumas das quais se foram perdendo. É útil às crianças de agora, que dificilmente podem presenciar ao vivo os trabalhos que deram origem por ex. às mesas, às grades, às roupas, ao calçado…
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Vira-te pra mim, ó Rosa (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 215) [Rec e Harm Altino M Cardoso]
VIRA-TE PRA MIM, Ó ROSA
Vira-te p’ra mim, ó Rosa,
que o cravo já ‘stá virado.*
É um brio dos rapazes
andar de chapéu ao lado.
*NOTA: Trata-se de uma cantiga de apelo e sedução, muito camuflada metaforicamente: a rosa é símbolo da mulher (rosa vermelha = mulher virgem) e cravo símbolo do homem (sempre apontado).
Na dança, mista, há um diálogo, atrevido por parte deles e subtil e irónico da parte delas – que no “chapéu ao lado”, identificam a crista do galo, sedutor insaciável (“o cravo já está virado”), mas ‘polígamo’ por natureza.
Na notação musical, as colcheias com um ponto marcam precisamente os avanços, ou ‘bicadas’, dos ‘galos’.
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Voltinhas do Marão (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 220) [Rec e Harm Altino M Cardoso]
VOLTINHAS DO MARÃO
Quem me rouba,
quem me rouba,
quem me rouba
é ladrão! (bis)
Ai! ai! ai!
Inda ontem fui roubada
Ai! ai! ai!
Nas voltinhas do Marão! (bis)
Lá, lá, lá, lá, lá,
lá, lá, lá, lá, lá! (bis)
Nas voltinhas do Marão . . .
olha as voltas que eu fui dar!
Ai! ai! ai!
Arrisquei a minha vida
Ai! ai! ai!
Para contigo casar!
Lá, lá, lá, lá, lá,
lá, lá, lá, lá, lá!
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Zé dos Nabos (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 223) [Rec e Harm Altino M Cardoso]
ZÉ DOS NABOS
O meu pai é Zé dos Nabos,(bis)
Minha mãe Ana Nabiça.
O meu tio é Zé do Grelo, (bis)
Minha avó só gostava de hortaliça.
O meu pai é Manuel Cuco,
Minha mãe, Cuca Maria;
Meus irmãos também são cucos,
Lá em casa tudo é cuco,
tudo é uma cucaria.
O meu pai é farmacêutico,
Passa a vida a fazer pírulas.
Eu quando preciso delas
Vou à gaveta e ‘tiro-las’.
O Zé beijou a Maria,
Mas a mãe viu-os beijar.
Foi contar logo ao marido,
E o pai obrigou-os a casar.
O meu pai é farmacêutico
Passa a vida a fazer pírulas
E eu quando preciso delas
Vou à gaveta e tiro-las.
OBS – É praticamente infinita a variedade de quadras (também improvisadas e em grupo) que se podem juntar a esta melodia.
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