GCAD_RIMANCES DE CEGO

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GCAD-Vol II

RIMANCES DE CORDEL E DE CEGO

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Os rimances de cordel ou de cego eram narrativas em verso de carácter fatalista e trágico (assassinatos, pessoas “aleijadinhas”, filhos que matam os pais, mulheres enganadas, desonradas… (e tantos outros episódios anormais, raros e sensacionais)

Os rimances de cego circulavam pelas feiras e romarias de tempos ainda não totalmente extintos… – ultimamente acompanhadas de distribuição de folhetos com a letra, para recolha de dádivas dos comovidos ouvintes circundantes.

Também o fado se prestava a estas manifestações de tragédia e angústia solidária e libertadora: “fado da desgraçadinha”, por ex. . As tabernas foram secularmente espaços de transmissão de cultura, quer  e informativa, quer literária, musical e cénica (teatro elementar, exibicionismos vários) frequentados por pessoas sem acesso aos salões da aristocracia, sucessores dos selectíssimos espaços cortesãos.

Será ainda de citar que a Grécia Antiga (donde derivou toda a Cultura Ocidental)  nos 4 dias de jogos, alternava os Jogos atléticos (Olímpicos e outros) com uma trilogia de tragédias, para amaciar a opinião pública das crueldades das constantes guerras (por ex. entre Atenas, Esparta, os Persas, etc.) com uma comédia no último dia. As almas saíam purificadas, purgadas das paixões irracionais através da descarga patológica da catarse e o triunfo das acções nobres. Todos os atenienses eram obrigados a sujeitarem-se a esta pedagogia cultural, cívica e, até, religiosa.

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EXEMPLOS

DONA ISAURA [GCAD VOL II P 1043]  (Harm Altino M Cardoso)

Estando a Dona Isaura na janela debruçada (bis)

passou lá um rapazote: – Adeus, minha namorada (bis).

Isaura foi pró quintale e o malvado foi trás dela (bis), botou-lhe as mãos à cintura, logo ali fez pouco dela.

Sua mãe alevantou-se, foi saber da sua filha; encontrou-a no quintale, a chorar a triste vida.

– Vá-se embora, minha mãe, não tem cá nada a fazere, em parando minhas mágoas à porta le irei batere. Eram as três da manhã, Isaura à porta a batere:

– Entra, entra, ó minha filha, filha do meu coração, entra pelo corredore, vai a teu pai pedir perdão.

– Perdoa, meu pai, perdoa, tenha dó da desgraçada; tenho uma criança nos braços, do amante abandonada.

Do amante abandonada e da família aborrecida; meu pai, eu vou prá viela, na viela há mais na vida;

vou ganhar muito dinheiro, o meu corpo bem no sente,  Eu vou para a taberna, na taberna há mais gente, vou ganhar muito dinheiro ao balcão duma taberna!

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VAI-SE LER UMA QUADRA [GCAD VOL II – p 1054]  (Harm Altino M Cardoso)

Bai-se a ler uma quadra, Todos podem reparare (bis)

Que beu fazer aquele homem Do Brasil a Portugale: (bis)

Há quatro anos que estaba Da sua mulher ausente,

Uma noite tebe um sonho Que ela tinha um amente.

Ele aquerditou no sonho, Num tornou a trabalhari,

Tratou de arranjar passaije Pra Portugal e imbarcari.

Era meia-noite im ponto, À porta da infeliz bateu:

Deitadinha no seu leito Seu marido conheceu.

Taba deitada na cama Ela e mais uma menina:

Era filha duma irmã E dela era sobrinha.

Talhou-le penas e braços, Arrincou-le o coração,

Tirou-le nariz e olhos Na maior afelição!*

* Rimance com enredo na linha do de S. Macário (S Pedro do Sul)

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ABANDONEI O MEU LAR [GCAD VOL II – p 1040]  (Harm Altino M Cardoso)

Abandonei o meu lar Com toda a dedicação, (bis)

Fui prá guerra batalhar Meu corpo crucificar Em honra duma nação.(bis)

Quando andava na guerra, Andei por tão maus caminhos! Onde meus olhos perdi E com eles nunca vi O rosto dos meus filhinhos!

Vim prá terra imparado Por um camarada meu Que na guerra foi soldado E combateu a meu lado, Comigo tudo sofreu.

Pensando no meu destino, Essas mágoas me consomem, Ouvi dizer aos vizinhos Que a mãe dos meus filhinhos Vivia com outro homem!

Acabou a grande guerra, Fiquei todo satisfeito: Voltei para a minha terra Para a casinha da serra Mas sem medalhas no peito!…

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