Descrição
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O GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO comporta três volumes (1.920 páginas), com uma recolha de 1.150 canções tradicionais do Alto Douro Vinhateiro, recolhidas pelo autor (Altino Moreira Cardoso) em quintas com epicentro em Godim e Loureiro, no concelho do Peso da Régua, donde é natural.
Naturalmente, a maior parte dessas canções tem como temática as vindimas, em que participava sazonalmente uma mão-de-obra (homens, mulheres e rapazes das cestas) rogada nos arredores serranos.
A grande quantidade de cantigas da vinha (várias centenas) motiva neste website uma amostragem privilegiada, distribuída por quatro grupos.
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EXEMPLOS
A pomba caíu ao mar (GCAD I, 56) [Recolha e harm AMC]
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A madrugada lá vem… (GCAD I, 50) [Recolha e harm AMC]
As ondas do mar são brancas (GCAD I, 106) [Recolha e harm AMC]
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Chamaste-me trigueirinha (GCAD I, 135) [Recolha e harm AMC]
isto é do pó da eira;
hádes-me ber ó domingo
como a rosa na roseira.
já num há quem queira
namorar comigo
à sigunda feira;
à sigunda feira
ó domingo à tarde,
ó bocê num quer
ó num tem bontade.
nem berde como a ortiga:
gosto de ti meu amore
entes que alguém te diga.
fechado saíu aberto
esses teus braços menina
são linhas com que me aperto.
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Deita a barca ao rio (GCAD I, 168) [Recolha e harm AMC]
Eu venho dali, d’além;
Dobaixo da laranjeira,
Tanta laranja lá tem…
Tanta folhinha amarela
Dobaixo da laranjeira
Enganei uma donzela.
Enganei o meu amor,
Dobaixo da laranjeira,
Faz sombra, não faz calor.
Não le cai a orvalhada;
Dobaixo da laranjeira,
Enganei a minha amada.
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Adelaidinha (GCAD I, 55) [Recolha e harm AMC]
quem te há-de levar à cova? (bis)
quatro rapazes solteiros,
que eu sou rapariga nova. (bis)
e sou bem arranjadinha:
sapato à inguelesa,
saia branca à Adelaidinha!
não podes cantar milhor!
À hora do meio-dia
fizestes parar o Sol!…
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Adeus, ó Laurinda (GCAD I, 65) [Recolha e harm AMC]
Ond’a água sobe e desce!
Oh ! quem me dera um amor,
Onde ninguém no soubesse!
Ó Laurinda, adeus, adeus!
Adeus, ó Laurinda,
Os teus olhos já são meus.
São verdes, côr de limão ;
Quero-te tanto, ó Laurinda,
Trago-te no coração!
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Agora é que pinta o bago 2 (GCAD I, 70) [Recolha e harm AMC]
Agora é que pinta o bago
ai agora é que ando ó pintore;
agora é que eu bou falare
ai deberas ao meu amore.
Trai lai lai lai lai lai
Trai lai lai lai lai lai
Trai lai lai lai lai lai
Trai lai lai lai lai lai.
Outra versão:
Ai, agora é que pinta o bago
ai agora é que ando ó pintore
ai agora é que eu bou falare
ai deberas ó meu amore.
Colheram-se as ubas
já estão no lagare
arrumem os cestos
nós bamos bailare!
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Dançar a rabela (GCAD I, 163) [Recolha e harm AMC]
ai, venha dançar a rabela
que os moços inda não sabem
e eu quero aprendê-la.
ai, na vindima lá da quinta
eu a dançar a rabela…
valia por vinte ou trinta!
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Assenta-te aqui, António (GCAD I, 109) [Recolha e harm AMC]
na mesa do meu tear,
enche-me aqui as canelas,(*)
o mundo deixa-o falar!
Pois agora é que não é!
Pois agora é que é
que a menina bate o pé!
mandava-o envidraçar:
assim, como é Manele,
hei-de mandá-lo dourar!
sobrenome não no sei:
inda há pouco que o amo,
inda num le praguntei!
espelho de me vestir…
quem tem um amor António,
vai ò céu e torna a vir!…
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Coradinha, olá (G C A D, vol I, 156) [Recolha e harm AMC]
coradinha, olá, limão!
dá-me cá esses teus braços,
darei-te o meu coração!
v’rás como ficas coradinha!
e a chave pró abrir:
não tenho mais que te dar,
nem tu mais que me pedir!
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Caridinha (G C A D, vol I, 130) [Recolha e harm AMC]
Caridinha, meu amor, caridosa… (bis)
hei-de amar a caridinha,
oh, cara tão linda!
oh, botão de rosa! (bis)
toda a tua branquidão,
e ainda mais os teus olhos
que tão fagueirinhos são…
quando olho para eles
ficam-me no coração!
abre-te na minha mão,
porque, se abrires na mão d’oitro,
ó serás minha ó não!…
Hei-de te pôr no meu peito
fechada no coração!
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Cigano lindo (G C A D, vol I, 151) [Recolha e harm AMC]
cigano lindo, meu bem,
lá vai o cigano preso
sem roubar nada a ninguém!
sem roubar coisa nenhuma:
foi por achar uma corda,
na ponta tinha uma mula.
a mula puxava o trem:
lá vai o cigano preso
sem roubar nada a ninguém!
1980
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Boa tarde, Mariquinhas (G C A D, vol I, 115) [Recolha e harm AMC]
– Ai, Boua tarde, Mariquinhas,
ai, como é que tu tens passado? (bis)
ai, por causa de te num bere
ai, tanho tanta saudade! (bis)
– Ai, Boua tarde, Manuele, (bis)
ai, como bais tu de saúde?
ai, por causa de te num bere, (bis)
ai, já quis chorar e num pude!
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A cruita da macieira (GCAD II, 1121) [Recolha e harm AMC]
rachada aos cavaquinhos
acudam aos namorados
que se matam aos beijinhos!
Que se matam aos beijinhos,
que se matam aos abraços…
a cruita da macieira
é rachadinha aos pedaços.
A cruita da macieira
cortada de nó em nó,
assim já era dançada
no tempo da minha avó.
A cruita da macieira
deitada no lume, estala:
assim faz o meu amor
passa por mim, não me fala.
Olha o ladrão do melro,
onde foi fazer o ninho:
na cruita da macieira,
no mais alto ramalhinho!
REFRÃO:
ai não é assim que a menina bate o pé.
_______ OBSERVAÇÃO:
É aqui poeticamente associada à dança dos tempos antigos e sua função de proporcionar comunitariamente o encontro amoroso.
O regionalismo «cruita» (de cocuruto=vértice, ponto mais alto) exprime a conotação de vigilância e coscuvilhice, que o melro (pássaro de bico amarelo, popularmente malandreco…) explora e assume.
Ver o Capítulo Simbologias no 1º volume do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO.
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