"A Bíblia Cultural do Alto Douro" - Dr Manuel Silva Marques (Homo Duriense e Fundador do CICDAD-Círculo de Cultura e Desenvolvimento do Alto Douro)
Volume II
TUNAS RURAIS – NATAL.REIS.EMBALAR – RIMANCES – CANTARES RELIGIOSOS – CANTARES DE TRABALHO – CANTARES DO DESAFIO
Introdução Geral a este volume
O DOURO FOI SEMPRE uma terra mimosa, de vinha, campos, fruta e cantigas.
Nas quintas cantava-se muito: no arranjo da casa, nos lagares, nos armazéns, na cozinha, nos campos, nas vinhas e, também, pelos caminhos.
Nas Festas e Arraiais do coração da Região (Socorro, na Régua e Remédios, em Lamego) marcavam presença todos os artistas populares das redondezas, com as suas concertinas, harmónicos, gaitas de beiços, bandolins, cavaquinhos, clarinetes e violinos, acompanhados ao violão, ferrinhos e bombo.
Mas eram as Vindimas que enchiam os céus com as infinitas revoadas de cantigas que, como andorinhas de Setembro, eram trazidas pelas «rogas de cardanheiros» do Montemuro e serras do Douro-Sul (Resende, Cinfães, Castro Daire…), dos contrafortes do Marão e serranias ao Norte e, até, da Galiza… pelo que o nosso Cancioneiro é dos mais ricos de todo o País.
Hoje, nas vindimas já não se canta! As modinhas antigas estão a perder-se irremediavelmente! As vindimas são feitas por ‘robots’, com articulações programadas e eficientes, mas sem Alma. Com a entrega das uvas às cooperativas e a mecanização, a vinha perdeu para sempre o seu Génio artesanal e mítico de Festa e as máquinas trituraram a Poesia do Homem do Douro.
Desapareceram as pousas e a presença da sua música, que adocicava e sacralizava o mosto do nosso Vinho Fino.
Há o dever moral e intelectual de defender e promover o que é Património nosso, de raiz que ninguém poderá arrancar: o seu Rio, as suas filigranas de bardos, a sua Gastronomia, a sua Música (e Poesia) tradicional, em grande parte herdadas de Santiago de Compostela nos primórdios de D. Afonso Henriques.
O Vinho… além de ser actualmente combatido pelas multinacionais como uma maldição alcoólica… já a globalização o copia em várias outras regiões do Mundo, com a bênção da Europa.
Mas a Cultura não está dependente do Espaço nem do Tempo – é eterna.
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A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa promoveu na Sede, em 13 de Dezembro último, a apresentação multimédia do segundo volume do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, do associado Altino Moreira Cardoso, violinista do antigo Grupo de Cantares da CTMAD.
Além de muitas e variadas músicas tradicionais, foram projectadas belas fotos do Douro e importantes dados histórico-literários.
Às cantigas da Vinha do primeiro volume juntam-se agora músicas instrumentais de Tuna, de Natal, de Reis, de Embalar, Rimances (a maior parte medievais), cantigas do Trabalho, Religiosas, Desgarradas (cantigas ao desafio)…
Trata-se de um projecto apaixonante, erguido em largos anos, com cerca de 1150 músicas, letras e um grande estudo histórico-literário, em 3 grossos volumes, cada um com 640 páginas.
Do Volume III, a sair brevemente [saíu em 2009], constará uma análise histórico e literária dos poemas mais valiosos das nossas cantigas, nomeadamente o enquadramento dos vestígios das Cantigas Populares de Amigo medievais nas circunstâncias históricas que, quase providencialmente, ligaram a fundação de Portugal ao Conde D. Henrique (natural da Borgonha e primo de São Bernardo, o implantador de Cister no vale do Varosa e depois em Alcobaça) e a Egas Moniz, senhor destas terras, em cuja Casa, em Britiande (Lamego), foi criado D. Afonso Henriques (órfão aos 3 anos) e seu filho D. Sancho I.
Acresce ainda que nessa mesma altura foi erigida a Catedral de Santiago de Compostela, cuja força militar está sobejamente documentada na ajuda a Portugal e, culturalmente, na difusão das belíssimas Cantigas do galego-português estudadas nas nossas Escolas – que ainda hoje mantêm vestígios flagrantes de continuidade em muitas letras das nossas cantigas populares, como este Grande Cancioneiro demonstra de modo muito claro.
A presença da Borgonha significa que as melhores castas, tecnologias vitivinícolas e organização empresarial (‘boa cepa’, a Borgonha) vieram com S Bernardo e a Ordem de Cister para o Douro de Egas Moniz, já no século XII.
Os ‘vinhos de Lamego’ precederam a saga dos ‘vinhos do Porto’, antes da demarcação da Região, logo que a excelente e abundante produção do vale do Varosa começou a ser comercializada e exportada, através da barra do Douro. Centenas ou milhares de pipas, ainda na Idade Média.
Torna-se evidente que os mosteiros e empresas cistercienses do eixo Lamego-Tarouca assumem um estatuto cultural, económico e patriótico ímpar na História, na Economia, na Gestão do novo Reino e na Cultura de Portugal.
Ainda hoje o espumante Murganheira conserva no seu logotipo a nobre Flor-de-lis do Conde D. Henrique e dos Duques de Borgonha e Reis de França.
Na nossa Terra existe uma Cultura de grande profundidade histórica, em todos os aspectos da actividade humana; e o nosso Douro não é só o vinho, das vinhas saibradas pelos galegos, mas também as suas e nossas belas e milenares cantigas tradicionais.
Divulgar o que é nosso é um Dever de pessoas de cultura e comunicação.
Este volume contém pautas de músicas religiosas tradicionais, músicas instrumentais de Tunas rurais (marchas, valsas…) e ainda uma colecção de cento e dez Rimances completos (letras e músicas), o que constitui a maior colecção integral a nível nacional.
Contém ainda uma boa recolha de Desgarradas, em que não faltam vários esquemas fixos de acompanhamento ainda existentes na Beira-Douro, donde era originária a maioria das rogas fornecedoras de mão-de-obra nas vindimas durienses.
O trabalho visa preservar uma amostragem da enorme e secular riqueza musical – tocada e cantada – da Região Duriense, onde convergia a mão-de-obra de todas as zonas serranas periféricas e, ainda da Galiza.
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* Os RIMANCES já estão registados na DIRECÇÃO GARAL DO PETRIMÓNIO CULTURAL, por iniciativa da Universidade do Algarve.
** Ver também:
SUB Hamburg A/574342 – GBV
https://www.gbv.de/dms/sub-hamburg/687907675.pdf · Ficheiro PDF
Altino Moreira Cardoso RIMANCEIRO DO ALTO DOURO ÍNDICE Introdução 5 Estudo histórico, literário e musical do rimanceiro do Alto Douro 11 A CONTINUIDADE DOS RIMANCES 17 …
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SOBRE AS TUNAS – OBSERVAÇÃO NOSSA:
As Tunas apresentam repertórios muito menores e menos valiosos histórica e culturalmente do que as antiquíssimas cantigas dos campos e das vindimas do Douro Vinhateiro – que dão continuidade à lírica popular medieval do galego-português de Santiago e da criação do País. (ver, neste site, vários exemplos, anotados)
Seria um erro grosseiro a vários níveis que a parte instrumental que representam não fosse acoplada às restantes manifestações poético-musicais da Região.
As ofertas de trabalho nas vinhas do Alto Douro atraíam e concentravam todas as manifestações de arte das serras circundantes, além de numerosas vagas de Galegos. Nos contextos actuais não há diferença de esforço entre as tunas e tocatas dos Ranchos Folclóricos Durienses de hoje e as Tunas do Marão, ou das outras cercanias serranas (Montemuro, Castro Daire…).
Não é possível estabelecer uma certidão de nascimento para quaisquer dessas músicas (de Tunas e de outras): mas documentam-se, sim, as ligações de conteúdo e forma literária de muitas cantigas tradicionais às raízes galego-portuguesas do início da Nacionalidade, ainda hoje estudadas nas Escolas.
Nas canções tradicionais encontramos a continuidade histórico-cutural desde o galego-português (cantigas de amigo, amor e maldizer), o trabalho e as estações do ano, os provérbios, a vida doméstica e social, a religião (a oficial católica e a popular), os rimances (alguns ligados a Carlos Magno – séc IX !), os lazeres dos bailes e das festas e romarias, os serões… e, até, os maldizeres…
O Património Imaterial do Douro nunca poderá deixar de integrar, com as Tunas, as Narrativas, os Rimances, as Chulas, as Desgarradas, as Cantigas da Vinha, os Cantares religiosos… etc. etc.
(Ver noGRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, publicado em 2006, 2007 e 2009 – 3 volumes, 1.150 músicas, 1.920pgs.)
"A Bíblia Cultural do Alto Douro" - Dr Manuel Silva Marques (Homo Duriense e Fundador do CICDAD-Círculo de Cultura e Desenvolvimento do Alto Douro)
Volume III
Contexto histórico, duriense, poético, musical e europeu
Este volume contém todas as noções históricas, poéticas, musicais, folclóricas, sociológicas, etc. que explicam e coroam os conteúdos e contextos poético-musicais dos primeiros dois volumes.
Além das referências à influência galego-portuguesa das origens compostelanas, faz o enquadramento destas artes com a Fundação do País no séc. XII, situando no Douro (Britiande e Cambres – Lamego) D. Afonso Henriques, com Egas Moniz e os quatro (!) conventos da Ordem de Cister (de Borgonha) aí fundados para apoio sócio-económico, social e religioso à expansão da cruzada para sul do primeiro rei da nossa dinastia de Borgonha.
Os conventos trouxeram a vinha de Borgonha. O vinho fino (do Porto) provém do vinho licoroso de missa solene cisterciense.
RECUPERAR A ‘ARCA PERDIDA’
Este terceiro volume é uma cúpula: dá maior profundidade aos dados de
enquadramento histórico e remata aspectos do conteúdo poético-musical do primeiro e
segundo volumes do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO. O texto de carácter
histórico-literário e musical que introduz o primeiro volume e as resumidas observações
culturais que acompanham muitas cantigas têm aqui um acabamento mais panorâmico
e sistematizado.
Assim, as quase 1200 cantigas, aí apresentadas de forma sincrónica, têm agora
uma visão diacrónica e abrangente, que situará o Alto Douro não só nas suas origens
musicais, etnográficas e poéticas, mas também políticas, culturais e históricas –
borgonhesa, compostelana, ibérica… além de românica.
Por isso, tem de ser pluridisciplinar esta panorâmica final:
– Para além das músicas e das letras, o cancioneiro pressupõe um mundo de
cultura e actividades, desde a dança aos instrumentos musicais, desde os trabalhos às
romarias, desde os rituais de sedução às crenças, desde a métrica à simbologia…
– Retrato ancestral e íntimo da alma do nosso Povo, as cantigas revelam
magicamente a esperançada ou angustiada Hora do homem do Douro – de algumas
alegrias e de muitos desesperos.
– Saber ‘ler’ em profundidade essa Hora é uma exigência cultural da nossa época,
em que a Epopeia duriense é reconhecida como Património da Humanidade.
Torna-se indispensável recordar Egas Moniz e os Pioneiros (ibéricos, galegos,
portucalenses, durienses, borgonheses…) à luz da história político-militar; recordar a
Ordem de Cister (“ora et labora”) à luz da religião, da cultura, da arquitectura e da
organização empresarial das quintas; recordar os cavadores, os lavradores e os artífices…
os sonhadores e os artistas… os poetas, pintores, pedreiros-escultores, músicos… que,
nos jacobeus, iam a Santiago de Compostela procurar o sentido e a força da Vida, que é
Espírito e Matéria.
O Alto Douro é um Projecto e uma Herança – de carácter nacional, ibérico e
europeu – que nós, durienses de hoje, nos honraremos de conhecer, preservar, partilhar
e difundir, numa permanente tentativa de recuperação da nossa ‘arca perdida’, da aliança
entre a Montanha e a Água, o Suor e a Poesia, a Música e o Vinho. Altino Moreira Cardoso
2012 – POESIA TRADICIONAL DURIENSE, COM D. SANCHO I, O PRIMEIRO TROVADOR
O autor comprova o pioneirismo do sucessor de D. Afonso Henriques – D. Sancho I – como poeta trovador, adoptando um ângulo de análise um pouco além do que geralmente se propõe na história da nossa Literatura.
É um estudo exaustivo da temática, formas e espécimes da poesia tradicional duriense, desde a época pré-nacional, compostelana e trovadoresca.
Aí são analisados os mais marcantes traços estilísticos dos cantares populares de amigo, nomeadamente o paralelismo (fónico, morfo-sintáctico e semântico), o leixa-pren, a adaptação à dança, o animismo, o ruralismo, etc.
É um tratado pioneiro, muito útil e elogiado multidisciplinarmente, pois engloba contextos poético-literários, musicais, históricos, sociológicos, religiosos….
O livro "50 CANTIGAS PARALELÍSTICAS DO ALTO DOURO" ,
[Separata do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO]
foi distribuído por todas as Câmaras do CIMDouro
e outras instituições municipais e culturais do Alto Douro
por iniciativa do autor, Altino M Cardoso.
Um incentivo especial de um epítome da Cultura actual trasmontano-duriense:
15-11-2022 Caro Amigo Dr Altino Cardoso: Obrigado pelo livro que me enviou há dias. Vejo que continua a sua cruzada em prol da música duriense e não posso deixar de incentivá-lo a prosseguir o seu trabalho em busca das raízes mais profundas da nossa identidade. Obrigado – parabéns – e continue! Abraço
OBSApresento os sons das cantigas em formato mp3. Para gerir o espaço, apenas apresento algumas partituras.
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À Horta | GCAD – Vol I – p. 48 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
À HORTA
1.Quando vou à horta,
quando vou e venho,
já me não importa
do amor que tenho! (bis)
Refrão I:
Do amor que tenho
já me não importa:
quando vou e venho,
quando vou prà horta. (bis)
2.O meu amorzinho
anda carrancudo
por lhe não falare
vezes amiúdo. (bis)
Refrão II:
Vezes amiúdo
não lhe hei-de falare:
se anda carrancudo,
deixá-lo andare! (bis)
(Recolha: Constantim e Pegarinhos, Agosto de 1959)
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PARTITURA – Arranjo: Altino M Cardoso
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NOTAS BREVES
Algumas características do paralelismo: Está presente a ruralidade e a confissão do amor colocada na iniciativa feminina da expressão poética. O sujeito poético narra, com graciosa ironia e satisfação (“já me não importa”) e certeza de felicidade mesmo (ou ainda mais) perante um arrufo do namorado… por querer que ela lhe fale “vezes amiúdo”. Formalmente: além do leixa-pren (múltiplo), jogo de palavras, dobre e mordobre. Em “andare” etc. transcreve-se a versão fónica silábica para a correspondência com as sílabas musicais.
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A minha saia velhinha (GCAD I, 52) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
A MINHA SAIA VELHINHA
Ela: Ai, num olhes para mim
Ai, num olhes tanto, tanto!
Ai, num olhes para mim,
Que eu num sou o teu incanto! (bis)
Refrão
A minha saia belhinha
Toda rotinha de tanto bailar
Agora tenho uma noba
Feita na moda pra istriar.
Ele: Ai num olhes para mim,
Ai num olhes, ó baidosa!
Ai, num olhes para mim,
Que num és nenhuma rosa!
Ela: Ai num olhes para mim,
Ai num olhes por fabore!
Ai num olhes para mim,
Que eu num sou o teu amore!
Ele: Ai num olhes para mim,
Ai co’ essa cara torta,
Ai num olhes para mim,
Bai bater a oitra porta!
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PAUTA – Arranjo: Altino M Cardoso
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A perdiz anda no monte – GCAD – Vol I – p. 53 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
A PERDIZ ANDA NO MONTE
1. A perdiz anda no monte,
O perdigão no valado. (bis)
A perdiz anda dizendo:
– «Anda cá meu namorado…»(bis)
2. Anda cá meu namorado,
Que estás nas bandas de além. (bis)
Anda cá dá-me um abraço,
Que eu te quero tanto bem. (bis)
3. Que eu te quero tanto bem,
Que eu te quero até morrer: (bis)
Até debaixo da terra,
Meu amor, podendo ser!… (bis)
NOTAS BREVES
Trata-se de uma cantiga de amigo, tendo como principais características:
Ruralidade – animismo (natureza animal: ela=perdiz – ele=perdigão). Simbolicamente, a perdiz está associada à beleza dos olhos femininos. Sublinhar o leixa-pren, a iniciativa confessional feminina. Valor do imperativo/súplica. Notável ainda que a garantia de um amor eterno associa a sugestão de paixão escatológica de perdição e de morte de amor: “até debaixo da terra…”
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Ai, ai, ai, minha machadinha – Recolha e harmonização de Altino M Cardoso
AI, AI, AI, MINHA MACHADINHA
Ai, ai, ai, minha machadinha! (bis)
Quem te pôs a mão, sabendo que és minha? (bis)
Sabendo que és minha também eu sou tua
Salta machadinha pró meio a rua.
No meio da rua não hei-de eu ficar,
Eu hei-de ir à roda escolher o meu par,
Escolher o meu par bem escolhidinho,
Salta machadinha deita-te ao caminho.
NOTAS BREVES
Apesar de esta belíssima cantiga (um diálogo ou tenção) ter estado sujeita a muitas modificações, creio que ainda será possível reconstituir a narrativa (talvez mesmo medieval) que lhe daria origem:
Numa dança de roda o namorado, apaixonado e ciumento, não deixa que a sua amada dance com mais ninguém. Como um outro rapaz insiste em requisitá-la, ele quer que ela saia da roda. As coisas azedam e depois das palavras duras loucas de ciúmes, o namorado ataca o rival com uma machada. Um episódio destes daria esse rimance de cego – como muitos outros que circulavam pelas feiras e romarias de tempos ainda não totalmente extintos… – ultimamente acompanhadas de distribuição de folhetos com a letra, para recolha de dádivas dos comovidos ouvintes circundantes.
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Aninhas – GCAD – Vol I – p. 92 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
ANINHAS
1.Ó Aninhas, ó Aninhas,
Ó Aninhas da varanda, (bis)
Se tens sono vai dormire,
Que o teu amor práqui anda… (bis)
2.Que o teu amor práqui anda
À espera de um beijo teu… (bis)
Dá-me ao menos um sorriso,
Porque o teu amor sou eu. (bis)
3.Porque o teu amor sou eu,
Anda cá minha amiguinha: (bis)
Anda dar-me muitos beijos,
Tu ainda hás-de ser minha! (bis)
4.Tu ainda hás-de ser minha
Vem pra mim, vem me abraçar: (bis)
Hei-de levar-te à igreja,
Para contigo casar! (bis)
Algumas características do paralelismo: Está presente nesta cantiga de amor (como em muitas outras deste GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO) a técnica medieval do leixa-pren até à última estrofe. A mesura social obriga, quando muito, ao namoro da janela, ou da varanda, para a rua. Um abraço (ou até um toque mais prolongado de mãos…)? só no casamento (pelo menos nas convenções sociais).
Como a iniciativa é masculina, trata-se de uma serenata, uma cantiga de amor e não de amigo. Mas também chama carinhosamente amiga (“amiguinha”) à namorada.
É de notar a mesura, uma das cacterísticas do trovadorismo de amor. A situação do namoro, ou escala amorosa, é de entendedor (já não de fenhedor nem precador). Também não será a de drudo (=amante), pois no amor galego-português não existe a situação de adultério.
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Aqui aqui aqui – GCAD – Vol I – p. 100 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
AQUI, AQUI, AQUI
Aqui, aqui, aqui,
aqui é que eu hei-de estare (bis)
toda a noite a dar paleio,
toda a noite a paleare… (bis)
Toda a noite a dar paleio,
toda a noite a palear, (bis)
toda a noite assentadinha,
toda a noite a namorar… (bis)
Toda a noite a namorar,
toda a noite a dar paleio, (bis)
é um regalo andar
com meu amor ao passeio! (bis)
Versão 2 – OUTRA LETRA
Aqui, aqui, aqui,
Aqui, agora, agora, (bis)
Aqui, neste recantinho,
É aqui que se namora. (bis)
Aqui, aqui, aqui,
Aqui é qu’eu hei-de estare, (bis)
Aqui, neste recantinho,
Toda a noite a namorare! (bis)
Toda a noite a namorare,
Toda a noite a dar paleio, (bis)
É um regalo andare
Com seu amor ao passeio! (bis)
Com seu amor ao passeio
Seu amor a passear, (bis)
É um regalo na vida
Noite e dia a namorar! (bis)
Aqui, aqui, aqui,
Aqui é que se está bem, (bis)
Ai ao pé do meu amor,
Só com ele e mais ninguém! (bis)
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Aqui moças | GCAD – Vol I – p. 101 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
AQUI, MOÇAS
Aqui, moças, aqui, moças,
aqui, moças a bailare, (bis)
foi aqui onde eu perdi
o meu lenço de assoare. (bis)
O meu lenço de assoare
inda não foi à barrela: (bis)
é só pra dizer adeus
quando me eu for desta terra. (bis)
Quando me eu for desta terra
duas coisas vou pedire: (bis)
firmeza e lealdade
até eu tornar a vire. (bis)
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PARTITURA – Arranjo Altino M Cardoso
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Arraial de Lamego | GCAD – Vol I – p. 103 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
ARRAIAL DE LAMEGO
– Ó minha mãe, deixe, deixe,
ó minha mãe, deixe-me ire (bis)
ó arraial de Lamego,
que eu vou e torno a vire. (bis)
– Tu vais e tornas a vire?
ó filha, virás ou não: (bis)
o arraial de Lamego
é a tua perdição! (bis)
– Se é a minha perdição,
ó minha mãe deixe sere: (bis)
eu não vou co’o meu amore,
que ele deixou de me vere. (bis)
Ele deixou de me vere,
deixou de me acompanhare: (bis)
ó minha mãe, deixe-me ire,
que eu, se for, hei-de voltar! (bis)
NOTAS BREVES Como nas cantigas de amigo, a mãe tem cuidado com o comportamento da filha (e esta já tem certa ‘folha de serviço’…). Existe leixa-pren e tenção entre mãe e filha. O arraial de Lamego é antiquíssimo.
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Carpinteiro, não! | GCAD – Vol I – p. 101 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
CARPINTEIRO, NÃO!
– Ó Joaquininha (ó Joaquininha) que moras no oiteiro
Andas de namoro (andas de namoro) com o carpinteiro…??
– Carpinteiro, não, (carpinteiro, não) que me tranca a porta;
– É um soldadinho (é um soldadinho) que anda na tropa…
– Soldadinho, não, (soldadinho, não) que anda a marchare;
– É um barbeirinho (é um barbeirinho) que sabe berbeare…
– Barbeirinho, não, que amola as navalhas;
– É um alfaiate (é um alfaiate), que nos talha as saias…
– Alfaiate, não, que é meio aldrabão;
– É um padeirinho (é um padeirinho) que nos amassa o pão…
– Padeirinho, não, que amassa o farelo;
– É um ferreirinho (é um ferreirinho) que bate no martelo…
– Ferreirinho, não, que ele anda mui negro;
– É um pedreirinho (pedreirinho), que racha o penedo…
– Pedreirinho, não, que pica na pedra;
– É um labradore (é um labradore), que nos lavra a terra…
– Labradore, não, que racha a nabiça;
– Há-de ser um padre (há-de ser um padre), que nos diga a missa…
– Oh! homens, oh, homens (oh homens oh homens), não devia havere!
São todos iguais (são todos iguais), não há que escolhere:
Deitai-os no fogo (deitai-os no fogo), deixai-os ardere!…
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NOTAS BREVES
Analisada superficialmente, esta curiosa lengalenga entre vizinhas, parece uma simples ilustração do ditado: “Quem desdenha quer comprar…”. Assim, depois da rejeição de todas as hipóteses de arranjar marido, até um padre dava jeito, mas eles eram inacessíveis e solteirões (pelo menos em teoria). Então, o que restava? O desespero da bomba atómica: queimá-los todos! Mas uma análise minimamente atenta revelará que uma Mulher com consciência do seu valor na família (maternidade) e na sociedade (trabalho), não encontrará facilmente um homem que a compreenda e valorize em toda a plenitude.
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Ciranda (GCAD I, 152) [Recolha e Harm AMC]
CIRANDA
Ó Ciranda, ó Cirandinha,
vamos nós a cirandare: (bis)
na ramada das videiras
anda a ciranda no are. (bis)
Anda a ciranda no are,
anda a ciranda no chão:(bis)
ó Ciranda, ó Cirandinha,
amor do meu coração. (bis)
Amor do meu coraçãoe,
não há palavra mais doce; (bis)
quer tu me queiras, quer não,
gosto de ti, acabou-se! (bis)
Ó ciranda, ó cirandinha,
vamos todos cirandare, (bis)
vamos dar mais meia volta,
meia volta e troca o pare! (bis)
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Outra versão da letra:
Dona Chica, Dona Chica,
faz favor de entrar agora:
cante lá um lindo verso,
diga adeus e vá-se embora!
Diga adeus e vá-se embora
que eu fico pra bailar:
quero dar mais meia volta
com o meu querido par.
NOTAS BREVES
O nome teria vindo do espanhol “zaranda”, um instrumento (como a peneira ou a tarara) usado para separar a palha do grão ou peneirar farinha. Como no galego-português, nas cantigas de amigo, os temas das letras versavam sobre o mundo rural: a agricultura, o campo, a natureza, o amor… A coreografia é bastante simples: no compasso da música, dão-se quatro passos para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida forte do bombo, balançando os ombros de leve em direção à roda.
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Coradinha, olá, olá | GCAD – Vol I – p. 156 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
Fala-me, rosa,
a mim sozinha,
v’rás como ficas
coradinha! (bis)
2.Darei-te o meu coração
e a chave pró abrir: (bis)
não tenho mais que te dar,
nem tu mais que me pedir! (bis)
NOTAS BREVES
Cantiga de amor, dada a iniciativa masculina. O namorado já goza de um estatuto de proximidade com a mulher amada; no entanto, ela ainda cora com as plavras de amor que ouve. Mas o namorado não é um drudo, ou amante, como na lírica provençal, mas um noivo que oferece casamento, usando uma belíssima metáfora para exprimir os seus sentimentos de dádiva incondicional e total: “Darei-te o meu coração/ e a chave pró abrir” – nem ele pode dar mais, nem ela pedir mais.
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Delaide, Delaidinha – GCAD – Vol I – p. 173 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
Arranjo 1
DELAIDE, DELAIDINHA
Ó Delaide, ó Delaidinha,
tua mãe está-te a chamar: (bis)
eu bem sei o que ela quere:
não me deixa namorar. (bis)
Não me deixa namorar,
ela também namorou: (bis)
minha mãe já não se lembra
do tempo que já passou. (bis)
Do tempo que já passou,
do tempo que já lá vai: (bis)
minha mãe já não se lembra
quando namorou meu pai. (bis)
Quando namorou meu pai
tinha ela a minha idade: (bis)
minha mãe já não se lembra
do tempo da mocidade! (bis)
—————————- NOTAS BREVES
Há outras versões da letra, com novos nomes (Aidinha, Deolinda, Adelaide…) mas o mesmo conteúdo: a mãe que não é confidente, mas oposição à vontade da filha.
Existe subjacente uma problemática igual à encontrada nas cantigas de amigo nas relações mãe-filha – de solidariedade e cumplicidade, ou, como aqui, de oposição. Note-se o completo leixa-pren, até à última estrofe. Note-se, ainda mais, e além do paralelismo semântico correspondente, a alternância vocálica das tónicas rimáticas: ‘namorar<>namorou’.
Doba, doba, dobadoira, doba | Recolha e Harmonia Altino M Cardoso
DOBA DOBA, DOBADOIRA, DOBA
Esta noite, lá minha aldeia,
Já todos dormiam, e só eu velava; (bis)
Doba, doba, dobadoira, doba,
Não me enrices a meada. (bis)
Não me enrices a meada,
Não me enrodilhes o linho; (bis)
Doba, doba, dobadoira, doba,
Meu amor, dá-me um beijinho. (bis)
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Dom-solidom – GCAD – Vol I – p. 185 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
DOM-SOLIDOM
Olha a doiradinha
ai, dom-solidom…
como vai airosa! (bis)
a mão na cabeça,
ai dom-solidom…
não lhe caia a rosa!… (bis)
Olha a doiradinha,
ai dom-solidom…
como vai contente! (bis)
a mão na cabeça,
ai dom-solidom…
não lhe caia o pente!… (bis)
Olha a doiradinha,
ai dom-solidom,
como vai bonita! (bis)
a mão na cabeça,
ai, dom-solidom,
não lhe caia a fita!… (bis)
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Outra versão:
Ai, a menina, dom solidom,
como vai contente.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
não lhe caia o pente.
Ai, a menina, dom solidom,
como vai airosa.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
não lhe caia a rosa.
Ai, a menina, dom solidom,
como vai bonita.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
não lhe caia a fita.
Ai, a menina, dom solidom,
com o seu raminho.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
segure o lacinho.
NOTAS BREVES
Doiradinha’, em vez de ‘menina’ é uma variante duriense da cantiga, perfeitamente adequada à mulher do Douro sempre bonita e ciosa da sua beleza e compostura! O tom contemplativo e apaixonado do sujeito poético masculino está subjacente ao tom menor da melodia.
Formalmente, além do paralelismo próprio do leixa-pren, um novo paralelismo interno ou intrínseco está presente nos dobres e mordobres do poema.
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Donde vens, Maria Rita? I 187
DONDE VENS, MARIA RITA?
– Donde vens, Maria Rita,
Que vens tão arreliada? (bis)
– Venho da Ribeira Nova,
De lavar, toda molhada!… (bis)
De lavar, toda molhada,
De cumprir a obrigação (bis)
– Donde vens, Maria Rita,
Amor do meu coração? (bis)
Amor do meu coração,
Quanto tenho te darei: (bis)
Darei-t’a luz dos meus olhos,
Cego por ti ficarei! (bis)
NOTAS BREVES
Como em muitas outros poemas-letras das cantigas galego-portuguesas, está aqui documentado um dos trabalhos respeitantes à vida da casa e da família: lavar a roupa. Esta cantiga (tenção marido-mulher) associa também uma declaração de amor – conjugal – apaixonado, que sabe apreciar e , até,venerar o trabalho feminino da dona de casa: “darei-te a luz dos meus olhos/ Cego por ti ficarei!” Tão lindo!
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Eu venho dali, dalém GCAD – Vol I – p. 220 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
EU VENHO DALI, DALÉM
Versão I
Eu venho do laranjal,
eu venho dali dalém, (bis)
de baixo da laranjeira
que tanta laranja tem. (bis)
Que tanta laranja tem,
que tanta laranja tinha: (bis)
debaixo da laranjeira
namorei uma menina. (bis)
Namorei uma menina,
namorei uma donzela, (bis)
já pedi a mão ao pai,
agora caso com ela. (bis)
OUTRA VERSÃO
Eu venho dali, dali,
eu venho dali, dalém: (bis)
dubaixo do laranjal
tanta laranja lá tem! (bis)
Tanta laranja lá tem,
tanta folha miudinha! (bis)
Dubaixo do laranjal
inganei uma menina. (bis)
Inganei uma menina,
inganei uma donzela: (bis)
prometi-lhe casamento,
despois num casei co ela. (bis)
Inganei uma menina,
com tenção de a deixar… (bis)
ela me deixou primeiro:
quem me dera adebinhar! (bis)
Quadra desfasada, tardia:
Venha papel, venha tinta,
venha tamém o scribão!
Eu quero deixar escrito
os trastes que as mulheres são!…
OUTRA LETRA
OUTRA LETRA
Eu venho de lá de baixo
de regar o laranjal
inda aqui trago uma flor
no laço do avental.
No laço do avental,
ai prima que eu vou prá guerra!
se eu for e tornar a vir,
abre-me aquela janela.
Abre-me aquela janela,
abre-me aquele postigo;
ai, prima, que eu vou prá guerra,
em vindo, caso contigo.
Em vindo, caso contigo,
o casar é uma ilusão,
tomara-te eu ver, ó prima,
dentro do meu coração!
NOTAS BREVES
Ver notas à cantiga EU VENHO DE LÁ DE BAIXO
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Eu venho de lá de baixo GCAD – Vol I – p. 221 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
EU VENHO DE LÁ DE BAIXO
1Eu venho de lá de baixo
de regar o laranjal:
trago uma folha metida
no laço do avental. (bis)
Refrão:
O mar stá bravo
as ondas a bater
o mar stá bravo
meu amor vem ver!… (bis)
2No laço o avental,
no laço da belusinha;
de regar o laranjal
eu venho de lá sozinha.
3Eu venho de lá sozinha,
meu amor não veio, não;
de regar o laranjal
vem triste o meu coração…
NOTAS BREVES Esta cantiga faz parte de um grupo, cujos títulos são EU VENHO DALI…e VENHO DA BEIRA DO RIO, presentes nesta obra [GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO – vol I, II e III] .
Sublinho a iniciativa da moça como sujeito poético e a sua ruralidade galego-portuguesa dos elementos comuns a essa temática: a laranja, o laço, um encontro amoroso, a ida para a guerra. A laranja encerra forte simbologia relacionada com a virgindade: a noiva tradicional leva(va), no Douro, um raminho de flor de laranjeira. O amor da rapariga não resiste ao dilema e à tentação sexual ao saber que o amado vai para a guerra e pode nunca mais voltar. E o enlace é irresistível e ‘bravo’ como o choque das ondas do mar! Na sua solidão triste, a moça guarda uma recordação no laço (‘enlace’) do avental, que pôs no chão, ou da ‘beluzinha’ que foi aberta ao amor: uma folha de laranjeira. Formalmente, além do leixa-pren, existe paralelismo semântico e vários dobres e mordobres. Também é de notar que o ambiente rural está inscrito nos dados da natureza (“regar o laranjal”) e no trajar e nas ocupações da moça (o avental, a blusa…)
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Moda da Rita | GCAD – Vol I – p. 302 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
MODA DA RITA
Esta é que era a moda
que a Rita cantava (bis)
Lá na praia nova, olaré,
ninguém lhe ganhava! (bis)
Ninguém lhe ganhava, (bis)
ninguém lhe ganhou!
Esta é que era a moda, olaré,
que a Rita cantou! (bis)
Esta é que era a moda
que a Rita cantou (bis)
Lá na praia nova, olaré,
ninguém lhe ganhou! (bis)
NOTAS BREVES
Esta cantiga apresenta jogos de palavras e de strings ou fraseados musicais que têm feito dela uma das mais cantadas, não só no Douro mas também em todo o País. A música adapta-se perfeitamente ao paralelismo semântico com as suas repetições ou insistências, tão ao jeito da lírica medieval, sobretudo se não esquecermos as técnicas poéticas do ‘dobre’ (repetição simples: “esta é que era a moda”) e ‘mordobre’ (repetição morfossintáctica, isto é nas formas de uma palavra ou em uma frase: “cantava/cantou, ganhava/ganhou”).
É de sublinhar a alternância vocálica das tónicas -a- e -o- e, até, o eco -ó- -ó- da rimas. Curiosa é, também, a colocação do bordão (olaré) em fase não tónica (ou átona) da frase musical. Estruturalmente, a cantiga apresenta um esquema: 3 estrofes/3versos+bordão+1 verso. As duas primeiras são paralelísticas dialógicas; a terceira encerra o diálogo numa síntese: cantou/ganhou. Semanticamente, existe a evolução gradativa do tempo verbal imperfeito (cantava/ganhava)>perfeito (cantou/ganhou), que torna o facto completamente passado.
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Ó Idália, flor da Idália | GCAD – Vol II – p. 1162 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
Ó IDÁLIA, FLOR DA IDÁLIA
Ó idália, ó felor da idália,
ó idália da flor amarela (bis)
ai, à sombra da flor da idália, ai,
ai, enganei eu uma donzela. (bis)
Ai, enganei eu uma donzela,
ai, enganei eu uma viúva… (bis)
ó idália, flor da idália,
ó idália da folhinha miúda! (bis)
……………
Ai, enganei uma viúva,
ai, enganei eu uma donzela: (bis)
ai, eu prometi-lhe casamento
e depois eu não casei com ela! (bis)
Ai, enganei eu uma donzela,
ai, enganei eu uma menina… (bis)
ó idália, flor da idália!…
ó idália da flor miudinha!… (bis)
NOTAS BREVES
A forma popular “idália” acrescentou a prótese da vogal inicial i- a “dália” (a flor).
Existe na cantiga uma forma extraordinária de utilizar o leixa-pren, associando os normais processos fónicos e morfossintácticos com as conotações ou iniciativas semânticas da mensagem. Também tem grande valor poético o animismo do diálogo e da confissão (com ou sem arrependimento…)
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O senhor do meio (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 208) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
O SENHOR DO MEIO
O senhor do meio
julga que é alguém: (bis)
é um rapazinho
que nem barba tem! (bis)
O senhor do meio
ande ligeirinho bis()
se não quer ficar
no meio sozinho. (bis)
NOTAS BREVES
É visível na dança o despertar da mulher, das bonecas para o instinto de procriação, já com consciência biológica do seu poder sobre os rapazes, quando amadurecerem. Mas considerá-los ‘verdes’ pode incluir-se no provérbio quem desdenha quer comprar”.
Atenção também à iniciativa feminina, herdada das cantigas populares ‘de amigo’.
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Oh, que lindo par eu levo! GCAD vol I 440 [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
OH, QUE LINDO PAR EU LEVO!
Oh! Que lindo par eu levo
aqui à minha direita!
Oh! que linda rosa branca
que tão belo cheiro deita! (bis)
Que tão belo cheiro deita
rosa branca de toucar
aqui à minha direita
rosa branca é o meu par.(bis)
1955
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PAUTA – Arranjo: Altino M Cardoso
NOTAS BREVES
A mulher em metáfora de rosa, branca e pura. Como o amor assumido e partilhado no corpo e na alma da poesia e da dança a dois.
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Peneireiro | GCAD – Vol I – p. 478 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
PENEIREIRO
Mais um peneireiro (*)
que na roda entrou (bis)
deixai-o bailare,
se ainda não bailou. (bis)
Ó do rouba-rouba
e torna a roubar: (bis)
rapaz deixa a moça,
vai pró teu lugar! (bis)
Vai pró teu lugare,
vai prá tua rua! (bis)
rapaz, deixa a moça,
que ela não é tua! (bis)
Que ela não é tua,
não é tua, não! (bis)
rapaz, deixa a moça
do meu coração! (bis)
______
(*) variantes:
Mais uma estrela… Mais um papo-seco… (Constantim, 1950)
NOTAS BREVES
NOTAS BREVES
Estamos novamente em presença de uma situação de ciúmes numa dança: o namorado intima o outro pretendente a deixar a moça. As coisas não terão chegado a extremos como na “Machadinha”… (Ver mais acima a canção da Machdinha)
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Pombinhas da Catrina | GCAD – Vol I – p. 483 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
POMBINHAS DA CATRINA
As pombinhas da Cat’rina
Andaram de mão em mão, (bis)
Foram ter à Quinta Nova
E ao pombal de São João. (bis)
Ao pombal de São João
À Quinta da Roseirinha, (bis)
Minha mãe mandou-me à fonte
E eu quebrei a cantarinha. (bis)
Ó minha mãe não me bata
Que eu inda sou pequenina (bis)
Não te bato porque achastes
As pombinhas da Catrina. (bis)
NOTAS BREVES
Ela vai fazer os recados à mãe, mas já olha para os rapazes e, por vezes, ‘quebra a cantarinha’ – bela e poética simbologia da secreta desobediência e do primeiro segredinho de amor, ou, sim, também para algo mais elaborado. A pomba-pombinha (e também o pombo-pombinho) faz parte do subconsciente sexual, desde o florescimento das hormonas. Esta é uma das modas populares do nosso imaginário (diria, até, mitologia) de Portugueses: em todo o Mundo da nossa Expansão, são ainda cantadas e dançadas em roda, como provas vivas e históricas das raízes culturais portuguesas e europeias: “Ai, ai, ai, minha machadinha”, “As Pombinhas da Cat’rina”, “Giró-flé giró-flá” e algumas outras.
Observe-se ainda que, dada a proliferação desta cantiga, a sequência dos eventos narrativos constantes da letra sofreu inúmeros pormenores (eufemísticos) que acabaram por dificultar uma recuperação lógica e coerente: e muito menos a versão original. Se quiséssemos tentar ‘adivinhar’, chegaríamos a inesperadas e interessantes teorias, inclusiva freudianas… como pode sugerir uma variante do nome da quinta: Dom João, o predador. O pombal de D. João seria então uma colecção de serviçais mais ou menos acossadas pelo patrão. Esta hipótese não chocará tanto se substituirmos o conceito respeitoso devotado pelo Cristianismo à Mulher pelo trato de harém de algum muçulmano que por cá tenha ficado. Claro que estas hipóteses não se situam no campo referencial mas no da criatividade poética, que desde o fundo dos séculos interage com as mitologias de todos os Povos.
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Ribeira vai cheia | Canções Inesq LEur + Canções T Escolas Recolha e arranjo Altino M Cardoso
RIBEIRA VAI CHEIA
Ribeira vai cheia
e o barco não anda,
tenho o meu amor
lá naquela banda…
Lá naquela banda,
lá naquele lado,
ribeira vai cheia
e o barco parado!
NOTAS BREVES
Conservando a tradição da iniciativa feminina e animista medieval do galego-português, a natureza é concebida como prolongamento (aqui é obstáculo e não confidente ou adjuvante) do anseio da rapariga que vai ao encontro do seu amor. O barco e o rio parecem estar contra ela, pois não são suficientemente rápidos para o seu desejo de encontrar o seu amor, à espera “lá naquela banda”…
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Roupa do meu amor | GCAD – Vol I – p. 512 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
ROUPA DO MEU AMOR
A roupa do meu amore
não é lavada no rio: (bis)
é lavada no mar largo
ai, onde passam nos navios. (bis)
Onde passam nos navios,
onde passa o vapore (bis)
não é lavada no rio
ai, a roupa do meu amor. (bis)
NOTAS BREVES
Será possível ligar este poema directamente às temáticas de amigo do galego-português – a barcarola. O namorado é marinheiro e tem de lavar a sua roupa nas águas do mar. E ficariam bem submersas metaforicamente as saudades… Mas a referência ao “vapor”, um barco já dos tempos da energia industrial do séc. XIX. Por isso é mais lógico estabelecer na delicada subjectividade do poema uma imagética ainda mais profunda: A mulher – recentemente casada – saboreia a intimidade de lavar a roupa do seu amor. Nem toda a água do ribeiro ou do rio da aldeia bastará para lhe dar a brancura esmerada e condigna: semelhante ao seu carinhoso amor só existe a imensidade da água do mar, alto e fundo, infinito, “onde passam os navios”. A inserção do ritmo ternário no binário da cantiga, associada ao tom menor, contribui para sublinhar essa intimidade carinhosa e contemplativa.
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Se eu fosse rato | AMC – 50 Cantigas Paralelísticas… p.121
SE EU FOSSE RATO—
Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía a tua saia… (bis)
ó trabadinha, dabas-me um belo jeitinho…
ó trabadinha, eu ia contigo à praia! (bis)
Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía o teu colete (bis)
ó trabadinha, davas-me um belo jeitinho,
ó trabadinha, és um grande ramalhete!… (bis)
Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía o teu sapato (bis)
Ó coradinha, eu dava-te um beijo, dava,
ó coradinha, nessa face delicada. (bis)
Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía o teu chapéu… (bis)
ó trabadinha, davas-me um belo jeitinho,
ó trabadinha, eu ia contigo ao céu! (bis)
NOTAS BREVES
Esta cantiga (susceptível de aproximação à de escárnio/maldizer do galego-português) não é antiga. Aparece um pouco por todo o país e já publiquei a versão da zona saloia (ver CANCIONEIRO SALOIO no site https://amadora-sintra-editora.pt e https://amadora-sintra-editora.pt/produto/cancioneiro-saloio/). As letras oferecem variantes, umas mais atrevidas ou brejeiras do que outras, mas sempre brincalhonas com o trocadilho inerente a “roer“<>rato-rata. A destinatária usava as roupas demasiado justas, para uma época anterior ao sutiã, em que se usava colete. Mas é possível sincronização com o aparecimento da saia “trabadinha” e em jeito de ‘coqueterie’.
É de sublinhar ô seu paralelismo abundante em anáforas e dobres.
Com a apropriada margem de tolerância, poder-se-ia aproximar esta cantiga de um dos criativos piropos dos trolhas: “– Comia-te toda!…” Ver também nos museus do traje, do folclore… **. “Trabadinha” = com as roupas justas, sobretudo da saia e colete, realçando as curvas. ***. O “colete” é anterior ao sutiã (“soutien” francês= sustentar, suster, amparar os seios).
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Serralheiro (Canc Mus de Penaguião) Harm Altino Cardoso
SERRALHEIRO
O malandro do sarralheiro
Não sei que vida governa: (bis2)
Ai, de dia vai pró passeio
De noite vai prá taberna! (bis2)
De noite vai prá taberna
Gosta de se divertire
Ai, o malandro do sarralheiro
Traz os filhos a pedire!
Traz os filhos a pedire
E a mulher cheia de fome
Ai, ó Senhor de Matosinhos
Arranjaide-me outro home!
Arranjaide-me outro home
Que tenha muito dinheiro
Ai, já stou farta de aturare
O malandro do sarralheiro!
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Sou novinha GCAD – Vol I – p. 551 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
SOU NOVINHA
Sou novinha, mas já tenho
o meu lencinho da mão, (bis)
que mo deu um caixeirinho
às scondidas do patrão. (bis)
às scondidas do patrão,
vou dizer ao impregado! (bis)
Sou novinha, mas já tenho
o lenço da mão bordado! (bis)
NOTA
A rapariguinha já está quase mulher e a abrir-se ao amor, cujo encanto está simbolizado materialmente no carinhoso segredo (e sonhos, e sugestões de promessas…) do lencinho bordado.
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Tenho raiva aos homens altos (In: Cancioneiro Musical de Penaguião – Harm Altino Cardoso)
TENHO RAIVA AOS HOMENS ALTOS
1. Menina do bairro alto
Desça abaixo ao balancé (bis)
Tenho raiva aos homens altos
Que o meu bem baixinho é. (bis)
2. O meu bem baixinho é,
O meu bem baixinho fica… (bis)
Tenho raiva aos homens altos
Fita verde é a mais bonita. (bis)
3. Fita verde é a mais bonita,
Rosa branca também é… (bis)
Tenho raiva aos homens altos
Que o meu bem baixinho é. (bis)
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Toma lá beijinhos | GCAD – Vol I – p. 565 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
TOMA LÁ BEIJINHOS
Refrão:
Toma lá beijinhos,
ó ai, toma pinhões;
ai, toma lá beijinhos,
ai, chi-corações. (bis)
1.Fui-me confessar e disse
que num tinha amor ninhum:
deram-me de penitência
que arranjasse ó manos um!
2. Fui-me confessar e disse
que andaba a namorare,
deram-me de penitência
que debo continuare.
3.Fui-me confessar à Serra,
comungar ós capuchinhos;
deram-me de penitência
dar abraços e beijinhos.
___
Outra versão da letra:
Toma lá beijinhos,
meu amor, toma lá:
beijinhos e abraços,
meu amor, dá cá!
Este ventinho que corre
vem da terra do meu bem….
se me trazes saudades,
toma-as lá, leva-as também!
Não te rias de quem chora,
é coisa que Deus ordena:
pode a roda desandar
e penares da mesma pena…
PAUTA – Arranjo: Altino M Cardoso
NOTAS BREVES Ambas as versões são graciosas do ponto de vista poético e musical, de que destaco o animismo presente no diálogo com o vento, aqui considerado mensageiro de amor… É visível que a última quadra da “outra versão da letra” é acrescentada mais tarde, pois vem quebrar o paralelismo semântico da cantiga. O humor religioso confere à cantiga tons originais, ligeirinhos e picantes, embora as camponesas costumem ser muito reservadas em brincadeiras que possam descair ‘naquelas coisas’ da confissão…
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Trago aqui flores | GCAD – Vol I – p. 569 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
TRAGO AQUI FLORES
Ai, eu trago aqui felores (bis)
no laço do aventale (bis)
ai, ai, ai,
que me deu um rapaz novo
ai, ai, ai, na noite do arriale. (bis)
Na noite do arriale, (bis)
na noite da romaria,(bis)
ai, ai, ai,
anda agora uma moda:
ai, ai, ai, Manuel, olha a Maria! (bis)
Manuel, olha a Maria! (bis)
Olha a volta que eu fui dare! (bis)
ai, ai, ai,
Arrisquei a minha vida
ai, ai, ai, para contigo falare! (bis)
Para contigo falare, (bis)
Hoje sim, amanhã não; (bis)
ai, ai, ai,
Arrisquei a minha vida,
ai, ai, ai, amor do meu coração! (bis)
Amor do meu coração, (bis)
quanto tenho já é teu: (bis)
ai, ai, ai,
só a minha alma não,
ai, ai, ai, foi o Senhor que ma deu! (bis)
NOTAS BREVES
O arraial, a moda do “Manel olha a Maria”, a oferta de flores pelo “rapaz novo”… estavam na mente da rapariga, que consegue os seus intentos, apesar de circunstâncias e perigos vários. O respeito pela alma (“a minha alma não”), tornará lógico concluir a exclusividade do corpo.
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Vai a rolinha | GCAD I 584 [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
VAI A ROLINHA
Vai a rolinha pelo mar além,
Chora o meu bem
pelos seus carinhos; (bis)
Ó amor, que vida a nossa,
Dar abraços e beijinhos! (bis)
Ai dar abraços e dar beijinhos!
Ó ai, amore, que graça tem! (bis)
Beijinhos a quem namora,
Abraços a quem quer bem. (bis)
NOTAS BREVES
A rola, a pomba são símbolos do amor, do carinho, da ternura e, na medida do possível, do sexo. Fazer o ninho está associado a casamento e arrular à sedução. Ver simbologia no texto introdutório deste livro, que resume o capítulo respectivo, desenvolvido no GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, vol III.
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Vai de roda GCAD 585 [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
VAI DE RODA
– Vai de roda! Vai de roda!
eu também lá quero ire! (bis)
Eu sou rapariga nova
gosto de me adevertire! (bis)
Gosto de me adevertire,
amiga da brincadeira… (bis)
– anda cá, ó rosa branca,
criada na japoneira! (*) (bis)
Criada na japoneira,
criada no meu jardim… (bis)
anda cá, ó rosa branca,
tu hádes ser para mim! (bis)
NOTAS BREVES
*Japoneira = camélia
A rapariga inicia o diálogo (tenção), que está implícito
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Vento da noite GCAD 595 [Recolha e Harm Altino M Cardoso]
VENTO DA NOITE
1.Lá vem o vento da noite!
ai, Jesus, que eu tenho medo! (bis)
se me roubarem o lenço,
tenho de andar em cabelo! (bis)
2.Tenho de andar em cabelo,
em cabelo hei-de andar?
se me roubarem o lenço,
tiro o chapéu ao meu par!
3.Tiro o chapéu ao meu par,
o lenço ao meu amor…
se me roubarem o lenço
ó minha branca felor!
4.Ó minha branca felor,
ó minha felor branquinha:
quando há-de ser a hora
que te eu hei-de chamar minha?
5.Que te eu hei-de chamar minha,
que te eu hei-de chamar meu?
Anda, amor, para os meus braços,
ninguém te quer mais do que eu!
NOTAS BREVES
Era o tempo das saias a arrastar pelos pés. A mulher não podia “andar em cabelo”, pois era sinal de intimidade, mal visto pela sociedade, em cujas críticas pontificavam precisamente as outras mulheres. Veja-se o desenvolvimento da cantiga: o rapaz aproveita a brancura (do pescoço) dela para se declarar: ela corresponde com generosidade, abrindo-lhe os braços.
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Vira do vinho novo GCAD – Vol I P. 605 (Recolha e arranjo Altino M Cardoso)
VIRA DO VINHO NOVO
1.É o vira da vindima
É o vira da vindima
pra animar o nosso povo
pra animar o nosso povo.
Refrão:
Se a Rita se casa
também caso eu
que o dote dela
não é mais que o meu.
Ó ai ó larai, ó ai ó larai,
Ó ai ó larai, ó larai lai lai.
2.Pra animar o nosso povo,
cantai, cantai raparigas
em honra do vinho novo
em honra do vinho novo!
………….. (quebra do leixa-pren)
3.Vem ó linda cantadeira
Vem ó linda cantadeira
ai ó flor do meu jardim
ai ó flor do meu jardim
4.Ai ó flor do meu jardim
só torno as culpas ao vira
ai de não olhares só pra mim
ai de não olhares só pra mim!
5.Não sou a flor que tu queres
Não sou a flor que tu queres
que o teu jardim já a tem
que o teu jardim já a tem
6.Ai que o teu jardim já a tem
não dou a cor dos meus olhos
nem a ti nem a ninguém
nem a ti nem a ninguém.
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?Ó Ana sacode a saia I 88
?Ó Elo da Videirinha II 1125
?Oliveira da Serra I 451
OBSERVAÇÃO PRELIMINAR IMPORTANTE:
Apresentam-se apenas flashes com imagens e resumos - não dispensa a consulta dos originais das Instituições emissoras e da Comunicação Social.
Saudamos mais esta valiosa iniciativa de uma das mais prestigiadas instituições do ALTO DOURO VINHATEIRO.
Acrescentamos um voto:
Que o PATRIMÓNIO IMATERIAL DO ALTO DOURO possa ser promovido e elevado a um patamar global semelhante ao espaço vinhateiro. A PODEROSA E SECULAR MÚSICA DO ALTO DOURO é o caso – um caso urgente, pelo risco de se perder irremediavelmente.
Continuo a assumir e cumprir um DEVER DE DURIENSE, individualmente, através deste site (nesta hora já com 123.000 visualizações). Estou a tentar partilhar este DEVER com o máximo de instâncias relacionadas com o Alto Douro.
Seria muito bom realizar a esperança de que alguma.s reconheçam e possam assumir a urgência de (ainda) mais uma necessidade…
OBS – Sobre este assunto consultar neste SITE [https://amadora-sintra-editora.pt]:
As ofertas de trabalho nas vinhas do Alto Douro atraíam e concentravam todas as manifestações de arte das serras circundantes.
Não é possível estabelecer uma certidão de nascimento para quaisquer dessas músicas (cantadas ou apenas tocadas): mas documentam-se, sim, as ligações de conteúdo e forma literária de muitas cantigas tradicionais às raízes galego-portuguesas do início da Nacionalidade, ainda hoje estudadas nas Escolas.
Nas canções tradicionais encontramos a continuidade histórico-cutural desde o galego-português (cantigas de amigo, amor e maldizer), o trabalho e as estações do ano, os provérbios, a vida doméstica e social, a religião (a oficial católica e a popular), os rimances (alguns ligados a Carlos Magno – séc IX !), os lazeres dos bailes e das festas e romarias, os serões… e, até, os maldizeres…
O Património Imaterial do Douro integra as Narrativas, os Rimances, as Chulas, as Desgarradas, as Cantigas da Vinha, os Cantares religiosos… etc. etc.
(Ver noGRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, publicado em 2006, 2007 e 2009 – 3 volumes, 1.150 músicas, 1.920pgs.)
N o t í c i a s
Notícias Notícias Notícias Notícias NotíciasNOTÍCIAS NOTÍCIASNotícias Notícias Notícias Notícias Notícias
A Comunidade de Trabalho Norte de Portugal – Castilla y León publicou no seu website, para consulta pública disponível até 4 de julho, o documento “Plano Estratégico de Cooperação 2021-2027
2. A CCDR-NORTE e a Comissão Arco Atlântico organizam em conjunto, no dia 28 de junho, o evento “Marine Pollution in the Atlantic Ocean: the role of interregional cooperation and EU leverages”.
Este side event integrado na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, organizada pela ONU com o apoio dos governos de Portugal e do Quénia, realiza-se no Tivoli Oriente Hotel, em Lisboa.
A sessão vai decorrer entre as 13:15h e as 14:45h e conta com a intervenção do Presidente da CCDR-NORTE, António Cunha.
Trata-se de “um grande e merecido prémio para a região [do Douro]”,
segundo José Manuel Gonçalves, o autarca de Peso da Régua.
15/06/2022
Fotografia: Bruno Ferreira no Unsplash.
Texto: Patrícia Santos
Em 2018 Peso da Régua não conseguiu ser eleita Cidade Europeia do Vinho, mas a experiência não foi desperdiçada. Desta nasceu uma candidatura de âmbito regional, resultado do envolvimento dos diferentes agentes locais. A recompensa pelo trabalho desenvolvido chegou esta quarta-feira, 15 de junho, dia em que a Região do Douro conquistou oficialmente, em Bruxelas, a importante distinção internacional.
“É um grande prémio para a região, muito merecido e que vai ajudar o trabalho da Comunidade Intermunicipal (CIM do Douro), que é cada vez mais baseado na preocupação com o nosso desenvolvimento económico e com a sustentabilidade de todo o território”, disse José Manuel Gonçalves, o autarca de Peso da Régua, em declarações à agência “Lusa”. Acrescentou que “vai haver agora um período de preparação, de consolidação de projetos, e em 2023 é que vai ser o ano pleno da candidatura”.
No âmbito da Cidade Europeia do Vinho 2023, a região demarcada do Douro será “uma referência europeia no vinho, na vinha, na cultura e na celebração harmoniosa da natureza e obra secular realizada por gerações de durienses”, segundo os promotores da conquista, que juntou os municípios integrados na associação da região vitivinícola demarcada e regulamentada mais antiga do mundo a todas as 19 autarquias que constituem a CIM.
Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Lamego, Mesão Frio, Moimenta da Beira, Murça, Penedono, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, São João da Pesqueira, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa e Vila Real são os concelhos que compõem o grupo.
A distinção chega numa altura em que o Douro comemora 20 anos da elevação a Património da Humanidade e que a preocupação local é “garantir que as gerações futuras recebam este património com condições de sustentabilidade”.
Na defesa da candidatura, José Manuel Gonçalves partilhou, inclusive, esta inquietude, descrevendo-a como “um dos maiores desafios coletivos que o Douro já assumiu em toda a sua história, materializando o desejo e o pulsar de toda uma região”.
Já depois da vitória, disse acalentar o “desejo legítimo de que o Douro, um grande contribuinte das exportações nacionais, faça do vinho e da vinha uma alavanca concreta e real para o desenvolvimento da sua economia e riqueza de quem aqui vive e trabalha”.
Em 2021, as vendas de vinhos do Porto e Douro atingiram “valores recorde” de 600 milhões de euros. Destes, 403 milhões de euros foram conseguidos com exportações.
Além do Douro, foram apresentadas a Cidade Europeia do Vinho as candidaturas “Algarve Golden Terroir”, que junta os municípios de Lagoa, Albufeira, Lagos e Silves, e uma outra do Vale do Lima, que une os concelhos de Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Viana do Castelo.
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Já desde a Idade Média e antes da Nacionalidade, os bailes e danças eram essenciais à dinâmica sociológica, nomeadamente à aproximação dos jovens em idade núbil, que as famílias organizavam e promoviam, de modo a proporcionarem casamentos favoráveis à consolidação dos bens e do estatuto social de ambos os lados.
De facto, sem esses bailes ‘familiares’ o contacto (visual e discreto) entre rapazes e raparigas apenas era possível à entrada e saída das missas e nesses bailes, sob a ‘batuta’ familiar, sempre a cargo do elemento feminino.
É de notar que em algumas comunidades (rurais ou não) havia as casas do baile, que um grupo (em sociedade informal) interessado organizava aos domingos, mediante uma quota simbólica para arrendar e manter a casa aberta ou para ‘pagar o vinho’ aos músicos.
A generalidade destas danças eram tocadas, mesmo por um simples instrumento (flauta, violino, clarinete…). Um simples cantador, com uma flauta, um clarinete, ou um ‘banjolim’ ou um violão e alguns recursos de voz e repertório, por vezes bastava. Os aerofones (gaitas de beiços, harmónicos, concertinas, acordeões…) só mais tarde apareceram.
Existem vários tipos de danças, como sistematiza Tomás Ribas (ver nota final deste capítulo). Mas é possível condensar as varoedades numa base dos respectivos compassos – binários (contradanças, marchas…) e ternários (viras, valsas…).
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DANÇA DAS CAPELINHAS (GCAD Vol II pg 690 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)
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DANÇA DO CARTUCHINHO (GCAD Vol II pg 691 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)
Cantiga com coreografia, em que um cartuchinho de rebuçados [da Régua?] (ou também amêndoas, confeitos, ou pinhões…) era posto em disputa numa rodinha de crianças. Quando a música acabava, ganhava o cartuchinho quem o apanhasse primeiro. A surpresa e rapidez desta competição lúdica assemelhava-se à da dança das cadeiras. É curioso o pronunciado sabor alentejano… sobretudo se for acrescentada uma 2ª (ou 3ª) voz nas terceiras.
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DANÇA DO LINDO POVO (GCAD Vol II pg 692 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)
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DANÇA DO VIOLINO (GCAD Vol II pg 693 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)
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CONTRADANÇA 1 (GCAD Vol II pg 681 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)
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CONTRADANÇA 2 (GCAD Vol II pg 682 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)
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CONTRADANÇA 3 (GCAD Vol II pg 683 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)
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CORRIDINHO 3 (GCAD Vol II pg 687 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)
“(…) por «danças populares portuguesas» queremos designar as «danças populares portuguesas tradicionais», as quais englobam três categorias: as «danças folclóricas», as «danças populares propriamente ditas» e as «danças popularizadas».)
Procurar determinar e designar as mais arcaicas danças populares portuguesas é, obviamente, estultícia, até porque é impossível fazê-lo.
Dado que a dança é uma atividade e uma função tão velhas como a própria Humanidade, poderemos dizer que na Península Ibérica se baila desde que nela surgem seres humanos, autóctones ou vindos de qualquer outra região da Terra.(…)”
Breves notas sobre as Danças Populares Portuguesas de hoje
Bailarico
O Bailaricoé uma dança popular atual que se baila na região que vai do Alcoa ao Sado, isto é, em toda a região estremenha.
Baila-se, sobretudo, nas regiões de Torres Vedras, Caldas da Rainha e Malveira, Sintra e Mafra, pelo que é conhecida pelo nome da «dança saloia».
Porém, também no Alentejo, no Ribatejo e no Algarve o dançam. Ler mais
Ciranda
A ciranda é uma dança que se divulgou no século passado e vem inserta em vários cancioneiros. Não tem acompanhamento instrumental, pois baila-se apenas ao som de harmónio e com acompanhamento de canto.
Não deve ser uma dança muito antiga entre nós porque o harmónio é um instrumento austríaco que só há um século começou a popularizar-se em Portugal. Trata-se de uma dança que se baila particularmente na Beira Litoral e na região do Norte da Estremadura.
Chula
A chula, ou xula, é uma dança popular portuguesa muito antiga. Gil Vicente refere-se a ela numa das suas peças ou autos teatrais. É uma dança que tem cantador, ou cantadeira, ao desafio, mas o seu estribilho, ou refrão, é só instrumental.
Baila-se a chula – que é uma dança tipicamente nortenha – do Minho à Beira Alta setentrional. Porém, a chula do Alto Douro tem instrumentos especiais e especial maneira de se bailar.
Tal como o malhão, a cana-verde e o vira, a chula pode acompanhar-se apenas pelo ritmar da viola ramaldeira e, tal como aquelas, que são danças típicas do Minho e do Douro, pode ser acompanhada pela «ronda minhota» (espécie de pequena orquestra campesina composta de clarinete, rabeca, harmónica, cavaquinho, viola, violão, bombo e ferrinhos) ou pela «festada duriense» (que é constituída pelos mesmos instrumentos, menos o clarinete, que é substituído pelas canas).
Corridinho
O corridinho, que também se baila em algumas terras do Ribatejo e do Alentejo, é, sobretudo, uma dança algarvia: o Algarve é a sua verdadeira pátria.
O corridinho é uma dança antiga, porém, não muito arcaica: reflete aspetos de danças citadinas adaptadas pelo povo, pois que é, no seu aspecto geral, uma dança que se baila ao ritmo da polca-galope. Ora, tanto a polca como o galope são danças estrangeiras citadinas do século passado.
O corridinho é bailado ao som do fole ou flaita, isto é, da concertina e consta de duas partes: o «corrido» propriamente dito e o «rodado», que é orientado em sentido inverso ao do corrido.
Quando, porém, uma segunda parte da moda é mais mexida e o parceiro é de feição, abandonam-se os passos conhecidos e o par rodopia sempre no mesmo lugar, num passo especial a que se dá o nome de «escovinha». Ler mais
Fandango
Do ponto de vista musical, o fandango é semelhante ao vira, porém, baila-se de diferente maneira; de resto, o actual vira é possivelmente o antigo fandango agora dançado em cruz.
Dança que nos veio de Espanha, o fandango enraizou-se em Portugal, onde é bailado em quase todo o país desde há muito.
O Prof. Armando Leça, que estudou com particular atenção as canções e as danças populares portuguesas, dá o fandango como dança que ainda hoje se baila no Douro Litoral, no Minho, em Trás-os-Montes (terras mirandesas), na Beira Litoral, na Beira Alta, na Beira Baixa, na Estremadura, no Alentejo e no Algarve.
Contudo, as regiões onde o fandango é mais bailado e goza de maior preferência do povo são o Ribatejo, as raias minhota e da Beira Baixa (Castelo Rodrigo e Idanha-a-Nova) e as terras interiores de Beira Litoral (Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, etc.).
Velha dança espanhola, o fandango é, também, uma dança portuguesa muito antiga.
Bocage refere-se a ela e o escritor inglês Twiss, que visitou o nosso país em 1772, diz que viu «o fandango dançado em Portugal com grande galanteria e muita expressão». E Gil Vicente usa, às vezes, o termo «esfandangado».
O Fandango nas regiões de Portugal
No Ribatejo, na Beira Litoral e nas terras raianas do Minho e da Beira Baixa, bem como em algumas regiões do Alentejo e da fronteira algarvia, é onde melhor se baila o fandango.
No Ribatejo bailam-no ao som de harmónica (gaita-de-beiços) ou harmónio (gaita-de-foles); já, contudo, em Ferreira do Zêzere, na serra de Tomar, em Mação e em Borba o bailam ao som de guitarra. Nas terras mirandesas (Trás-os-Montes) bailam-no em roda.
Há uma dança que é uma miscelânea de vira e fandango: o vira afandangado. O verdadeiro vira afandangado parece ser o do Ribatejo, onde, muitas vezes, o bailam em cima de mesas. O vira afandangado do Minho – vira galego – é de feição vocal e baila-se aos pares, de roda.
A voga do fandango entre os portugueses está de tal maneira arreigada no seu gosto que o levaram para o Brasil.
Nos estados do Nordeste brasileiro baila-se o fandango; porém, nessas regiões não lhe dão tal nome, mas sim outros nomes que bem denotam que foram os portugueses que para lá levaram essa dança: «bailado dos marujos», «dança dos marujos», «marujada», «chegança dos marujos» ou «barca».
No Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (terras do Brasil), a palavra «fandango» quer dizer «festa», «baile» ou, simplesmente, «reunião onde se dança». Ler mais
Farrapeira
A farrapeira é uma das mais típicas e belas danças de Portugal. Não se sabe bem desde quando o povo a baila, mas parece ser uma dança bastante antiga, pois o seu aspecto musical aparenta-se com as mais antigas danças da nossa gente do povo.
É a farrapeira uma dança do interior nortenho. Melodia que se assemelha à caninha-verde, exige ela um marcador espirituoso. Apesar de ser uma dança típica das Beiras, também no Ribatejo a bailam. Dança bem ritmada, é acompanhada à guitarra e, em algumas regiões, a pífaro e gaita-de-foles.
Uma das características da farrapeira é o facto de ela ser uma das raras danças populares portuguesas cujo refrão ou estribilho é instrumental. Julga-se que a farrapeira deve ser uma dança burguesa, ou citadina, que o povo adaptou, pois o seu ritmo é o da polca e a sua marcação faz lembrar as quadrilhas, que, como se sabe, são danças de salão. Ao fim e ao cabo, a farrapeira, com o seu marcador, mais não é do que uma quadrilha campestre.
Gota
A gota é uma dança popular portuguesa, bailada no Minho, que nada tem a ver com a «jota» espanhola (geralmente conhecida pelo nome de «jota aragonesa»).
Há, contudo, íntimas relações entre a gota, o vira, o fandango e a jota espanhola; a gota é, porém, uma espécie de fandango. O fandango distingue-se da gota porque esta possui um carácter mais instrumental. O desenvolvimento melódico da gota aparenta-se com o da tirana, que é, também, uma dança popular portuguesa.
A gota baila-se da mesma maneira que o fandango, apenas com um ritmo um pouco diferente.
Malhão
Ao malhão também lhe chamam «a moda das caminhas», «a rusga» ou «o Senhor da Pedra».
Embora se baile também na Beira Alta, o malhão é uma dança tipicamente minhota, do Minho Litoral, muito semelhante à chula.
Dança muito antiga, tem, como a chula, acompanhamento de canto: o seu acompanhamento musical é de instrumento e cantador.
Regadinho
O regadinho é uma dança popular que se vulgarizou no século passado e se baila em todo o Norte do País e também na Beira Litoral. É, por isso, uma dança híbrida, quer dizer: com algo de nortenho e algo de litoral.
Dança bem ritmada, é, pouco mais ou menos, uma marcha; este seu aspeto leva-nos a crer que se trate de uma dança de salão ou burguesa, importada de Europa após as invasões francesas. No Norte bailam o regadinho sem acompanhamento instrumental, apenas acompanhado à viola, ao passo que na Beira Litoral o bailam ao som da guitarra.
Saias
A moda das saias é uma dança popular bailada principalmente pela gente do Alto Alentejo mas também bailada em algumas regiões do Ribatejo, da Beira Baixa, da Beira Litoral, da Estremadura, da Beira Alta e do Douro Litoral. Contudo, repetimos, é mais característica do Alto Alentejo e das terras interiores da Beira Litoral e do Ribatejo – precisamente daquela região que outrora pertenceu à Estremadura (Tomar, Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Chão de Couce, Avelar, etc.). É uma dança sincopada e, às vezes, com marcador.
O ritmo típico das saias é o binário; no Alto Alentejo o binário composto (6/8); no Douro Litoral, as saias têm um ritmo nortenho – binário simples (2/4).
Há quem pretenda aparentar as saias com a dança espanhola da Andaluzia conhecida pelo nome de «saeta», porém nada de comum parecem ter, pois as saias são uma dança profana, de divertimento, ao passo que a «saeta» é uma dança acompanhada de canto litúrgico e só bailada como ritual das procissões.
Modalidades de saias
A moda das saias tem vários aspetos, por isso há várias modalidades de saias:
a)Velhas– As antigas, em forma de valsa-mazurca;
b)Novas– As atuais, em forma de valsa campestre;
c)Aiadas– Aquelas em que o marcador grita um «ai» no estribilho, a indicar a volta;
d)Puladinhas(ou Pulado);
e)Com estribilho.
As saias são modas acompanhadas de canto. Por isso, as saias são só para cantar ou para cantar e bailar. Quando cantadas, possuem uma letra sem requebro. Quando só cantadas, durante o trabalho, as saias estão para a gente do Alto Alentejo como o tope está para as gentes do Baixo Alentejo.
Nas saias, os estilos e modas (a música) bem como os pontos (a letra) são volantes e os seus ritmos, às vezes, variam, chegando a haver, na mesma região, várias saias de estilo e moda diferentes; algumas vezes, o mesmo ponto serve vários estilos, mas o mais vulgar é o mesmo estilo ser cantado com vários pontos.
Já no século XVII se dançavam as saias e parece que, então, elas se bailavam um pouco à maneira andaluza; tal modalidade arcaica ainda hoje se encontra em Escalos-de-Baixo.
É no Alto Alentejo, bailadas ao som de pandeiro e, às vezes, de pandeiro e adufe, que as saias são mais castiças.
Tirana
Apesar de melodicamente a tirana ser uma dança meridional, isto é, do Sul, a verdade é que ela se baila exclusivamente do Minho à Beira Litoral, particularmente na região de Coimbra – pois «tiranas» se chama às tricanas de Coimbra.
O ritmo da tirana é um ritmo valseado. No nosso teatro ligeiro musicado, bem como nos ranchos folclóricos, dança-se frequentemente a tirana, mas, erradamente, chamam-lhe, a maior parte das vezes, vira.
Com a moda das saias, a tirana tanto pode ser só cantada como cantada e bailada como, ainda, bailada com acompanhamento instrumental.
Verde-Gaio
Embora seja uma dança tipicamente nortenha, o verde-gaio dança-se em quase todas as regiões do País ao norte do Tejo e particularmente no Ribatejo e Estremadura, entre o Lis e o Sado.
É uma moda de cadeia com acompanhamento de auto: quadras fixas e várias.
Sendo o verde-gaio mais popular no Norte do que no Sul, é curioso notar que é na região entre o Lis e o Sado que o bailam melhor e mais a primor.
Em geral o verde-gaio é acompanhado com harmónica ou realejo.
Vira
O vira é uma das mais antigas danças populares portuguesas; dele já Gil Vicente nos fala na sua peça Nau d’Amores dando-o como uma dança do Minho.
Com efeito, o vira é uma dança de tradição minhota, embora se baile, de maneira diferente, também na Nazaré e no Ribatejo, e, hoje, se baile à maneira minhota em quase todo o País. O vira é, de uma maneira geral, a dança popular portuguesa mais característica e popularizada.
Há inúmeras variantes – tanto musicais como na maneira de o bailar: vira de roda, vira estrepassado, vira afandangado, vira valseado, vira-flor, vira de trempe, vira galego, vira ao desafio, vira poveiro (da Póvoa de Varzim), etc.
Do ponto de vista musical, o vira pode ser menor ou maior e é muito semelhante ao fandango; porém, o fandango dança-se de diferente maneira.
O vira minhoto, isto é, o vira em maior, é semelhante ao malhão e à chula. Já o vira em menor não é minhoto.
O vira não tem estribilho: a quadra da cantadeira repete-a o coro dobrada em terceiras ou somente dois versos e um larai como estribilho; quer dizer: como o vira não tem estribilho, o coro repete os versos dos cantadores. É da praxe minhota começar a cantiga no segundo verso. O vira distingue-se do fandango pelo verso da canção, mais longo no fandango.
O vira da Régua é a chula. Ver CHULA DA RÉGUA (GCAD vol I)
NASCEU na freguesia de Loureiro, Peso da Régua e é um apaixonado pelo seu DOURO, hoje PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE, que regularmente tem estudado, estabelecendo teses inovadoras:
1 – A HISTÓRIA VITIVINÍCOLA DURIENSE, estabelecendo a suaMAGNA CARTA – desde D. Afonso Henriques e os Conventos de Cister (Tarouca, Salzedas, S. Pedro das Águias, Sta Maria de Aguiar) nos domínios de Egas Moniz e do Castelo de Lamego.
Do ponto de vista político e militar, a I Dinastia enraíza na Borgonha (Conde D. Henrique > D. Afonso Henriques). Do ponto de vista religioso, económico e social deve-se à Ordem (também borgonhesa) de Cister, a implementação das bases da cultura, riqueza e emprego, desenvolvendo a agricultura e o povoamento, com os seus conventos, granjas e vinhas. O vinho era (e é) uma bebida sacramental em todas as missas, portanto estava presente logo desde a fundação de um convento. As missas solenes eram celebradas com cálices de ouro e “vinho cheirante [de Lamego]”, (isto é, “vinho doce”, “vinho tratado”, vinho fino” -> “vinho do porto”).
2 – A LITERATURA (João de Lemos, Miguel Torga, António Cabral, Pires Cabral, Agustina, J Araújo Correia…);
3 – O TEATRO com D. Sancho I (os 2 Bobos, a quem agraciou com terrenos em Canelas-Régua); a escritura dessa doação foi testemunhada (dignificada, institucionalizada) por todos os bispos do território nacional, à data.
4– As Raízes da POESIA PORTUGUESA (que antecede a prosa literária) desde a poética trovadoresca do galego-português e de Santiago de Compostela , com D. Sancho I e a ‘cantiga de amigo’ “muito me tarda/ o meu amigo na Guarda”
5 – A poderosa e ancestral MÚSICA TRADICIONAL DURIENSE, recolhendo e publicando no GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO – 3 vol, com 1.920 pgs., 1.150 cantigas – contextualizadas, no vol. III, com um estudo extensivo dos principais contornos culturais, históricos, poéticos, musicais e europeus.
De entre as tradições poético-musicais galego-portuguesas da época trovadoresca medieval, assumem especial relevo as cantigas “de amigo”, exclusivas do noroeste peninsular e irradiadas de Santiago de Compostela (Jacobeus), cujo conteúdo rural e algumas características rítmicas e formais – nomeadamente o paralelismo e o leixa-pren – ainda se mantêm em muitas cantigas da zona duriense. Uma das separatas do GCAD (50 CANTIGAS PARALELÍSTICAS DO ALTO DOURO) selecciona e transcreve 50 dessas cantigas, com uma introdução histórico-literária e notas explicativas.
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– Por motivos familiares e profissionais Altino Cardoso transferiu-se para Queluz–SINTRA em 1973.
Em Sintra e na região saloia adjacente recolheu valiosos espécimes da Música e da História Saloia, que publicou em:
a) CANCIONEIRO SALOIO (2005) – recolha de cantigas (letras e pautas), com uma introdução em que estuda a origem do nome “saloio” e identifica alguns géneros musicais e circunstâncias relacionadas;
b) MUSEU SALOIO (2016) – Estuda a história de Sintra aí integrando aspectos sócio-culturais, que ilustra com muitas dezenas de fotos: de festividades, costumes, utensílios, figuras e a grande tipicidade dos trajes saloios…
c) MÚSICAS SALOIAS PALACIANAS (2018) – Regista interessantíssimos aspectos musicais importados da Europa para os bailes aristocráticos dos palácios e chalets (de Sintra, Mafra, Oeiras…) nos tempos áureos de D. João V. Os criados adoptaram e adaptaram essas melodias nas suas danças e instrumentos primitivos (flautas, violas, bandolins, ferrinhos… mais tarde concertinas e violas). Altino Cardoso transcreve e reconverte algumas dessas melodias para cravo-piano neste livro.
FORMAÇÃO ACADÉMICA E PROFISSIONAL
. Altino M Cardoso licenciou-se em LETRAS (Filologia Românica – 1964-1969) e em CIÊNCIAS PEDAGÓGICAS (1969-1971) pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coroou a sua licenciatura a Obra Poética de Afonso Duarte, um poeta da ‘PRESENÇA’, amigo e companheiro de caça (e pesca) de Miguel Torga.
. Cumpriu o ESTÁGIO PROFISSIONAL, com Exame de Estado (1972), no LICEU NORMAL DE D. JOÃO III (hoje Escola Secundária José Falcão), ainda em Coimbra.
. Já profissionalizado e a leccionar no Liceu Nacional da Amadora (Professor Agregado) e, depois, no Liceu Nacional de Queluz (Professor Efectivo), frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa (3º ano – 1973-1976).
TUNA ACADÉMICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
– Foi elemento da Tuna Académica da Universidade de Coimbra (TAUC), integrando as suas secções:
– Orquestra (violino),
– Orquestra de Tangos (violino),
– Variedades (‘Lente’ da célebre rábula do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente) e, ainda, o
– Ensemble de Câmara Carlos Seixas (bândola e bandoloncelo).
Frequentou, sem continuidade, o CONSERVATÓRIO de Música de Coimbra na disciplina de Violino, com o Professor Tobias Cardoso.
Com a TAUC visitou e actuou em vários e prestigiados palcos do Mundo:
– EUROPA [Anos 64-71]: ESPANHA – FRANÇA – HOLANDA – LUXEMBURGO – REINO UNIDO – ITÁLIA – GRÉCIA…
Como componente (bândola) do ENSEMBLE DE PLECTRO CARLOS SEIXAS, integrado na TAUC, conquistou o 1º Prémio do FESTIVAL JUVENIL DE MÚSICA em Neerpelt (Bélgica) (1967);
Em França, além de PARIS (várias vezes, incluindo concertos na SALLE PLEYEL) visitou, também com a TAUC, várias cidades, nomeadamente do Sudoeste: Bordeaux, Armagnac, Pau, Tarbes, Auch, Barbezieux, Arcachon...
– ÁFRICA [Ago’1965] (ANGOLA – Luanda, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Benguela, Lobito);
– ÁSIA [Ago’1970] (IRÃO [Teerão], ÍNDIA [Bombaim], HONG KONG, MACAU);
– EXTREMO ORIENTE [Ago’1970] (JAPÃO – Tóquio, Nara, Kyoto… e visita à EXPO’70 de Osaka, a convite e em colaboração com o COMITÉ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA.
– AMÉRICADO NORTE [Abr’1970] (EUA: N York, Newark, Fall River, New Bedford, etc….);;
TRABALHOS PEDAGÓGICOS
Ainda no 5º ano da Faculdade foi professor [Port., Fra, Lat., Grego e Música] no extinto Colégio de Porto de Mós (hoje Esc. Prep. Dr. Manuel Perpétua).
Depois do Estágio Pedagógico leccionou um ano no Liceu Nacional da Amadora (Professor Agregado – 1972-73), tendo depois efectivado no Liceu Nacional de Queluz – hoje Escola Secundária Padre Alberto Neto [ESPAN] (1973-2002).
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Em complemento da actividade pedagógica, criou na Amadora (1976) o CENTRO DE ESTUDOS E LIVROS DIDÁCTICOS (CELD), elaborando e editando vários trabalhos focados no Ensino Liceal Complementar e Acesso ao Superior, em que se destaca uma obra sobre estratégia de preparação de EXAMES (1996), adoptada no ensino universitário (Universidade Internacional – Ano Zero) – esg.
1972 – OS LUSÍADAS-COMO REVELAR AOS JOVENS DO NOSSO TEMPO OS VALORES CONTIDOS NO POEMA (Tese de Estágio e Exame de Estado – Liceu Normal D. João III, Coimbra); s/ ed. – esg.
1974 – FRANCE – CENTRES D’INTÉRÊT (Didáctica Editora) – esg.
1977 – INICIAÇÃO MUSICAL I (Centro de Estudos e Livros Didácticos) – esg.
1977 – INICIAÇÃO MUSICAL II (CELD) – esg.
1978 – CANÇÕES PARA TODAS AS ESCOLAS (Básica Editora) – 1ª ed esg.
1979 – MANHÃ SUBMERSA, de V. Ferreira (Estudo e Antologia) (CELD) – esg.
1980 – ANTOLOGIA FERNANDO PESSOA (CELD) – esg.
1992 – PGA-PASSAPORTE (Prova Geral de Acesso ao Ensino Superior) – esg.
1980-1990 (CELD – Amadora) – Colecção ÊXITO (edições): Equipaorganizadora de vários manuais/várias disciplinas para o 12º Ano – esg.
JORNALISMO
1976-1980 – Colaborou na revista “MÚSICA & SOM – INICIAÇÃO MUSICAL.
1980-1990 – Exerceu funções directivas, na “Tribuna de Queluz” (“JORNAL DA AMADORA”) e no “JORNAL DE QUELUZ”.
1991-2003 – Fundou e dirigiu o mensário “Jornal AMADORA-SINTRA”. O AMADORA-SINTRA tornou-se um veículo de comunicação caracterizado pela sua criatividade e persistente independência das forças partidárias numa área de quase um milhão de habitantes (Amadora e Sintra). Comentava as nuances político-partidárias, mas dava sobretudo relevo às dinâmicas empresariais e culturais.
2003 –… – Mantém as “Edições AMADORA-SINTRA”.
2005 – Elaborou a edição electrónica da Revista do PRIMEIRO CENTENÁRIO, da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro (CTMAD) de Lisboa.
Entre 2016 e 2019 colaborou na Revista XOK, criada e dirigida pelo antigo Aluno Mário Fernando Teixeira.
Actualmente, além das paginações electrónicas dos seus próprios livros, elabora a produção informática do BOLETIM DA CASA DE TRÁS-OS MONTES E ALTO DOURO (CTMAD) de Lisboa.
PRODUÇÃO MUSICAL
Como compositor, é autor de músicas e letras de meio milhar de canções (algumas registadas na SPA), entre as quais músicas para a Infância, Poetas portugueses, Amália Rodrigues, História de Portugal, Contos Tradicionais, “MENSAGEM” de Fernando Pessoa (44 músicas – 3 edições)…
As obras musicais mais significativas são:
GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO (3 vol – 1920 p. – 1150 cantigas)
e 400 MÚSICAS PRÓPRIAS REUNIDAS (532 páginas, com músicas e letras).
Neste site incluem-se arranjos de espécimes de várias temáticas e estilos.
Alguns grupos musicais (populares, corais e instrumentais), têm utilizado e gravado canções suas (originais ou arranjos), nomeadamente o Regional Duriense, os Rabelos do Douro, Grupo de Cantares ALÉO (da Câmara de Vila Real), a Tuna da Escola Superior Agrária de Santarém (…)
Várias escolas utilizam canções suas simples ou encenadas (‘operetas’ do livro O CALDINHO DE PEDRA) dedicadas às crianças até ao 5º ano.
É de sublinhar a sua participação em grandes projectos institucionais com a criação dos Hinos. Entre vários outros:
– HINO DE SINTRA PATRIMÓNIO MUNDIAL; (requerida aprovação oficial)
– HINO DA AMADORA (Cidade-Menina – Cidade-Mulher); (requerida aprovação oficial)
– HINO DA COMUNIDADE VIDA E PAZ; [OFICIAL]
– HINO DA COPAAEC (Confederação Portuguesa dos Antigos Alunos do Ensino Católico); [OFICIAL]
– HINO DA OMAAEC (Organização Mundial dos Antigos Alunos do Ensino Católico). [OFICIAL]
– (…)
OBRAS MAIS RECENTES DO AUTOR
2000 – O HOMEM DO DOURO NOS CONTOS DE JOÃO DE ARAÚJO CORREIA;
2003 – MANUEL DO MUNDO (teatro);
2003 – O UNGIDO DE DIÓNISOS E OUTROS ENSAIOS (figuras literárias: Fernando Pessoa, Miguel Torga, Araújo Correia, Agustina, M. Alegre, Álvaro de Campos, Camões…);
2004 – MÚSICAS PARA A MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA;
2005 – CANCIONEIRO SALOIO;
2005 – O PODER MATRIARCAL NO DOURO, SEGUNDO AGUSTINA (Conferência na Casa do Douro, organizada pelo C.I.C.D.A.D. (Círculo Cultural do Alto Douro) em homenagem a Agustina Bessa-Luís); s/ ed.
2006 – SEMINÁRIO DE DIAMANTE (nos 75 anos do Seminário de Vila Real);
2006 – GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO I: . Cantigas da Vinha;
2007 – GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO II: . Tunas Rurais- Cantares Religiosos-Rimances-Desgarradas;
2009 – GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO III: . Contexto histórico, duriense, poético, musical e europeu;
2010 – HEITORZINHO DE LOUREIRO, PAIXÃO E SANTIDADE (drama em 3 actos);
2010 – AFONSO HENRIQUES, NO DOURO NASCIDO E EDUCADO (jornalismo histórico – fora do mercado);
2010 – A Crítica Pedagógica de J Araújo Correia no conto DOIS ANOS DE VIÚVA – in: Revista TELLUS (Grémo Literário – Vila Real);
2011 – D. AFONSO HENRIQUES – OS MISTÉRIOS E A LÓGICA;
2011 – CANCIONEIRO ANCESTRAL BARROSÃO (em co-autoria com o Padre António L. Fontes–Vilar de Perdizes);
2011 – RIMANCEIRO DO ALTO DOURO;
2012 – POESIA TRADICIONAL DURIENSE, COM D. SANCHO I, O PRIMEIRO TROVADOR;
2012 – MÚSICAS (44) PARA A MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA (2ª edição acresc.);
(Literatura – História (sobretudo a vitivinícola do Alto Douro) – Música (própria e cancioneiros) – Teatro (também operetas) – Jornalismo – Pedagogia – Poesia Trovadoresca – Saudades de Coimbra (Tuna Académica da Universidade de Coimbra)
Altino M. Cardoso – O HOMEM E A OBRA – BIO-BIBLIOGRAFIA (2024)
PERFIL LITERÁRIO DE ALTINO M. CARDOSO – Eng. Jorge Sales Golias (2017)
“Penso que, de todas as artes, a que revela o que a Humanidade é de mais profundo e absoluto é a Música. A Literatura é uma música um tom abaixo. Não se explica, não é da ordem do conceito como a filosofia.” (Eduardo Lourenço)
“A Alma tem sede de Absoluto e o Absoluto situa-se para além deste Mundo.” – (Victor Hugo)
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ONE DAY AT THE TIME(M: Whitney Blake | Transcr e harm: Altino M Cardoso
LETRA:
1. Linda Cidade da Régua, Princesa do nobre Douro
Tens o valor e o encanto Do mais sagrado tesouro!
Circundada de vinhedos Garridos e verdejantes,
São eles a tua Coroa, que mostras aos visitantes.
REFRÃO:
Régua, Cidade bendita, Tens afinal o condão
De encantar quem te visita, Prendendo-lhe o coração…
Até as águas do Douro Vão correndo a chorar,
Saudosas por não poderem Ficar-te sempre a beijar!…
2. Terra pujante de seiva, Corajosa e altaneira,
Não há outra que mais seja Fidalga e hospitaleira!
A Senhora do Socorro, de olhar materno e radiante,
Vê-te ajoelhada a teus pés Em adoração constante.
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Valsa: O Douro na Régua (Música: Altino M Cardoso (Livro 400 Canções Próprias Reunidas p. 459)
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Marcha de Loureiro 2006 (L e M – Altino M Cardoso)
Ver letra em https://amadora-sintra-editora.pt/produto/marchas-da-juventude-loureiro/
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Marcha de Godim 2018 (L e M : Altino M Cardoso)
Ver letra em https://amadora-sintra-editora.pt/produto/marchas-da-juventude-loureiro/
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Arraial de Lamego | GCAD – Vol I – p. 103 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]
ARRAIAL DE LAMEGO
– Ó minha mãe, deixe, deixe,
ó minha mãe, deixe-me ire (bis)
ó arraial de Lamego,
que eu vou e torno a vire. (bis)
– Tu vais e tornas a vire?
ó filha, virás ou não: (bis)
o arraial de Lamego
é a tua perdição! (bis)
– Se é a minha perdição,
ó minha mãe deixe sere: (bis)
eu não vou co’o meu amore,
que ele deixou de me vere. (bis)
Ele deixou de me vere,
deixou de me acompanhare: (bis)
ó minha mãe, deixe-me ire,
que eu, se for, hei-de voltar! (bis)
NOTAS BREVES Como nas cantigas de amigo, a mãe tem cuidado com o comportamento da filha (e esta já tem certa ‘folha de serviço’…). Existe leixa-pren e tenção entre mãe e filha. O arraial de Lamego é antiquíssimo.
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Adeus, ó senhor patrão (desgarrada) (Recolha Altino M Cardoso – in: GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, Vol II)
– Adeus, ó senhor patrão,
Não le devo nem um dia, (bis)
Mas antes me deve a mim
As noites qu’eu não dormia. (bis)
– Vai-t’embora, desgraçado,
Vai para a tua mulher; (bis)
Se morres, vais p’ra o inferno,
Nem o diabo te quer. (bis)
– Ó mulher’s, ó desgraçadas,
Por que vos não confessais (bis)
Aos delitos que fazeis
E aos corações que roubais? (bis)
NOTA BREVE Há variadíssimas versões da letra desta desgarrada (e de todas as cantigas populares). Na versão desta recolha as quadras da letra não têm assunto sequencial. A repetição (bis) está aqui marcada no 2º verso de cada quadra; mas também aparece aplicada ao 1º verso de cada quadra.
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Desgarrada das pousas (Recolha: Altino M Cardoso – in: GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, Vol II)
Eu chiguei agora aqui,
eu chiguei aqui agora, (bis)
se é cedo, deixaime stare,
se é tarde, mandai-me imora! (bis)
Eu chiguei agora aqui,
para todos um bom dia!
Raparigas desta terra,
cantemos com alegria!
Se eu canto, é pra ‘sq’acere
as panas de todo o dia:
raparigas desta terra,
cantemos com alegria!
Quem canta seu mal espanta
quem chora mais o aumanta:
eu canto pra espalhare
a paixão que me atromanta!
Quem canta seu mal espanta,
quem chora mais o aumanta!
E agora bou treminare,
bou-me imora descansare;
Só têm de desculpare
sinhoras e cabalheiros:
e agora bou treminare,
bou-me imora pra Jugueiros.
NOTA BREVE Actualmente há quem chame “lagaradas” às tradicionais pousas…. e “barricas” às pipas…
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Desgarrada das Vindimas (Recolha Altino M Cardoso – in: GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, Vol II)
Boua noute, meus senhores,
Bou começar a cantar
ai, boua noute, meus senhores
bou começar a cantar.
pra espairecer a bindima
e as ubas que há pra acartar.
Quando chegam as bindimas
põem-se as trouxas de couro: (bis)
não há nada mais bonito
do que as bindimas do Douro! (bis)
As bindimas, bindiminhas,
as bindimas boas são_ (bis)
fui de casa co’um cruzado
entrei com meio tostão. (bis)
Toca a apartar, apartar,
o gacho preto do branco; (bis)
também a mim me apartaram
do amor que eu amo tanto. (bis)
Dói-me a barriga com fome,
mas não é com fome de ubas: (bis)
é fome dos teus carinhos,
que tu, amor, me recusas. (bis)
Ó bideira, dá-me um gacho,
um gacho bem madurinho: (bis)
ó gacho, ó lindo gacho,
bais ser pró meu amorzinho! (bis-etc)
Ó bideira, dá-me um gacho,
ó gacho, dá-me um respigo
para dar ao meu amor,
que anda raiboso comigo.
Dá-me da tua ramada
um gacho de moscatel,
que eu te darei um da minha,
quando maduro estiber.
– Nós somos bindimadeiras,
cortamos ubas doiradas,
– E nós, alegres, pisamos
as ubas por bós cortadas.
Nas bindimas, nas bindimas
é labuta sem parar:
as mulheres cortam nas ubas,
os homens bão pró lagar.
– Ó meu rico regadinho,
que lebas na tua abada?
– Um gacho de moscatel
que é pra dar à minha amada.
Bindimas, minhas bindimas,
as bindimas boas são:
se não fossem nas bindimas,
ou me casaria ou não.
Gachos de ubas bindimei,
deles bou fazer o binho,
e só dele probarei
no dia de São Martinho.
A bideira malvasia
dá bem ubas para comer,
mas também serbe pra dar
bom binhinho para buber.
Bamos o binho pisar,
perna abaixo, perna arriba:
o feitor já foi buscar
augardente prá barriga.
Tudo bebe, minha gente
prás ubas melhor pisar;
uma pinga de augardente
põe toda a gente a cantar.
Rapazes, bamos imora (=embora),
a meia-noite está dada:
senão tenho em minha casa
sermão e missa cantada!
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2022
Há 25 anos foi fundado o
MUSEU DO DOURO
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há 20 anos foi instituído pela UNESCO o
ALTO DOURO VINHATEIRO PATRIMÓNIO MUNDIAL
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Para 2023 - um Sonho:
Rumo ao
ALTO DOURO PATRIMÓNIO IMATERIAL MUSICAL
O Património Imaterial do Alto Douro é constituído por:
Cantigas da Vinha, Lendas e Narrativas, Rimances, Cantares e Rimas Religiosas
Chulas, Desgarradas…
(Ver noGRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO
https;//amadora-sintra-editora.pt
publicado em 2006, 2007 e 2009 – (3 volumes, 1.150 músicas, 1.920pgs.)
O Homem dos primórdios, saibrador do Alto Douro
... molhou o Pão dos Filhos nos rios de suor do rosto;... a Fé e a Arte deram Dignidade e Libertação ao escravo;... 'rasgava uma Chula' como rasgava uma dúzia de bardos na 'caba';... violentou a Eternidade, como Diónisos e Prometeu;... criou o seu próprio Paraíso-D'ouro, como São Leonardo;... ... e fez florir um arco de violino dos calos da enxada!
GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO– Vol II (contracapa)
Elevação da MÚSICA DO DOURO a PATRIMÓNIO IMATERIAL MUNDIAL
Sou o autor do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, uma recolha (com um estudo histórico-literário) de 1.150 musicas em 3 grandes volumes, num total de 1.920 pgs.
Tenho vindo a partilhar essas e várias outras músicas (letras e som mp3) através do meu site: https://amadora-sintra-editora.pt
Vamos mostrar à UNESCO:
Além das marcas materiais da Paisagem, será bom não esquecer o Património Imaterial do Douro:
As narrativas em prosa, as narrativas em verso (os rimances), as canções de amor e trabalho da vinha, as chulas, as tunas rurais, os cânticos religiosos, as desgarradas….
Estas Memórias colectivas fazem com que a Poesia e a Música constituam uma das expressões da alma suprema do Povo do Douro.
Se a poesia revela fragilidades, as músicas são imutáveis: qualquer melodia, mesmo a mais linear, tem as estruturas matemáticas de um diamante.
Estes diamantes foram polidos por muitos séculos de uso sobretudo a partir de um eixo comum, que se pode situar no séc. XI: a centralidade de Santiago de Compostela.
Tal centralidade foi garantida, ampliada e solidificada pela acção da ordem de Cister de S. Bernardo, que, aqui no Douro, fundou vários conventos: S. João de Tarouca, Salzedas, S Pedro das Águias, St Maria de Aguiar… o que não foi por acaso.
A monarquia borgonhesa trouxe até D Afonso Henriques as vinhas natais da Borgonha e a acção vitivinícola dos frades sublimou-se na criação do “vinho cheirante de Lamego”, domínio de Egas Moniz, de Afonso Henriques e de D. Sancho I.
– O Douro vitivinícola foi uma criação de Cister, com D. Afonso Henriques (Varais, 1142);
– O primeiro Trovador (cantiga de amigo, 1199, é D. Sancho I;
– O primeiro Teatro em Portugal é dos dois Bobos de Canelas (do mesmo D. Sancho I, 1193).
Pessoalmente, como duriense, embora viva em Sintra, sinto muito que o nosso Douro pouco se tenha atrevido a estudar e a reivindicar o seu privilegiado estatuto e pioneirismo político, religioso, cultural e económico a nível nacional.
Tudo o que é sociologicamente importante está documentado nas mensagens das cantigas:
De facto, esse tempo factual da Fundação de Portugal é de guerra e sofrimento; mas a Memória Imaterial preserva, na poesia e na música, o amor, e a religião, e a ruralidade, e a iniciativa feminina, e os cenários domésticos, e o matriarcado, e o animismo (comunhão com a terra)… e, mais ainda, as festas e os bailaricos, as troças, as más línguas e quezílias… nas cantigas de amigo, de amor e de maldizer dos Cancioneiros.
Felizmente, ainda tem sido possível arquivar parte de todo esse manancial sociológico em cancioneiros e outras recolhas, e identificar as grandes estruturas formais da arte poética e musical, que ainda hoje perduram em muitas cantigas do Alto Douro:
o leixa-pren, o número par de estrofes, a adaptação à dança (com voz e coro), o refrão, o paralelismo, a alternância vocálica das rimas….
Assiste-se actualmente a uma grande degradação dos gostos e modas comerciais desta sociedade de abuso e consumo: até a própria Língua Portuguesa se está a bastardizar e a corromper … Mas é estimulante a receptividade que a UNESCO demonstrou ao reconhecer a MÚSICA ALENTEJANA como Património Mundial.
Como instituições e pessoas de vocação cultural, penso que tudo temos de fazer para promover ao máximo este projecto.
Estamos a organizar o processo de registo do Património Musical do Alto Douro na Listagem Nacional do Património Imaterial, da
DIRECÇÃO GERAL DO PATRIMÓNIO CULTURAL
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Prioridade de registo:1. RIMANCEIRO DO ALTO DOURO (in: GCAD), recolha e escrita de Altino M Cardoso
120 rimances medievais (estudo histórico-literário inicial, letras e pautas)
2.CANTIGAS PARALÍSTICAS (50) DO ALTO DOURO(in: GCAD), recolha e escrita de Altino M Cardoso
(Pedida a colaboração de Instituições alto-durienses)
PATRIMÓNIO IMATERIAL DO ALTO DOURO
As ofertas de trabalho nas vinhas do Alto Douro atraíam e concentravam todas as manifestações de arte das serras circundantes.
Não é possível estabelecer uma certidão de nascimento para quaisquer dessas músicas (cantadas ou apenas tocadas): mas documentam-se, sim, as ligações de conteúdo e forma literária de muitas cantigas tradicionais às raízes galego-portuguesas do início da Nacionalidade, ainda hoje estudadas nas Escolas.
Nas canções tradicionais encontramos a continuidade histórico-cultural desde o galego-português (cantigas de amigo, amor e maldizer), o trabalho e as estações do ano, os provérbios, a vida doméstica e social, a religião (a oficial católica e a popular), os rimances (alguns ligados a Carlos Magno – séc IX !), os lazeres dos bailes e das festas e romarias, os serões… e, até, os maldizeres…
Livros (músicas, letras e enquadramentos histórico-literários):
Loja – MUSEU DO DOURO (Régua)
Lojas DRCN – MUSEU DE LAMEGO (S. João de Tarouca + Salzedas)
Contextos histórico-literários das cantigas
Ver muito bem:
Introdução ao Grande Cancioneiro do Alto Douro (vol I):
Estudo das raízes dos cantares tradicionais:
O contexto histórico galego-português, a geografia, a formação de Portugal, os temas, os géneros, a sociologia, as formas literárias, as simbologias…
Síntese:
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-LITERÁRIO DAS CANÇÕES
Lamego, Braga, Guimarães e, depois, Vila Real, antigas e nobres terras do início da Nacionalidade, foram importantes pólos de consolidação da nossa Nacionalidade e de Romagem a Santiago de Compostela, a mais importante romagem da Europa (…)
Aqui tomavam alento espiritual as Cruzadas contra os Mouros (…)
Ao mesmo tempo, as peregrinações ou Jacobeos (Tiago=Jacob) transformavam também Santiago de Compostela num centro difusor da Cultura Medieval, pois aí eram expostas ao púbico as criações dos trovadores, jograis e segréis:
as cantigas de amigo, amor e escárnio. (…)
As cantigas de amigo galego-portuguesas têm um valor literário e sociológico elevados, o que se pode consubstanciar em algumas grandes características gerais:
A – A Coita de iniciativa feminina. Revela-se nas preocupações da donzela relativas ao seu amigo, integrado nos perigos e ausências das guerras (‘fossado’ ou ‘ferido’) da fundação e consolidação da nossa nacionalidade.
B – A Ruralidade. O sujeito poético (ou iniciativa lírica) é a rapariga do campo no seu ambiente: nas bailadas mostra-se sonhadora e sedutora, nas alvas ou serenas encara o dilema de dormir ou não com ele, nas barcarolas ou marinhas lembra a sua partida ou dialoga com as ondas sobre ele, encontra-se com ele na fonte ou no rio, atreve-se a procurar o amor…
C – O Animismo. Consiste no desabafo com a Natureza: as flores , o vento, as águas, as ondas…
A coita feminina, a ruralidade e o animismo englobam variados sentimentos de intimismo, confidência (mãe, irmãs, amigas), enlevo, cuidados, ansiedade, paixão, saudade, morte de amor, recusa de mexericos, confiança e insegurança, algum narcisismo…
D – O Paralelismo é um conjunto de características poéticas formais e baseia-se na insistência contemplativa numa emoção (saudade, coita, etc.):
– o Número par de estrofes – processo adequado à dança em voz e coro, ou dois coros;
– a Tenção – diálogo, que caracteriza a desgarrada e a cantiga de desafio;
– o Leixapren – repetição do último verso da estofe anterior como 1º verso da estrofe seguinte;
– a Alternância vocálica da tónica – ex. amigo/amado;
– o Refrão – bordão, apoio e síntese métrica da estrofe, ponto de encontro, charneira e partida para nova estrofe.
Para além do valor poético-literário e musical, as cantigas populares medievais e do Alto Douro legam-nos um manancial de pormenores sócio-culturais,
que muitas cantigas actuais ainda conservam, de modo inesperado, mas flagrante.
Entre as variadas modalidades e estilos das canções que foram preservadas na memória do percurso poético-musical de Altino M Cardoso e constituem o volume
400 CANÇÕES PRÓPRIAS REUNIDAS(532 páginas)
encontra-se um grupo de TANGOS.
Também estes tangos (próprios) se integram na Memória da TAUC (Tuna Académica da Universidade de Coimbra) e sua Orquestra de Tangos, que nos permitiam animar os espectáculos da Tuna geral e também nos concediam ‘borlas’ para os inúmeros bailes em que participávamos, como actores e ‘utentes’. Entrávamos em palco com o indicativo do fado “Coimbra menina e moça”, adaptado instrumentalmente ao ritmo do tango — “.. rouxinol de Bernardim/ não há terra como a nossa/ no mundo não há outra assim…” – está escrito até em Música – que é eterna!
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EXEMPLOS:
Tango [e] (400 CPR, 475) [M e Harm Altino M. Cardoso)
Tango [e2] (400 CPR, 476) [M e Harm Altino M. Cardoso)
Tango [g-G] (400 CPR, 477) [M e Harm Altino M. Cardoso)
Tango [Déjame] (400 CPR, 478) [L – M e Harm Altino M. Cardoso)