TUNAS-Danças

Descrição

Acessos: 34

GCAD_TUNAS – DANÇAS

Já desde a Idade Média e antes da Nacionalidade, os bailes e danças eram essenciais à dinâmica sociológica, nomeadamente à aproximação dos jovens em idade núbil, que as famílias organizavam e promoviam, de modo a proporcionarem casamentos favoráveis à consolidação dos bens e do estatuto social de ambos os lados.

De facto, sem esses bailes ‘familiares’ o contacto (visual e discreto) entre rapazes e raparigas apenas era possível à entrada e saída das missas e nesses bailes, sob a ‘batuta’ familiar, sempre a cargo do elemento feminino.

É de notar que em algumas comunidades (rurais ou não) havia as casas do baile, que um grupo (em sociedade informal) interessado organizava aos domingos, mediante uma quota simbólica para arrendar e manter a casa aberta ou para ‘pagar o vinho’ aos músicos.

A generalidade destas danças eram tocadas, mesmo por um simples instrumento (flauta, violino, clarinete…). Um simples cantador, com uma flauta, um clarinete, ou um ‘banjolim’ ou um violão e alguns recursos de voz e repertório, por vezes bastava. Os aerofones (gaitas de beiços, harmónicos, concertinas, acordeões…) só mais tarde apareceram.

Existem vários tipos de danças, como sistematiza Tomás Ribas (ver nota final deste capítulo). Mas é possível condensar as varoedades numa base dos respectivos compassos – binários (contradanças, marchas…) e ternários (viras, valsas…).

_______________________________________

DANÇA DAS CAPELINHAS  (GCAD Vol II pg 690 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)

_____________________________________________

DANÇA DO CARTUCHINHO  (GCAD Vol II pg 691 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)

Cantiga com coreografia, em que um cartuchinho de rebuçados [da Régua?] (ou também amêndoas, confeitos, ou pinhões…) era posto em disputa numa rodinha de crianças. Quando a música acabava, ganhava o cartuchinho quem o apanhasse primeiro. A surpresa e rapidez desta competição lúdica assemelhava-se à da dança das cadeiras. É curioso o pronunciado sabor alentejano… sobretudo se for acrescentada uma 2ª (ou 3ª) voz nas terceiras.

______________________________________

DANÇA DO LINDO POVO      (GCAD Vol II pg 692 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)

_________________________

DANÇA DO VIOLINO    (GCAD Vol II pg 693 – Recolha e harmonização Altino M Cardoso)

_________________________________

CONTRADANÇA 1    (GCAD Vol II pg 681 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)

_____________________________

CONTRADANÇA 2     (GCAD Vol II pg 682 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)

____________________________

CONTRADANÇA 3    (GCAD Vol II pg 683 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)

____________________________

CORRIDINHO 3     (GCAD Vol II pg 687 – Recolha e harmonização: Altino M Cardoso)

________________________________________________________________________________

AS DANÇAS POPULARES

Ver: Danças Populares Portuguesas – Tomás Ribas

Danças Populares Portuguesas

“(…) por «danças populares portuguesas» queremos designar as «danças populares portuguesas tradicionais», as quais englobam três categorias: as «danças folclóricas», as «danças populares propriamente ditas» e as «danças popularizadas».)

Procurar determinar e designar as mais arcaicas danças populares portuguesas é, obviamente, estultícia, até porque é impossível fazê-lo.

Dado que a dança é uma atividade e uma função tão velhas como a própria Humanidade, poderemos dizer que na Península Ibérica se baila desde que nela surgem seres humanos, autóctones ou vindos de qualquer outra região da Terra.(…)”

Tomaz Ribas in “Danças Populares Portuguesas

Breves notas sobre as Danças Populares Portuguesas de hoje

Bailarico

Bailarico é uma dança popular atual que se baila na região que vai do Alcoa ao Sado, isto é, em toda a região estremenha.

Baila-se, sobretudo, nas regiões de Torres Vedras, Caldas da Rainha e Malveira, Sintra e Mafra, pelo que é conhecida pelo nome da «dança saloia».

Porém, também no Alentejo, no Ribatejo e no Algarve o dançam. Ler mais

Ciranda

A ciranda é uma dança que se divulgou no século passado e vem inserta em vários cancioneiros. Não tem acompanhamento instrumental, pois baila-se apenas ao som de harmónio e com acompanhamento de canto.

Não deve ser uma dança muito antiga entre nós porque o harmónio é um instrumento austríaco que só há um século começou a popularizar-se em Portugal. Trata-se de uma dança que se baila particularmente na Beira Litoral e na região do Norte da Estremadura.

Chula

chula, ou xula, é uma dança popular portuguesa muito antiga. Gil Vicente refere-se a ela numa das suas peças ou autos teatrais. É uma dança que tem cantador, ou cantadeira, ao desafio, mas o seu estribilho, ou refrão, é só instrumental.

Baila-se a chula – que é uma dança tipicamente nortenha – do Minho à Beira Alta setentrional. Porém, a chula do Alto Douro tem instrumentos especiais e especial maneira de se bailar.

Tal como o malhão, a cana-verde e o vira, a chula pode acompanhar-se apenas pelo ritmar da viola ramaldeira e, tal como aquelas, que são danças típicas do Minho e do Douro, pode ser acompanhada pela «ronda minhota» (espécie de pequena orquestra campesina composta de clarinete, rabeca, harmónica, cavaquinho, viola, violão, bombo e ferrinhos) ou pela «festada duriense» (que é constituída pelos mesmos instrumentos, menos o clarinete, que é substituído pelas canas).

Corridinho

O corridinho, que também se baila em algumas terras do Ribatejo e do Alentejo, é, sobretudo, uma dança algarvia: o Algarve é a sua verdadeira pátria.

O corridinho é uma dança antiga, porém, não muito arcaica: reflete aspetos de danças citadinas adaptadas pelo povo, pois que é, no seu aspecto geral, uma dança que se baila ao ritmo da polca-galope. Ora, tanto a polca como o galope são danças estrangeiras citadinas do século passado.

O corridinho é bailado ao som do fole ou flaita, isto é, da concertina e consta de duas partes: o «corrido» propriamente dito e o «rodado», que é orientado em sentido inverso ao do corrido.

Quando, porém, uma segunda parte da moda é mais mexida e o parceiro é de feição, abandonam-se os passos conhecidos e o par rodopia sempre no mesmo lugar, num passo especial a que se dá o nome de «escovinha». Ler mais

Fandango

Do ponto de vista musical, o fandango é semelhante ao vira, porém, baila-se de diferente maneira; de resto, o actual vira é possivelmente o antigo fandango agora dançado em cruz.

Dança que nos veio de Espanha, o fandango enraizou-se em Portugal, onde é bailado em quase todo o país desde há muito.

Prof. Armando Leça, que estudou com particular atenção as canções e as danças populares portuguesas, dá o fandango como dança que ainda hoje se baila no Douro Litoral, no Minho, em Trás-os-Montes (terras mirandesas), na Beira Litoral, na Beira Alta, na Beira Baixa, na Estremadura, no Alentejo e no Algarve.

Contudo, as regiões onde o fandango é mais bailado e goza de maior preferência do povo são o Ribatejo, as raias minhota e da Beira Baixa (Castelo Rodrigo e Idanha-a-Nova) e as terras interiores de Beira Litoral (Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, etc.).

Velha dança espanhola, o fandango é, também, uma dança portuguesa muito antiga.

Bocage refere-se a ela e o escritor inglês Twiss, que visitou o nosso país em 1772, diz que viu «o fandango dançado em Portugal com grande galanteria e muita expressão». E Gil Vicente usa, às vezes, o termo «esfandangado».

O Fandango nas regiões de Portugal

No Ribatejo, na Beira Litoral e nas terras raianas do Minho e da Beira Baixa, bem como em algumas regiões do Alentejo e da fronteira algarvia, é onde melhor se baila o fandango.

No Ribatejo bailam-no ao som de harmónica (gaita-de-beiços) ou harmónio (gaita-de-foles); já, contudo, em Ferreira do Zêzere, na serra de Tomar, em Mação e em Borba o bailam ao som de guitarra. Nas terras mirandesas (Trás-os-Montes) bailam-no em roda.

Há uma dança que é uma miscelânea de vira e fandango: o vira afandangado. O verdadeiro vira afandangado parece ser o do Ribatejo, onde, muitas vezes, o bailam em cima de mesas. O vira afandangado do Minho – vira galego – é de feição vocal e baila-se aos pares, de roda.

A voga do fandango entre os portugueses está de tal maneira arreigada no seu gosto que o levaram para o Brasil.

Nos estados do Nordeste brasileiro baila-se o fandango; porém, nessas regiões não lhe dão tal nome, mas sim outros nomes que bem denotam que foram os portugueses que para lá levaram essa dança: «bailado dos marujos», «dança dos marujos», «marujada», «chegança dos marujos» ou «barca».

No Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (terras do Brasil), a palavra «fandango» quer dizer «festa», «baile» ou, simplesmente, «reunião onde se dança». Ler mais

Farrapeira

A farrapeira é uma das mais típicas e belas danças de Portugal. Não se sabe bem desde quando o povo a baila, mas parece ser uma dança bastante antiga, pois o seu aspecto musical aparenta-se com as mais antigas danças da nossa gente do povo.

É a farrapeira uma dança do interior nortenho. Melodia que se assemelha à caninha-verde, exige ela um marcador espirituoso. Apesar de ser uma dança típica das Beiras, também no Ribatejo a bailam. Dança bem ritmada, é acompanhada à guitarra e, em algumas regiões, a pífaro e gaita-de-foles.

Uma das características da farrapeira é o facto de ela ser uma das raras danças populares portuguesas cujo refrão ou estribilho é instrumental. Julga-se que a farrapeira deve ser uma dança burguesa, ou citadina, que o povo adaptou, pois o seu ritmo é o da polca e a sua marcação faz lembrar as quadrilhas, que, como se sabe, são danças de salão. Ao fim e ao cabo, a farrapeira, com o seu marcador, mais não é do que uma quadrilha campestre.

Gota

A gota é uma dança popular portuguesa, bailada no Minho, que nada tem a ver com a «jota» espanhola (geralmente conhecida pelo nome de «jota aragonesa»).

Há, contudo, íntimas relações entre a gota, o vira, o fandango e a jota espanhola; a gota é, porém, uma espécie de fandango. O fandango distingue-se da gota porque esta possui um carácter mais instrumental. O desenvolvimento melódico da gota aparenta-se com o da tirana, que é, também, uma dança popular portuguesa.

A gota baila-se da mesma maneira que o fandango, apenas com um ritmo um pouco diferente.

Malhão

Ao malhão também lhe chamam «a moda das caminhas», «a rusga» ou «o Senhor da Pedra».

Embora se baile também na Beira Alta, o malhão é uma dança tipicamente minhota, do Minho Litoral, muito semelhante à chula.

Dança muito antiga, tem, como a chula, acompanhamento de canto: o seu acompanhamento musical é de instrumento e cantador.

Regadinho

O regadinho é uma dança popular que se vulgarizou no século passado e se baila em todo o Norte do País e também na Beira Litoral. É, por isso, uma dança híbrida, quer dizer: com algo de nortenho e algo de litoral.

Dança bem ritmada, é, pouco mais ou menos, uma marcha; este seu aspeto leva-nos a crer que se trate de uma dança de salão ou burguesa, importada de Europa após as invasões francesas. No Norte bailam o regadinho sem acompanhamento instrumental, apenas acompanhado à viola, ao passo que na Beira Litoral o bailam ao som da guitarra.

Saias

A moda das saias é uma dança popular bailada principalmente pela gente do Alto Alentejo mas também bailada em algumas regiões do Ribatejo, da Beira Baixa, da Beira Litoral, da Estremadura, da Beira Alta e do Douro Litoral. Contudo, repetimos, é mais característica do Alto Alentejo e das terras interiores da Beira Litoral e do Ribatejo – precisamente daquela região que outrora pertenceu à Estremadura (Tomar, Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Chão de Couce, Avelar, etc.). É uma dança sincopada e, às vezes, com marcador.

O ritmo típico das saias é o binário; no Alto Alentejo o binário composto (6/8); no Douro Litoral, as saias têm um ritmo nortenho – binário simples (2/4).

Há quem pretenda aparentar as saias com a dança espanhola da Andaluzia conhecida pelo nome de «saeta», porém nada de comum parecem ter, pois as saias são uma dança profana, de divertimento, ao passo que a «saeta» é uma dança acompanhada de canto litúrgico e só bailada como ritual das procissões.

Modalidades de saias

A moda das saias tem vários aspetos, por isso há várias modalidades de saias:

  1. a)Velhas– As antigas, em forma de valsa-mazurca;
  2. b)Novas– As atuais, em forma de valsa campestre;
  3. c)Aiadas– Aquelas em que o marcador grita um «ai» no estribilho, a indicar a volta;
  4. d)Puladinhas(ou Pulado);
  5. e)Com estribilho.

As saias são modas acompanhadas de canto. Por isso, as saias são só para cantar ou para cantar e bailar. Quando cantadas, possuem uma letra sem requebro. Quando só cantadas, durante o trabalho, as saias estão para a gente do Alto Alentejo como o tope está para as gentes do Baixo Alentejo.

Nas saias, os estilos e modas (a música) bem como os pontos (a letra) são volantes e os seus ritmos, às vezes, variam, chegando a haver, na mesma região, várias saias de estilo e moda diferentes; algumas vezes, o mesmo ponto serve vários estilos, mas o mais vulgar é o mesmo estilo ser cantado com vários pontos.

Já no século XVII se dançavam as saias e parece que, então, elas se bailavam um pouco à maneira andaluza; tal modalidade arcaica ainda hoje se encontra em Escalos-de-Baixo.

É no Alto Alentejo, bailadas ao som de pandeiro e, às vezes, de pandeiro e adufe, que as saias são mais castiças.

Tirana

Apesar de melodicamente a tirana ser uma dança meridional, isto é, do Sul, a verdade é que ela se baila exclusivamente do Minho à Beira Litoral, particularmente na região de Coimbra – pois «tiranas» se chama às tricanas de Coimbra.

O ritmo da tirana é um ritmo valseado. No nosso teatro ligeiro musicado, bem como nos ranchos folclóricos, dança-se frequentemente a tirana, mas, erradamente, chamam-lhe, a maior parte das vezes, vira.

Com a moda das saias, a tirana tanto pode ser só cantada como cantada e bailada como, ainda, bailada com acompanhamento instrumental.

Verde-Gaio

Embora seja uma dança tipicamente nortenha, o verde-gaio dança-se em quase todas as regiões do País ao norte do Tejo e particularmente no Ribatejo e Estremadura, entre o Lis e o Sado.

É uma moda de cadeia com acompanhamento de auto: quadras fixas e várias.

Sendo o verde-gaio mais popular no Norte do que no Sul, é curioso notar que é na região entre o Lis e o Sado que o bailam melhor e mais a primor.

Em geral o verde-gaio é acompanhado com harmónica ou realejo.

Vira

O vira é uma das mais antigas danças populares portuguesas; dele já Gil Vicente nos fala na sua peça Nau d’Amores dando-o como uma dança do Minho.

Com efeito, o vira é uma dança de tradição minhota, embora se baile, de maneira diferente, também na Nazaré e no Ribatejo, e, hoje, se baile à maneira minhota em quase todo o País. O vira é, de uma maneira geral, a dança popular portuguesa mais característica e popularizada.

Há inúmeras variantes – tanto musicais como na maneira de o bailar: vira de roda, vira estrepassado, vira afandangado, vira valseado, vira-flor, vira de trempe, vira galego, vira ao desafio, vira poveiro (da Póvoa de Varzim), etc.

Do ponto de vista musical, o vira pode ser menor ou maior e é muito semelhante ao fandango; porém, o fandango dança-se de diferente maneira.

O vira minhoto, isto é, o vira em maior, é semelhante ao malhão e à chula. Já o vira em menor não é minhoto.

O vira não tem estribilho: a quadra da cantadeira repete-a o coro dobrada em terceiras ou somente dois versos e um larai como estribilho; quer dizer: como o vira não tem estribilho, o coro repete os versos dos cantadores. É da praxe minhota começar a cantiga no segundo verso. O vira distingue-se do fandango pelo verso da canção, mais longo no fandango.

O vira da Régua é a chula. Ver CHULA DA RÉGUA (GCAD vol I)

In “Danças Populares Portuguesas”, Tomás Ribas

– Biblioteca Breve (Série Artes Visuais)

| Ilustrações de Mário Costa (1902-1975)