Descrição
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Nos anos 50-60 a torre da igreja matriz de S. Pedro de Loureiro (Régua) precisava de ser reabilitada, não apenas por estar muito deteriorada mas também por ser tão baixa e inestética que nem sequer merecia o nome de torre.
Então o pároco (P. Sidónio Moura Vasconcelos), o Antonino, o Flávio, as irmãs Medeiros, o Armando (presidente da Junta)… chamaram a si essa tarefa e assim se formaram comissões de pessoas de boa vontade para serem organizados peditórios e cortejos de oferendas em todos os lugares da freguesia: Outeiro, Marvão, Sobre-igreja, Torre, Pinheiro, Travassos, Paredes, Quintã…
Como seminarista (entre 1953 e 1961), sentia-me automaticamente mobilizado para ajudar no que aparecesse.
Entretanto, as irmãs Medeiros, que faziam a manutenção dos altares da igreja, sabendo que eu me dedicava à música e até tocava violino, desafiaram-me para fazer uma marcha para o lugar da Torre, onde moravam. Para escrever as letras tinha papel e máquina de escrever na Casa do Povo.
Organizaram-se 3 cortejos em 3 anos. Pela minha parte honrei sempre o compromisso das marchas principais (letra e música) e ainda outra música para uma dança suplementar. As letras eram adaptadas à terra e à ocasião.
Além da Torre, também ajudei Travassos, aliás o lugar de nascimento da minha família paterna, num ano em que também me pediram o contributo.
Sob a pressão destas circunstâncias bairrísticas (que desde sempre recordo com imensa gratidão) foi-me dado desenvolver algumas qualidades musicais e poéticas, já iniciadas por alturas de 1953 com a marcha de Parafita e a canção Mi-Lá [ver no meu livro 400 MÚSICAS PRÓPRIAS REUNIDAS].
Foram várias as minhas marchas da Torre e de Travassos, a que se Juntaram mais algumas de Godim e de Loureiro, incluindo as dedicadas à romaria anual à Senhora da Serra do Marão, no primeiro domingo de Julhoo.
Infelizmente, nem todos os papéis com as letras se conservaram depois de tantos anos – mas a matemática das músicas, se se extraviou alguma pauta, facilitou mais a reposição de memória.
E aqui fica uma amostragem em recordação desse período inesquecível e de uma importância incontornável na minha vida, que a Música deu muito, quer nos campos e vinhas (onde se cantava muito), quer em Coimbra (prémios e viagens a grande parte do mundo), quer na vida profissional e familiar. Os meus livros registam um pouco dessas vivências.
Gravo aqui uma palavra emocionada de saudade, amor e gratidão ao meu Pai, Germano Cardoso, que, aos 15 anos, me ofereceu um violino (um ‘cavaco’, que o Santa restaurou) e à minha Mãe, Maria da Conceição, que me encantava com dezenas de cantigas nas lides da casa, nas vindimas e, ainda, no tanque a lavar a roupa, além de rimances antigos, à lareira…
Também quero agradecer (com muita saudade) a quem esteve a meu lado nesse período dos 15 aos 20 anos, nomeadamente o P. Sidónio Vasconcelos, o Antonino da Casa do Povo, o Armando da Junta de Freguesia, o P. Luís Gouveia de Marvão, o Flávio de Marvão, as quatro irmãs Medeiros – e os inesquecíveis tocadores (violas, flautas, clarinetes, violinos, ‘banjolins’, gaitas de beiços, bombos, ferrinhos…) que liam com surpresa e respeito as minhas pautas dos 15 anos e me davam um exemplo vivo de paixão pela Música: deles recordo o Arnaldinho da Singer, os irmãos Alcino e José Mesquita Gouveia, o Manelzinho do Romezal, o Armindo Chiné, a Sz que me ajudava a dactilografar as letras na Casa do Povo… e tantas outras pessoas, que em Versos e Música se divertiam e solidarizavam civicamente, ou tentavam esquecer, ou sacralizar, o suor das lutas pelo Pão-de-cada-dia.
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Entre os jovens, também, merece uma sadosa referência o CONJUNTO CACHOS DOURADOS, fundados em Godim pelo Manecas, o Zé da Farmácia, o meu irmão Tónio…. em que eu, já em Coimbra, ajudava, nas férias… Actuávamos sobretudo nas Festas do Socorro e as pessoas tinham muito carinho por nós, embora uma ou outra rapariga (ah lembro-me da Sz…) desdenhasse a bateria do conjunto, classificando-a como “aquelas latas”… nem mais! Saudosos tempos! Benditas essas músicas (incluindo a bateria, sim)!
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EXEMPLOS
Marcha da Torre (1956) [400 CPR 343] Música P Minhava | Letra (adapt) e Harm Altino M Cardoso
1. Vamos cantar a Torre, nossa terra amada,
Risonha fada enamorada
em trono de oiro a descansar
É modestinha, mas lá isso não tem nada,
Tem a medida e o calor do grande amor do nosso lar.
Nas suas ruas pobrezinhas, mas contentes,
Passeiam bandos de crianças, avezinhas inocentes,
Cantando com graça infinda a Torre linda,
Tão linda! Tão linda!
Refrão:
Ó Torre, ó Torre, ó meu torrão natal
Não há rival
Que seja igual a ti!
Loureiro em flor, jardim que nos sorri,
A Torre é meu tesoiro,
O berço de oiro
Onde eu nasci!
2. De manhãzinha vem o sol dar-lhe um sorriso
E então diviso um paraíso
Em todas as bocas sorrindo…
Vão despertando alegremente as criancinhas
Dentro dos lares, andorinhas que ainda estão dormindo…
A Torre é linda, tão viçosa e tão fresquinha,
É uma flor verde onde, a cantar,
Depõe mil beijos a andorinha…
Uma flor com graça infinda
Uma flor linda,
Tão linda! Tão linda!
3. Na orla verde dos teus soutos verdejantes
Os meus instantes (inconstantes) de ventura vão sonhar
Como a folhagem, soluçando mansamente,
Eu também canto, mui baixinho, ternamente, a murmurar…
Vem um regato a sorrir-me enquanto passa
Vai-me fugindo, saltitando, ri-me sempre e esvoaça…
Dedico paixão infinda à Torre linda,
Tão linda! Tão linda!
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Marcha de Loureiro (2006)[400 CPR 355] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
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Marcha de Loureiro – Serra [400 CPR 353] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
1.A nossa linda Terra é um pombal
Erguido pelo Douro em oração;
Não há, nem pode haver, altar igual
Como este que nos fala ao coração;
A vida é um orgulho para nós
São flores cada dia que passamos
E, quando nos perguntam, nossa voz
Só numa canção diz
Quanto a amamos!
Refrão:
Loureiro, meu Loureiro,
Altar de azul e oiro,
Loureiro, meu tesoiro,
Loureiro, meu amor…
Temos no ano inteiro,
O teu sorriso infindo,
Loureiro sempre lindo,
Encantador!
2.E assim…………………..
++++++++ Letra esquecida +++++++++++
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Marcha da Torre (1959) [400 CPR 344] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
Marcha da Torre 1959
Hino do Justo Heitorzinho [400 CPR 311] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
Hino do Justo Heitorzinho
Em Loureiro nasceu o Heitorzinho
De família abastada e mui nobre
Mas em moço encontrou o Caminho,
A Verdade e uma Vida de pobre;
E assim conseguiu neste mundo
Viver sempre os mistérios da Cruz…
Mesmo a morte é um sono profundo
Lá no céu, junto ao Pai e a Jesus.
Refrão:
Justo Heitorzinho, rogai por nós,
Junto de Deus levai a vossa voz!
Nós somos fracos, mas temos coração,
Vinde ajudar-nos, dai-nos a vossa mão.
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Hino do Patronato de Godim [400 CPR 313] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
Patronato é uma obra de amor
Que Godim muito ampara e acarinha
As crianças aí têm calor
Desde o berço até à escolinha.
Aprender a brincar e a falar
E a sorrir, e a cantar, e a escrever…
Patronato ajuda a voar,
E a crescer, e a sentir… a viver!
Refrão:
O Patronato é um ninho
feito para as criancinhas
são tuas, são minhas,
são do nosso carinho.
Elas enchem de riso
as salas e os recreios
e os ares ficam cheios
dos sons do paraíso…
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Marcha de Travassos[400 CPR 359] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
Marcha do Vale (Godim) [400 CPR 361] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
Marcha de Godim (Régua) [400 CPR 351] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
MARCHA DE GODIM – RÉGUA
Viver em Godim é termos sempre um cantinho
que vai dar ao rio e ao luar de Agosto
e na vinha a seiva a palpitar de mosto
dá à Humanidade o mel do nosso vinho.
Quando a noite chega e cobre esses vinhedos
granjeados com a alma e os nervos destas mãos
podemos sonhar, felizes como irmãos,
em paz e em perdão, amizade e segredos…
Refrão:
Ó meu Godim, ó meu tesouro
lindo jardim a sorrir à beira Douro.
a.Quando te vejo, stou tão contente
que só num beijo
diria o que a alma sente! (bis)
Terra de encanto, abençoada,
meu Godim santo
minha terra idolatrada!
b.Querido cantinho, que até parece
que o sol se esquece
de seguir o seu caminho! (bis)
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Marcha de Loureiro (1959) [400 CPR 353] Música, Letra e Harm Altino M Cardoso
Sou de Loureiro,
Terra linda, encantadora,
Onde nas festas vão as fadas passear
Terra bendita que meu peito ama e adora,
Pois nela vivo um lindo sonho de luar…
Quando à tardinha, junto às fontes de água pura,
Sinto a poesia de um sol doce a esmorecer
Meu peito abre-se ao sabor de tal doçura
Que na minh’alma sonhos lindos vêm nascer.
Refrão:
Loureiro, meu Loureiro,
Eu sou feliz vivendo assim aqui;
Sorrindo em teu canteiro
Fitando o Douro que, correndo, nos sorri;
Eu gosto de te amar
Sempre risonho, no meu sonho Juvenil,
E, assim, vivo a cantar
Tal passarinho nas manhãs de Abril.