2022-CANTIGAS PARALELÍSTICAS Douro

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NOTA INICIAL:

       
   O livro "50 CANTIGAS PARALELÍSTICAS DO ALTO DOURO" ,
[Separata do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO] 

foi distribuído por todas as Câmaras do CIMDouro 
e outras instituições municipais e culturais do Alto Douro
por iniciativa do autor, Altino M Cardoso. 

CANTIGAS PARALELÍSTICAS

(Alto Douro)

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Um incentivo especial de um epítome da Cultura actual trasmontano-duriense:
15-11-2022
Caro Amigo Dr Altino Cardoso:
Obrigado pelo livro que me enviou há dias.
Vejo que continua a sua cruzada em prol da música duriense e não posso deixar de incentivá-lo a prosseguir o seu trabalho em busca das raízes mais profundas da nossa identidade.
Obrigado – parabéns – e continue!
Abraço

– AM Pires Cabral

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É URGENTE CONHECER E AMAR
A Nobre e Poderosa Música Tradicional do Alto Douro

           Quem assume a ousadia de incluir nos eventos culturais a poderosa MÚSICA DO ALTO DOURO,

como nós fazemos com a publicação do

GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO

– com 1.920 páginas e 1.150 canções)? Em 2006 (vol I), em 2007 (vol II) e em 2009 (vol III),

Quem quer conhecer a NOSSA POESIA E MÚSICA secular – ouvi-la, cantá-la, dançá-la, vivê-la?

Descobrir nela os dramas, as saudades, as alegrias e tristezas de um Povo que ousou elevar-se ao nível do Mundo?

Emocionarmo-nos, irmanarmo-nos com ela? Solidarizarmo-nos com as marcas do Sangue, do Suor e do Amor?

Quem a poderá vivificar? Proteger? Partilhar?

Quem a poderá ajudar a penetrar e permanecer na intimidade da Memória Colectiva Duriense?

Preservar o pouco que ainda dela resta? 

Quando poderá ser possível acabar a iliteracia musical, insensível ao som e à luz, irmã do esquecimento e, pior, do analfabetismo snob?

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A poética das cantigas paralelísticas do galego-português (séc XII…) é (ainda) estudada nas Escolas.

A memória musical do ALTO DOURO ainda conserva algumas das músicas que as constituíam.

O 20º Aniversário do Alto Douro Património Mundial impõe procurar essa Memória Musical

nos livros da Escola e das pautas (letras e músicas):

                                         GCAD – GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO Volumes I e II (e III)

                                         GCAD – GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO – 50 CANTIGAS PARALELÍSTICAS (Separata)

                                         GCAD – Vol I – Introdução: https://amadora-sintra-editora.pt/produto/cantigas-da-vinha/

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Alguns exemplos: letras e som mp3 – 50 CANTIGAS PARALELÍSTICAS

NESTE ENDEREÇO:

https://amadora-sintra-editora.pt/produto/2022-cantigas-paralelisticas/

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EXEMPLOS

À Horta | GCAD – Vol I – p. 48 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

À HORTA

1.Quando vou à horta,
quando vou e venho,
já me não importa
do amor que tenho! (bis)

Refrão I:

Do amor que tenho
já me não importa:
quando vou e venho,
quando vou prà horta. (bis)

2.O meu amorzinho
anda carrancudo
por lhe não falare
vezes amiúdo. (bis)

Refrão II:

Vezes amiúdo
não lhe hei-de falare:
se anda carrancudo,
deixá-lo andare! (bis)
(Recolha: Constantim e Pegarinhos, Agosto de 1959)

NOTAS BREVES

Algumas características do paralelismo:
Está presente a ruralidade e a confissão do amor colocada na iniciativa feminina da expressão poética. O sujeito poético narra, com graciosa ironia e satisfação (“já me não importa”) e certeza de felicidade mesmo (ou ainda mais) perante um arrufo do namorado… por querer que ela lhe fale “vezes amiúdo”.
Formalmente: além do leixa-pren (múltiplo), jogo de palavras, dobre e mordobre. Em “andare” etc. transcreve-se a versão fónica silábica para a correspondência com as sílabas musicais.

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A minha saia velhinha (GCAD I, 52) [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

A MINHA SAIA VELHINHA
Ela: Ai, num olhes para mim
Ai, num olhes tanto, tanto!
Ai, num olhes para mim,
Que eu num sou o teu incanto! (bis)

Refrão
A minha saia belhinha
Toda rotinha de tanto bailar
Agora tenho uma noba
Feita na moda pra istriar.

Ele: Ai num olhes para mim,
Ai num olhes, ó baidosa!
Ai, num olhes para mim,
Que num és nenhuma rosa!

Ela: Ai num olhes para mim,
Ai num olhes por fabore!
Ai num olhes para mim,
Que eu num sou o teu amore!

Ele: Ai num olhes para mim,
Ai co’ essa cara torta,
Ai num olhes para mim,
Bai bater a oitra porta!

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A perdiz anda no monte – GCAD – Vol I – p. 53 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

A PERDIZ ANDA NO MONTE
1. A perdiz anda no monte,
O perdigão no valado. (bis)
A perdiz anda dizendo:
– «Anda cá meu namorado…»(bis)

2. Anda cá meu namorado,
Que estás nas bandas de além. (bis)
Anda cá dá-me um abraço,
Que eu te quero tanto bem. (bis)

3. Que eu te quero tanto bem,
Que eu te quero até morrer: (bis)
Até debaixo da terra,
Meu amor, podendo ser!… (bis)

NOTAS BREVES

Trata-se de uma cantiga de amigo, tendo como principais características:

Ruralidade – animismo (natureza animal: ela=perdiz – ele=perdigão).  Simbolicamente, a perdiz está associada à beleza dos olhos femininos. Sublinhar o leixa-pren, a iniciativa confessional feminina. Valor do imperativo/súplica. Notável ainda que a garantia de um amor eterno associa a sugestão de paixão escatológica de perdição e de morte de amor: “até debaixo da terra…”

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Ai, ai, ai, minha machadinha – Recolha e harmonização de Altino M Cardoso

AI, AI, AI, MINHA MACHADINHA

Ai, ai, ai, minha machadinha! (bis)
Quem te pôs a mão, sabendo que és minha? (bis)
Sabendo que és minha também eu sou tua
Salta machadinha pró meio a rua.
No meio da rua não hei-de eu ficar,
Eu hei-de ir à roda escolher o meu par,
Escolher o meu par bem escolhidinho,
Salta machadinha deita-te ao caminho.

NOTAS BREVES

Apesar de esta belíssima cantiga (um diálogo ou tenção) ter estado sujeita a muitas modificações, creio que ainda será possível reconstituir a narrativa (talvez mesmo medieval) que lhe daria origem: 

Numa dança de roda o namorado, apaixonado e ciumento, não deixa que a sua amada dance com mais ninguém. Como um outro rapaz insiste em requisitá-la, ele quer que ela saia da roda. As coisas azedam e depois das palavras duras loucas de ciúmes, o namorado ataca o rival com uma machada. Um episódio destes daria esse rimance de cego – como muitos outros que circulavam pelas feiras e romarias de tempos ainda não totalmente extintos… – ultimamente acompanhadas de distribuição de folhetos com a letra, para recolha de dádivas dos comovidos ouvintes circundantes.

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Aninhas – GCAD – Vol I – p. 92 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

ANINHAS

1.Ó Aninhas, ó Aninhas,
Ó Aninhas da varanda, (bis)
Se tens sono vai dormire,
Que o teu amor práqui anda… (bis)

2.Que o teu amor práqui anda
À espera de um beijo teu… (bis)
Dá-me ao menos um sorriso,
Porque o teu amor sou eu. (bis)

3.Porque o teu amor sou eu,
Anda cá minha amiguinha: (bis)
Anda dar-me muitos beijos,
Tu ainda hás-de ser minha! (bis)

4.Tu ainda hás-de ser minha
Vem pra mim, vem me abraçar: (bis)
Hei-de levar-te à igreja,
Para contigo casar! (bis)

Algumas características do paralelismo:
Está presente nesta cantiga de amor (como em muitas outras deste GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO) a técnica medieval do leixa-pren até à última estrofe. 
A mesura social obriga, quando muito, ao namoro da janela, ou da varanda, para a rua. Um abraço (ou até um toque mais prolongado de mãos…)? só no casamento (pelo menos nas convenções sociais).

Como a iniciativa é masculina, trata-se de uma serenata, uma cantiga de amor e não de amigo. Mas também chama carinhosamente amiga (“amiguinha”) à  namorada.

É de notar a mesura, uma das cacterísticas do trovadorismo de amor. A situação do namoro, ou escala amorosa, é de entendedor (já não de fenhedor nem precador). Também não será a de drudo (=amante), pois no amor galego-português não existe a situação de adultério.

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Aqui aqui aqui – GCAD – Vol I – p. 100 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

AQUI, AQUI, AQUI

Aqui, aqui, aqui,
aqui é que eu hei-de estare (bis)
toda a noite a dar paleio,
toda a noite a paleare… (bis)

Toda a noite a dar paleio,
toda a noite a palear, (bis)
toda a noite assentadinha,
toda a noite a namorar… (bis)

Toda a noite a namorar,
toda a noite a dar paleio, (bis)
é um regalo andar
com meu amor ao passeio! (bis)

Versão 2 – OUTRA LETRA
Aqui, aqui, aqui,
Aqui, agora, agora, (bis)
Aqui, neste recantinho,
É aqui que se namora. (bis)

Aqui, aqui, aqui,
Aqui é qu’eu hei-de estare, (bis)
Aqui, neste recantinho,
Toda a noite a namorare! (bis)

Toda a noite a namorare,
Toda a noite a dar paleio, (bis)
É um regalo andare
Com seu amor ao passeio! (bis)

Com seu amor ao passeio
Seu amor a passear, (bis)
É um regalo na vida
Noite e dia a namorar! (bis)

Aqui, aqui, aqui,
Aqui é que se está bem, (bis)
Ai ao pé do meu amor,
Só com ele e mais ninguém! (bis)

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Aqui moças | GCAD – Vol I – p. 101 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

AQUI, MOÇAS

Aqui, moças, aqui, moças,
aqui, moças a bailare, (bis)
foi aqui onde eu perdi
o meu lenço de assoare. (bis)

O meu lenço de assoare
inda não foi à barrela: (bis)
é só pra dizer adeus
quando me eu for desta terra. (bis)

Quando me eu for desta terra
duas coisas vou pedire: (bis)
firmeza e lealdade
até eu tornar a vire. (bis)

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Arraial de Lamego | GCAD – Vol I – p. 103 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

ARRAIAL DE LAMEGO

– Ó minha mãe, deixe, deixe,
ó minha mãe, deixe-me ire (bis)
ó arraial de Lamego,
que eu vou e torno a vire. (bis)

– Tu vais e tornas a vire?
ó filha, virás ou não: (bis)
o arraial de Lamego
é a tua perdição! (bis)

– Se é a minha perdição,
ó minha mãe deixe sere: (bis)
eu não vou co’o meu amore,
que ele deixou de me vere. (bis)

Ele deixou de me vere,
deixou de me acompanhare: (bis)
ó minha mãe, deixe-me ire,
que eu, se for, hei-de voltar! (bis)

NOTAS BREVES
Como nas cantigas de amigo, a mãe tem cuidado com o comportamento da filha (e esta já tem certa ‘folha de serviço’…). Existe leixa-pren e tenção entre mãe e filha.
O arraial de Lamego é antiquíssimo.

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Carpinteiro, não!  | GCAD – Vol I – p. 101 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

CARPINTEIRO, NÃO!

– Ó Joaquininha (ó Joaquininha) que moras no oiteiro
Andas de namoro (andas de namoro) com o carpinteiro…??
– Carpinteiro, não, (carpinteiro, não) que me tranca a porta;

– É um soldadinho (é um soldadinho) que anda na tropa…
– Soldadinho, não, (soldadinho, não) que anda a marchare;

– É um barbeirinho (é um barbeirinho) que sabe berbeare…
– Barbeirinho, não, que amola as navalhas;

– É um alfaiate (é um alfaiate), que nos talha as saias…
– Alfaiate, não, que é meio aldrabão;

– É um padeirinho (é um padeirinho) que nos amassa o pão…
– Padeirinho, não, que amassa o farelo;

– É um ferreirinho (é um ferreirinho) que bate no martelo…
– Ferreirinho, não, que ele anda mui negro;

– É um pedreirinho (pedreirinho), que racha o penedo…
– Pedreirinho, não, que pica na pedra;

– É um labradore (é um labradore), que nos lavra a terra…
– Labradore, não, que racha a nabiça;

– Há-de ser um padre (há-de ser um padre), que nos diga a missa…

– Oh! homens, oh, homens (oh homens oh homens), não devia havere!
São todos iguais (são todos iguais), não há que escolhere:
Deitai-os no fogo (deitai-os no fogo), deixai-os ardere!…

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NOTAS BREVES

Analisada superficialmente, esta curiosa lengalenga entre vizinhas, parece uma simples ilustração do ditado: “Quem desdenha quer comprar…”. Assim, depois da rejeição de todas as hipóteses de arranjar marido, até um padre dava jeito, mas eles eram inacessíveis e solteirões (pelo menos em teoria). Então, o que restava? O desespero da bomba atómica: queimá-los todos!  Mas uma análise minimamente atenta revelará que uma Mulher com consciência do seu valor na família (maternidade) e na sociedade (trabalho), não encontrará facilmente um homem que a compreenda e valorize em toda a plenitude.     

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Ciranda (GCAD I, 152)  [Recolha e Harm AMC]

CIRANDA

Ó Ciranda, ó Cirandinha,
vamos nós a cirandare: (bis)
na ramada das videiras
anda a ciranda no are. (bis)

Anda a ciranda no are,
anda a ciranda no chão:(bis)
ó Ciranda, ó Cirandinha,
amor do meu coração. (bis)

Amor do meu coraçãoe,
não há palavra mais doce; (bis)
quer tu me queiras, quer não,
gosto de ti, acabou-se! (bis)

Ó ciranda, ó cirandinha,
vamos todos cirandare, (bis)
vamos dar mais meia volta,
meia volta e troca o pare! (bis)

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Outra versão da letra:
Dona Chica, Dona Chica,
faz favor de entrar agora:
cante lá um lindo verso,
diga adeus e vá-se embora!
Diga adeus e vá-se embora
que eu fico pra bailar:
quero dar mais meia volta
com o meu querido par.
NOTAS BREVES

O nome teria vindo do espanhol “zaranda”, um instrumento (como a peneira ou a tarara) usado para separar a palha do grão ou peneirar farinha. Como no galego-português, nas cantigas de amigo, os temas das letras versavam sobre o mundo rural: a agricultura, o campo, a natureza, o amor…  A coreografia é bastante simples: no compasso da música, dão-se quatro passos para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida forte do bombo, balançando os ombros de leve em direção à roda.

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Coradinha, olá, olá | GCAD – Vol I – p. 156 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

CORADINHA OLÁ, OLÁ!

1.Coradinha, olá, olá!
coradinha, olá, limão! (bis)
dá-me cá esses teus braços,
darei-te o meu coração! (bis)

REFRÃO:

Fala-me, rosa,
a mim sozinha,
v’rás como ficas
coradinha! (bis)

2.Darei-te o meu coração
e a chave pró abrir: (bis)
não tenho mais que te dar,
nem tu mais que me pedir! (bis)

NOTAS BREVES

Cantiga de amor, dada a iniciativa masculina. O namorado já goza de um estatuto de proximidade com a mulher amada; no entanto, ela ainda cora com as plavras de amor que ouve. Mas o namorado não é um drudo, ou amante, como na lírica provençal, mas um noivo que oferece casamento, usando uma belíssima metáfora para exprimir os seus sentimentos de dádiva incondicional e total: “Darei-te o meu coração/ e a chave pró abrir” – nem ele  pode dar mais, nem ela pedir mais.

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Delaide, Delaidinha – GCAD – Vol I – p. 173 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

DELAIDE, DELAIDINHA

Ó Delaide, ó Delaidinha,
tua mãe está-te a chamar: (bis)
eu bem sei o que ela quere:
não me deixa namorar. (bis)

Não me deixa namorar,
ela também namorou: (bis)
minha mãe já não se lembra
do tempo que já passou. (bis)

Do tempo que já passou,
do tempo que já lá vai: (bis)
minha mãe já não se lembra
quando namorou meu pai. (bis)

Quando namorou meu pai
tinha ela a minha idade: (bis)
minha mãe já não se lembra
do tempo da mocidade! (bis)

NOTAS BREVES

Há outras versões da letra, com novos nomes (Aidinha, Deolinda, Adelaide…) mas o mesmo conteúdo: a mãe que não é confidente, mas oposição à vontade da filha.

Existe subjacente uma problemática igual à encontrada nas cantigas de amigo nas relações mãe-filha – de solidariedade e cumplicidade, ou, como aqui, de oposição.
Note-se o completo leixapren, até à última estrofe. Note-se, ainda mais, e além do paralelismo semântico correspondente, a alternância vocálica das tónicas rimáticas: ‘namorar<>namorou’.

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Doba, doba, dobadoira, doba | Recolha e Harm Altino M Cardoso

Esta noite, lá minha aldeia,
Já todos dormiam, e só eu velava; (bis)
Doba, doba, dobadoira, doba,
Não me enrices a meada. (bis)

Não me  enrices a meada,
Não me  enrodilhes o linho; (bis)
Doba, doba, dobadoira, doba,
Meu amor, dá-me um beijinho. (bis)

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Dom-solidom – GCAD – Vol I – p. 185 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

DOM-SOLIDOM

Olha a doiradinha
ai, dom-solidom…
como vai airosa! (bis)
a mão na cabeça,
ai dom-solidom…
não lhe caia a rosa!… (bis)

Olha a doiradinha,
ai dom-solidom…
como vai contente! (bis)
a mão na cabeça,
ai dom-solidom…
não lhe caia o pente!… (bis)

Olha a doiradinha,
ai dom-solidom,
como vai bonita! (bis)
a mão na cabeça,
ai, dom-solidom,
não lhe caia a fita!… (bis)

____

Outra versão:

Ai, a menina, dom solidom,
como vai contente.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
não lhe caia o pente.

Ai, a menina, dom solidom,
como vai airosa.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
não lhe caia a rosa.

Ai, a menina, dom solidom,
como vai bonita.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
não lhe caia a fita.

Ai, a menina, dom solidom,
com o seu raminho.
Ponha a mão na trança,
dom solidom,
segure o lacinho.

NOTAS BREVES

Doiradinha’, em vez de ‘menina’ é uma variante duriense da cantiga, perfeitamente adequada à mulher do Douro sempre bonita e ciosa da sua beleza e compostura! O tom contemplativo e apaixonado do sujeito poético masculino está subjacente ao tom menor da melodia.

Formalmente, além do paralelismo próprio do leixa-pren, um novo paralelismo interno ou intrínseco está presente nos dobres e mordobres do poema.

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Donde vens, Maria Rita? I 187

DONDE VENS, MARIA RITA?

– Donde vens, Maria Rita,
Que vens tão arreliada? (bis)
– Venho da Ribeira Nova,
De lavar, toda molhada!… (bis)

De lavar, toda molhada,
De cumprir a obrigação (bis)
– Donde vens, Maria Rita,
Amor do meu coração? (bis)

Amor do meu coração,
Quanto tenho te darei: (bis)
Darei-t’a luz dos meus olhos,
Cego por ti ficarei! (bis)

NOTAS BREVES

Como em muitas outros poemas-letras das cantigas galego-portuguesas, está aqui documentado um dos trabalhos respeitantes à vida da casa e da família: lavar a roupa. Esta cantiga (tenção marido-mulher) associa também uma declaração de amor – conjugal – apaixonado, que sabe apreciar e , até,venerar o trabalho feminino da dona de casa: “darei-te a luz dos meus olhos/ Cego por ti ficarei!” Tão lindo!

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Eu venho dali, dalém  GCAD – Vol I – p. 220 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

EU VENHO DALI, DALÉM

Versão I

Eu venho do laranjal,
eu venho dali dalém, (bis)
de baixo da laranjeira
que tanta laranja tem. (bis)

Que tanta laranja tem,
que tanta laranja tinha: (bis)
debaixo da laranjeira
namorei uma menina. (bis)

Namorei uma menina,
namorei uma donzela, (bis)
já pedi a mão ao pai,
agora caso com ela. (bis)

OUTRA VERSÃO

Eu venho dali, dali,
eu venho dali, dalém: (bis)
dubaixo do laranjal
tanta laranja lá tem! (bis)

Tanta laranja lá tem,
tanta folha miudinha! (bis)
Dubaixo do laranjal
inganei uma menina. (bis)

Inganei uma menina,
inganei uma donzela: (bis)
prometi-lhe casamento,
despois num casei co ela. (bis)

Inganei uma menina,
com tenção de a deixar… (bis)
ela me deixou primeiro:
quem me dera adebinhar! (bis)

Quadra desfasada, tardia:

Venha papel, venha tinta,
venha tamém o scribão!
Eu quero deixar escrito
os trastes que as mulheres são!…

OUTRA LETRA

OUTRA LETRA
Eu venho de lá de baixo
de regar o laranjal
inda aqui trago uma flor
no laço do avental.

No laço do avental,
ai prima que eu vou prá guerra!
se eu for e tornar a vir,
abre-me aquela janela.

Abre-me aquela janela,
abre-me aquele postigo;
ai, prima, que eu vou prá guerra,
em vindo, caso contigo.

Em vindo, caso contigo,
o casar é uma ilusão,
tomara-te eu ver, ó prima,
dentro do meu coração!

NOTAS BREVES

Ver notas à cantiga EU VENHO DE LÁ DE BAIXO

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Eu venho de lá de baixo GCAD – Vol I – p. 221 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

EU VENHO DE LÁ DE BAIXO

1Eu venho de lá de baixo
de regar o laranjal:
trago uma folha metida
no laço do avental. (bis)

Refrão:
O mar stá bravo
as ondas a bater
o mar stá bravo
meu amor vem ver!… (bis)

2No laço o avental,
no laço da belusinha;
de regar o laranjal
eu venho de lá sozinha.

3Eu venho de lá sozinha,
meu amor não veio, não;
de regar o laranjal
vem triste o meu coração…

NOTAS BREVES
Esta cantiga faz parte de um grupo, cujos títulos são EU VENHO DALI…e VENHO DA BEIRA DO RIO, presentes nesta obra [GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO – vol I, II e III] .

Sublinho a iniciativa da moça como sujeito poético e a sua ruralidade galego-portuguesa dos elementos comuns a essa  temática: a laranja, o laço, um encontro amoroso, a ida para a guerra.
A laranja encerra forte simbologia relacionada com a virgindade: a noiva tradicional leva(va), no Douro, um raminho de flor de laranjeira. O amor da rapariga não resiste ao dilema e à tentação sexual ao saber que o amado vai para a guerra e pode nunca mais voltar.
E o enlace é irresistível e ‘bravo’ como o choque das ondas do mar!
Na sua solidão triste, a moça guarda uma recordação no laço (‘enlace’) do avental, que pôs no chão, ou da ‘beluzinha’ que foi aberta ao amor: uma folha de laranjeira.
Formalmente, além do leixa-pren, existe paralelismo semântico e vários dobres e mordobres. Também é de notar que o ambiente rural está inscrito nos dados da natureza (“regar o laranjal”) e no trajar e nas ocupações da moça (o avental, a blusa…)  

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Moda da Rita | GCAD – Vol I – p. 302 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

MODA DA RITA

Esta é que era a moda
que a Rita cantava (bis)
Lá na praia nova, olaré,
ninguém lhe ganhava! (bis)

Ninguém lhe ganhava, (bis)
ninguém lhe ganhou!
Esta é que era a moda, olaré,
que a Rita cantou! (bis)

Esta é que era a moda
que a Rita cantou (bis)
Lá na praia nova, olaré,
ninguém lhe ganhou! (bis)

NOTAS BREVES

Esta cantiga apresenta jogos de palavras e de strings ou fraseados musicais que têm feito dela uma das mais cantadas, não só no Douro mas também em todo o País. A música adapta-se perfeitamente ao paralelismo semântico com as suas repetições ou insistências, tão ao jeito da lírica medieval, sobretudo se não esquecermos as técnicas poéticas do ‘dobre’ (repetição simples: “esta é que era a moda”) e ‘mordobre’ (repetição morfossintáctica, isto é nas formas de uma palavra ou em uma frase: “cantava/cantou, ganhava/ganhou”).

É de sublinhar a alternância vocálica das tónicas -a- e -o-  e, até, o eco -ó- -ó- da rimas. 
Curiosa é, também, a colocação do bordão (olaré) em fase não tónica (ou átona) da frase musical.
Estruturalmente, a cantiga apresenta um esquema: 3 estrofes/3versos+bordão+1 verso. As duas primeiras são paralelísticas dialógicas; a terceira encerra o diálogo numa síntese: cantou/ganhou. Semanticamente, existe a evolução gradativa do tempo verbal imperfeito (cantava/ganhava)>perfeito (cantou/ganhou), que torna o facto completamente passado.

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Ó Idália, flor da Idália | GCAD – Vol II – p. 1162 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

Ó IDÁLIA, FLOR DA IDÁLIA

Ó idália, ó felor da idália,
ó idália da flor amarela (bis)
ai, à sombra da flor da idália, ai,
ai, enganei eu uma donzela. (bis)

Ai, enganei eu uma donzela,
ai, enganei eu uma viúva… (bis)
ó idália, flor da idália,
ó idália da folhinha miúda! (bis)

……………

Ai, enganei uma viúva,
ai, enganei eu uma donzela: (bis)
ai, eu prometi-lhe casamento
e depois eu não casei com ela! (bis)

Ai, enganei eu uma donzela,
ai, enganei eu uma menina… (bis)
ó idália, flor da idália!…
ó idália da flor miudinha!… (bis)

NOTAS BREVES

A forma popular “idália” acrescentou a prótese da vogal inicial  i-  a “dália” (a flor).

Existe na cantiga uma forma extraordinária de utilizar o leixa-pren, associando os normais processos fónicos e morfossintácticos com as conotações ou iniciativas semânticas da mensagem. Também tem grande valor poético o animismo do diálogo e da confissão (com ou sem arrependimento…)

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O senhor do meio  (CT Escolas e CI Luso-Europeias – pg 208)  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

O SENHOR DO MEIO

O senhor do meio
julga que é alguém: (bis)
é um rapazinho
que nem barba tem! (bis)

O senhor do meio
ande ligeirinho bis()
se não quer ficar
no meio sozinho. (bis)

NOTAS BREVES

É visível na dança o despertar da mulher, das bonecas para o instinto de procriação, já com consciência biológica do seu poder sobre os rapazes, quando amadurecerem. Mas considerá-los ‘verdes’ pode incluir-se no provérbio quem desdenha quer comprar”.

Atenção também à iniciativa feminina, herdada das cantigas populares ‘de amigo’.

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Oh, que lindo par eu levo!  GCAD vol I 440  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

OH, QUE LINDO PAR EU LEVO!

Oh! Que lindo par eu levo
aqui à minha direita!
Oh! que linda rosa branca
que tão belo cheiro deita! (bis)

Que tão belo cheiro deita
rosa branca de toucar
aqui à minha direita
rosa branca é o meu par.(bis)
1955

NOTAS BREVES

A mulher em metáfora de rosa, branca e pura. Como o amor assumido e partilhado no corpo e na alma da poesia e da dança a dois.

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Peneireiro | GCAD – Vol I – p. 478 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

PENEIREIRO

Mais um peneireiro (*)
que na roda entrou (bis)
deixai-o bailare,
se ainda não bailou. (bis)

Ó do rouba-rouba
e torna a roubar: (bis)
rapaz deixa a moça,
vai pró teu lugar! (bis)

Vai pró teu lugare,
vai prá tua rua! (bis)
rapaz, deixa a moça,
que ela não é tua! (bis)

Que ela não é tua,
não é tua, não! (bis)
rapaz, deixa a moça
do meu coração! (bis)

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(*) variantes:
Mais uma estrela… Mais um papo-seco… (Constantim, 1950)

NOTAS BREVES

NOTAS BREVES

Estamos novamente em presença de uma situação de ciúmes numa dança: o namorado intima o outro pretendente a deixar a moça. As coisas não terão chegado a extremos como na “Machadinha”… (Ver mais acima a canção da Machdinha)

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Pombinhas da Catrina | GCAD – Vol I – p. 483 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

POMBINHAS DA CATRINA

As pombinhas da Cat’rina
Andaram de mão em mão, (bis)
Foram ter à Quinta Nova
E ao pombal de São João. (bis)

Ao pombal de São João
À Quinta da Roseirinha, (bis)
Minha mãe mandou-me à fonte
E eu quebrei a cantarinha. (bis)

Ó minha mãe não me bata
Que eu inda sou pequenina (bis)
Não te bato porque achastes
As pombinhas da Catrina. (bis)

NOTAS BREVES

Ela vai fazer os recados à mãe, mas já olha para os rapazes e, por vezes, ‘quebra a cantarinha’ – bela e poética simbologia da secreta desobediência e do primeiro segredinho de amor, ou, sim, também para algo mais elaborado.
A pomba-pombinha (e também o pombo-pombinho) faz parte do subconsciente sexual, desde o florescimento das hormonas.
Esta é uma das modas populares do nosso imaginário (diria, até, mitologia) de Portugueses: em todo o Mundo da nossa Expansão, são ainda cantadas e dançadas em roda, como provas vivas e históricas das raízes culturais portuguesas e europeias: “Ai, ai, ai, minha machadinha”, “As Pombinhas da Cat’rina”, “Giró-flé giró-flá” e algumas outras.

Observe-se ainda que, dada a proliferação desta cantiga, a sequência dos eventos narrativos constantes da letra sofreu inúmeros pormenores (eufemísticos) que acabaram por dificultar uma recuperação lógica e coerente: e muito menos a versão original. Se quiséssemos tentar ‘adivinhar’, chegaríamos a inesperadas e interessantes teorias, inclusiva freudianas… como pode sugerir uma variante do nome da quinta: Dom João, o predador. O pombal de D. João seria então uma colecção de serviçais mais ou menos acossadas pelo patrão. Esta hipótese não chocará tanto se substituirmos o conceito respeitoso devotado pelo Cristianismo à Mulher pelo trato de harém de algum muçulmano que por cá tenha ficado. Claro que estas hipóteses não se situam no campo referencial mas no da criatividade poética, que desde o fundo dos séculos interage com as mitologias de todos os Povos.

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Ribeira vai cheia | Canções Inesq LEur + Canções T Escolas Recolha e arranjo Altino M Cardoso

RIBEIRA VAI CHEIA

Ribeira vai cheia
e o barco não anda,
tenho o meu amor
lá naquela banda…

Lá naquela banda,
lá naquele lado,
ribeira vai cheia
e o barco parado!

NOTAS BREVES

Conservando a tradição da iniciativa feminina e animista medieval do galego-português, a natureza é concebida como prolongamento (aqui é obstáculo e não confidente ou adjuvante) do anseio da rapariga que vai ao encontro do seu amor.
O barco e o rio parecem estar contra ela, pois não são suficientemente rápidos para o seu desejo de encontrar o seu amor, à espera “lá naquela banda”…

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Roupa do meu amor | GCAD – Vol I – p. 512 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

ROUPA DO MEU AMOR

A roupa do meu amore
não é lavada no rio: (bis)
é lavada no mar largo
ai, onde passam nos navios. (bis)

Onde passam nos navios,
onde passa o vapore (bis)
não é lavada no rio
ai, a roupa do meu amor. (bis)

NOTAS BREVES

Será possível ligar este poema directamente às temáticas de amigo  do galego-português – a barcarola. O namorado é marinheiro e tem de lavar a sua roupa nas águas do mar. E ficariam bem submersas metaforicamente as saudades… Mas a referência ao “vapor”, um barco já dos tempos da energia industrial do séc. XIX. Por isso é mais lógico estabelecer na delicada subjectividade do poema uma imagética ainda mais profunda: A mulher – recentemente casada – saboreia a intimidade de lavar a roupa do seu amor. Nem toda a água do ribeiro ou do rio da aldeia bastará para lhe dar a brancura esmerada e condigna: semelhante ao seu carinhoso amor só existe a imensidade da água do mar, alto e fundo, infinito, “onde passam os navios”.
A inserção do ritmo ternário no binário da cantiga, associada ao tom menor, contribui para sublinhar essa intimidade carinhosa e contemplativa.

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Se eu fosse rato | AMC – 50 Cantigas Paralelísticas… p.121

SE EU FOSSE RATO—

Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía a tua saia… (bis)
ó trabadinha, dabas-me um belo jeitinho…
ó trabadinha, eu ia contigo à praia! (bis)

Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía o teu colete (bis)
ó trabadinha, davas-me um belo jeitinho,
ó trabadinha, és um grande ramalhete!… (bis)

Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía o teu sapato (bis)
Ó coradinha, eu dava-te um beijo, dava,
ó coradinha, nessa face delicada. (bis)

Se eu fosse rato, eu roía, eu roía,
Se eu fosse rato, eu roía o teu chapéu… (bis)
ó trabadinha, davas-me um belo jeitinho,
ó trabadinha, eu ia contigo ao céu! (bis)

NOTAS BREVES

Esta cantiga (susceptível de aproximação à de escárnio/maldizer do galego-português) não é  antiga. Aparece um pouco por todo o país e já publiquei a versão da zona saloia (ver CANCIONEIRO SALOIO no site https://amadora-sintra-editora.pt e https://amadora-sintra-editora.pt/produto/cancioneiro-saloio/).
As letras oferecem variantes, umas mais atrevidas ou brejeiras do que outras, mas sempre brincalhonas com o trocadilho inerente a “roer“<>rato-rata.
A destinatária usava as roupas demasiado justas, para uma época anterior ao sutiã, em que se usava colete. Mas é possível sincronização com o aparecimento da saia “trabadinha” e em jeito de ‘coqueterie’.

É de sublinhar ô seu paralelismo abundante em anáforas e dobres.

Com a apropriada margem de tolerância, poder-se-ia aproximar esta cantiga de um dos criativos piropos dos trolhas:
“– Comia-te toda!…”
Ver também nos museus do traje, do folclore…
**. “Trabadinha” = com as roupas justas, sobretudo da saia e colete, realçando as curvas.
***. O “colete” é anterior ao sutiã (“soutien” francês= sustentar, suster, amparar os seios).
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Serralheiro (Canc Mus de Penaguião) Harm Altino Cardoso

SERRALHEIRO

O malandro do sarralheiro
Não sei que vida governa:
Ai, de dia vai pró passeio
De noite vai prá taberna!

De noite vai prá taberna
Gosta de se divertire
Ai, o malandro do sarralheiro
Traz os filhos a pedire!

Traz os filhos a pedire
E a mulher cheia de fome
Ai, ó Senhor de Matosinhos
Arranjaide-me outro home!

Arranjaide-me outro home
Que tenha muito dinheiro
Ai, já stou farta de aturare
O malandro do sarralheiro!

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Sou novinha GCAD – Vol I – p. 551 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

SOU NOVINHA

Sou novinha, mas já tenho
o meu lencinho da mão, (bis)
que mo deu um caixeirinho
às scondidas do patrão. (bis)

às scondidas do patrão,
vou dizer ao impregado! (bis)
Sou novinha, mas já tenho
o lenço da mão bordado! (bis)

NOTA

A rapariguinha já está quase mulher e a abrir-se ao amor, cujo encanto está simbolizado materialmente no carinhoso segredo (e sonhos, e sugestões de promessas…) do lencinho bordado.
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Tenho raiva aos homens altos (In: Cancioneiro Musical de Penaguião – Harm Altino Cardoso)

TENHO RAIVA AOS HOMENS ALTOS

1. Menina do bairro alto
Desça abaixo ao balancé (bis)
Tenho raiva aos homens altos
Que o meu bem baixinho é. (bis)

2. O meu bem baixinho é,
O meu bem baixinho fica… (bis)
Tenho raiva aos homens altos
Fita verde é a mais bonita. (bis)

3. Fita verde é a mais bonita,
Rosa branca também é… (bis)
Tenho raiva aos homens altos
Que o meu bem baixinho é. (bis)

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Toma lá beijinhos | GCAD – Vol I – p. 565 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

TOMA LÁ BEIJINHOS

Refrão:

Toma lá beijinhos,
ó ai, toma pinhões;
ai, toma lá beijinhos,
ai, chi-corações. (bis)

1.Fui-me confessar e disse
que num tinha amor ninhum:
deram-me de penitência
que arranjasse ó manos um!

2. Fui-me confessar e disse
que andaba a namorare,
deram-me de penitência
que debo continuare.

3.Fui-me confessar à Serra,
comungar ós capuchinhos;
deram-me de penitência
dar abraços e beijinhos.

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Outra versão da letra:
Toma lá beijinhos,
meu amor, toma lá:
beijinhos e abraços,
meu amor, dá cá!

Este ventinho que corre
vem da terra do meu bem….
se me trazes saudades,
toma-as lá, leva-as também!

Não te rias de quem chora,
é coisa que Deus ordena:
pode a roda desandar
e penares da mesma pena…

NOTAS BREVES
Ambas as versões são graciosas do ponto de vista poético e musical, de que destaco o animismo presente no diálogo com o vento, aqui considerado mensageiro de amor… É visível que a última quadra da “outra versão da letra” é acrescentada mais tarde, pois vem quebrar o paralelismo semântico da cantiga.
O humor religioso confere à cantiga tons originais, ligeirinhos e picantes, embora as camponesas costumem ser muito reservadas em brincadeiras que possam descair ‘naquelas coisas’ da confissão…

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Trago aqui flores | GCAD – Vol I – p. 569 [Recolha e harmonização: Altino M Cardoso]

TRAGO AQUI FLORES

Ai, eu trago aqui felores (bis)
no laço do aventale (bis)
ai, ai, ai,
que me deu um rapaz novo
ai, ai, ai, na noite do arriale. (bis)

Na noite do arriale, (bis)
na noite da romaria,(bis)
ai, ai, ai,
anda agora uma moda:
ai, ai, ai, Manuel, olha a Maria! (bis)

Manuel, olha a Maria! (bis)
Olha a volta que eu fui dare! (bis)
ai, ai, ai,
Arrisquei a minha vida
ai, ai, ai, para contigo falare! (bis)

Para contigo falare, (bis)
Hoje sim, amanhã não; (bis)
ai, ai, ai,
Arrisquei a minha vida,
ai, ai, ai, amor do meu coração! (bis)

Amor do meu coração, (bis)
quanto tenho já é teu: (bis)
ai, ai, ai,
só a minha alma não,
ai, ai, ai, foi o Senhor que ma deu! (bis)

NOTAS BREVES

O arraial, a moda do “Manel olha a Maria”, a oferta de flores pelo “rapaz novo”… estavam na mente da rapariga, que consegue os seus intentos, apesar de circunstâncias e perigos vários. O respeito pela alma (“a minha alma não”), tornará lógico concluir a exclusividade do corpo.

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Vai a rolinha  | GCAD I 584  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

VAI A ROLINHA

Vai a rolinha pelo mar além,
Chora o meu bem
pelos seus carinhos; (bis)
Ó amor, que vida a nossa,
Dar abraços e beijinhos! (bis)

Ai dar abraços e dar beijinhos!
Ó ai, amore, que graça tem! (bis)
Beijinhos a quem namora,
Abraços a quem quer bem. (bis)

NOTAS BREVES

A rola, a pomba são símbolos do amor, do carinho, da ternura e, na medida do possível, do sexo. Fazer o ninho está associado a casamento e arrular à sedução.
Ver simbologia no texto introdutório deste livro, que resume o capítulo respectivo, desenvolvido no GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, vol III

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Vai de roda  GCAD 585  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

VAI DE RODA

– Vai de roda! Vai de roda!
eu também lá quero ire! (bis)
Eu sou rapariga nova
gosto de me adevertire! (bis)

Gosto de me adevertire,
amiga da brincadeira… (bis)
– anda cá, ó rosa branca,
criada na japoneira! (*) (bis)

Criada na japoneira,
criada no meu jardim… (bis)
anda cá, ó rosa branca,
tu hádes ser para mim! (bis)

NOTAS BREVES

*Japoneira = camélia

A rapariga inicia o diálogo (tenção), que está implícito 

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Vento da noite  GCAD 595  [Recolha e Harm Altino M Cardoso]

VENTO DA NOITE 

1.Lá vem o vento da noite!
ai, Jesus, que eu tenho medo! (bis)
se me roubarem o lenço,
tenho de andar em cabelo! (bis)

2.Tenho de andar em cabelo,
em cabelo hei-de andar?
se me roubarem o lenço,
tiro o chapéu ao meu par!

3.Tiro o chapéu ao meu par,
o lenço ao meu amor…
se me roubarem o lenço
ó minha branca felor!

4.Ó minha branca felor,
ó minha felor branquinha:
quando há-de ser a hora
que te eu hei-de chamar minha?

5.Que te eu hei-de chamar minha,
que te eu hei-de chamar meu?
Anda, amor, para os meus braços,
ninguém te quer mais do que eu!

NOTAS BREVES

Era o tempo das saias a arrastar pelos pés. A mulher não podia “andar em cabelo”, pois era sinal de intimidade, mal visto pela sociedade, em cujas críticas pontificavam precisamente as outras mulheres.
Veja-se o desenvolvimento da cantiga: o rapaz aproveita a brancura (do pescoço) dela para se declarar: ela corresponde com genenrsidade, abrindo-lhe os braços.

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Vira do vinho novo GCAD – Vol I P. 605 (Recolha e arranjo Altino M Cardoso)

VIRA DO VINHO NOVO

1.É o vira da vindima
É o vira da vindima
pra animar o nosso povo
pra animar o nosso povo.

Refrão:
Se a Rita se casa
também caso eu
que o dote dela
não é mais que o meu.

Ó ai ó larai, ó ai ó larai,
Ó ai ó larai, ó larai lai lai.

2.Pra animar o nosso povo,
cantai, cantai raparigas
em honra do vinho novo
em honra do vinho novo!

………….. (quebra do leixa-pren)

3.Vem ó linda cantadeira
Vem ó linda cantadeira
ai ó flor do meu jardim
ai ó flor do meu jardim

4.Ai ó flor do meu jardim
só torno as culpas ao vira
ai de não olhares só pra mim
ai de não olhares só pra mim!

5.Não sou a flor que tu queres
Não sou a flor que tu queres
que o teu jardim já a tem
que o teu jardim já a tem

6.Ai que o teu jardim já a tem
não dou a cor dos meus olhos
nem a ti nem a ninguém
nem a ti nem a ninguém.

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?Ó Ana sacode a saia I 88
?Ó Elo da Videirinha II 1125
?Oliveira da Serra I 451

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Ver mais:

CANCIONEIRO MUSICAL DE PENAGUIÃO

 

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