Descrição
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O Jornal AMADORA-SINTRA foi fundado em 8-12-1991, data de um Aniversário importante do proprietário deste site – Altino M. Cardoso.
Originariamente sonhado para semanário e para durar dez anos, o primeiro número saíu em 15-1-1992 e prolongou-se até 30-6-2003 (o nº 162), fixando-se numa regularidade mensal.
Em vez dos 10 anos projectados, durou treze anos e meio.
Os Aniversários eram celebrados em 15 de Janeiro, data da saída do nº 1 e também do aniversário de Horácio Miranda, proprietário do Restaurante A TENDINHA, em Mem Martins.
Os patrocinadores em publicidade e as Câmaras da Amadora e de Sintra eram sempre convidadas e participavam nessa Festa, sempre destacada com fotos no jornal A-S e em outros meios de comunicação.
Um projecto a solo
O jornal Amadora-Sintra era feito unicamente pelo proprietário (concepção gráfica e de conteúdo, textos, fotos, reportagens, aceitação de convites, angariação de publicidade…).
O apoio burocrático e operacional (deslocações a correio, clientes, recibos, finanças, instituições do Estado) contava um único empregado, tarefeiro, reformado, o Sr Álvaro Lopes, proveniente (‘herdado’) do Jornal de Queluz, entretanto vendido a um partido (PCP), pelos herdeiros do proprietário há pouco falecido. AMC era director do JQ, juntamente com ANG).
O projecto AMADORA-SINTRA era extremamente independente de quaisquer ideologias, sobretudo político-partidárias. Abarcava toda a zona noroeste da grande Lisboa, com foco em Amadora e Sintra – uma população de meio milhão de habitantes.
Manteve permanentemente a independência ideológica e económica, dando relevo privilegiado a eventos empresariais e culturais, mas, apesar de apenas mensal, não deixando de estar sempre muito atento à vida política, o que lhe valeu honrosas tensões com certos carreiristas de partidos, sem qualquer dignidade académica, social, laboral e até familiar, mas com pretensões a mandar nos outros e reprimir a comunicação social sem as mesmas obediências.
Não era vendido em lugares fixos. A circulação era apenas por Correio: o jornal era oferecido a ‘assinantes’ e instituições pessoalmente escolhidos e geridos por uma base de dados. Não eram cobradas assinaturas. A única fonte de receita era a Publicidade.
Impressão – gráficas
A impressão começou na Clio (no Algueirão-Sintra), apenas a preto e branco e em papel normal; mas logo passou para a Lisgráfica, em Queluz de Baixo: o papel e a impressora/rotativa eram os mesmos do Diário de Notícias. Quando a impressão da cor se tornou mais acessível, os planos das capas passaram a ser impressas a cores e, logo a seguir, também o plano central beneficiou de cor integral – o A-S foi dos primeiros a utilizar cores.
A tiragem na Lisgráfica era de 1.000 exemplares e custava 100.000$00 (ainda o IVA não tinha sido inventado).
Quando apareceu para essa mesma máquina uma reserva de muitas horas de trabalho para um ‘jornal’ publicitário gratuito com muitos milhares de tiragem, a Lisgráfica não pôde manter o mesmo custo de produção e propôs o dobro – o que era incomportável.
O jornal então passou para a Gráfica Funchalense (em Pero Pinheiro), custando o primitivo valor da Lisgráfica. O papel e a máquina eram os mesmos do jornal A Bola).
Primeiramente vinha da gráfica Clio em planos de quatro páginas (R/V) e era depois dobrado, alceado, cintado e etiquetado para o correio, em casa familiar. O director recolhia na tipografia o jornal em folhas e levava-o depois ao correio para expedição, com porte pago.
Depois, na Lisgráfica, uma empresa especializada recebia o jornal já devidamente formatado da máquina, cintava e enviava pelo correio, com etiquetas autocolantes nas cintas individuais, feitas na redacção a partir da usual Base de Dados.
Na Gráfica Funchalense a expedição era ainda mais fácil: outra empresa recebia também os jornais à saída da rotativa, empacotava-os individualmente em envelope transparente a partir de um ficheiro Excel, fornecido (por email) pela redacção.
O Porte Pago e outros benefícios
A princípio, o jornal beneficiava de algumas benesses oficiais atribuídas à Comunicação Social:
– Porte pago, que possibilitava o envio para diversas zonas do Continente (Amadora, Sintra, Cascais, Mafra, Oeiras, Coimbra, Porto, Trás-os.-Montes e Alto Douro…) e, até estrangeiro, nomeadamente Europa e EUA, a amigos conhecidos das numerosas viagens do director, na Tuna Académica de Coimbra, quando estudante;
– Oferta de internet (instalação e fornecimento regular – consultas, emails…) logo no início da sua entrada em Portugal;
– Subsídio para aquisição de material informático (computador, impressora, modem…) mediante requerimento justificativo;
Quando o “porte pago” foi reduzido (e depois extinto), o projecto jornalístico ficou sem bases de sustentação.
A machadada final foi dada pelo aparecimento de jornais gratuitos, criados por grandes empresas (de Comunicação Social e Supermercados) e distribuídos na caixas de correio, com tiragens astronómicas (Jornal da Região, Dicas do Lidl….).
Visão final
Embora a vontade e a sede de iniciativa fossem enormes, tecnicamente, foi uma aventura quixotesca dar início, em 1991, a um projecto jornalístico assim, de iniciativa individual e (acrescente-se agora, em 2022) sem recursos informáticos: o PC e o Windows generalizaram-se bem depois de 1991 e, mesmo depois, escrevia retalhos de texto, que eram impressos em papel transparente…. mais barato que fotolitos… Depois montava artesanalmente esses retalhos numa mesa-caixa com um tampo de vidro, onde tinha colado papel milimétrico transparente…
Todo assim montado em formato do jornal (+/- A3…), era levado ao fotógrafo gráfico para fazer os fotolitos. Esses fotolitos (caros) iam então para a gráfica que, por sua vez, os gravava nas chapas, que iam à máquina impressora rotativa.
Aparecem então os programas-milagre das Artes Gráficas: o Page Maker (hoje InDesign) e o Photoshop. As páginas podiam ser totalmente escritas e acabadas no computador, com as respectivas medidas, texto e fotos. Gradualmente tornou-se possível exportá-las em PDF, pelo que uma empresa gráfica de topo (como a Lisgráfica ou a G Funchalense) cedo pôde dispensar os custos de fotolitos e sua montagem (delicada nas cores), pois o PDF dava imediato acesso à gravação directa das chapas.
Hoje a impressão digital nem precisa de chapas: envia-se um PDF com tudo feito e apenas se paga na gráfica o papel e a tinta. Isto retira grandes tranches ao tradicional orçamento de uma edição: jornal, livro, etc.. Como o processo funciona por emails, apenas são precisas deslocações para recolher a obra impressa em papel. (Ah! e pagar…)
Isto é: Hoje um computador pode condensar em minutos e em custos os trabalhos que ainda há poucos anos custavam muito e, ainda por cima, gastavam muito mais em tempo, que também é dinheiro.
No caso do jornal Amadora-Sintra o director fazia tudo sozinho.
O jornal AMADORA-SINTRA foi um desafio imensamente aventureiro e arriscado; mas a experiência foi infinitamente gratificante, quer pelo sucesso, quer pelas portas que a informática abriu a outros projectos literários e musicais, alguns deles expostos neste site.
NOTA IMPORTANTE: Em 17-7-2022 as visualizações deste SITE atingiram um honroso número: 100.000 !
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A GALERIA DE IMAGENS apresenta uma colecção de páginas extraídas do Jornal A-S nº 97 – Janeiro de 2000.
[Clicar individualmente, para ampliar]
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Selecção de ALGUNS TEXTOS (ainda de interesse)
EDITORIAIS
JUNHO/2001
O preço da Obra feita, ou:
Dar novos Douros ao Douro
O Eng. Mário Fernandes, em dez anos, conseguiu a navegabilidade do Douro, presidindo ao IND – Instituto de Navegabilidade do Douro.
Outras acessibilidades, como o famigerado IP3 e o futuro IP entre Amarante e a Régua, de Obra só têm os rabiscos num papel.
Mas, hoje, qualquer português ou estrangeiro, se pode deliciar numa viagem turística fluvial por todo esse reino de maravilha, que brevemente será Património Mundial.
Só porque a competência dos licenciamentos da extracção de areias no Douro pertencia ao IND, o Eng. Mário Fernandes foi obrigado a demitir-se em consequência da queda da ponte de Castelo de Paiva.
O atraso das Regiões – neste caso o Douro – e a emigração do seu capital humano resulta da falta de acessibilidades.
Nelas se baseia e fixação de pessoas, empresas e empregos, desenvolvimento.
Que não existe sem o escoamento dos produtos e o acesso à informação.
Sintra, Património Mundial, muito depende da acessibilidade que oferece aos muitos milhares de turistas que a visitam, contribuindo para o nível de vida da vila da transmontana Edite seja dos mais elevados do País.
Lembramos que o último orçamento camarário de Sintra envolve qualquer coisa como 34 milhões de contos!
O recente buzinão de protesto contra o tráfego do IC19, que conduz a Sintra, tem originado cuidados defensivos políticos e pode comprometer a repetição da maioria absoluta da rosa nas próximas eleições.
E, no entanto, a Câmara não é directamente culpada, mas os políticos deste Governo prenhe de ‘artistas do blá-blá’, ‘especialistas de todo-o-terreno’ ou ‘paus para toda a colher’.
Os ministros têm vindo a Sintra fazer promessas. Mas a estrada de Sintra precisa é de obras.
A última desilusão vem da própria ex-ministra da Saúde que garante não ter visto o PM honrar, em 22 meses, uma única garantia das muitas que lhe fizera.
O Douro, aberto de par em par através do seu Rio, dá novos Douros ao Mundo, neste começo de Milénio.
Mas, continua estrangulado pelos velhos acessos rodoviários, mesmo após o (perigoso) IP4.
Terras histórica e economicamente riquíssimas, como Lamego, Tarouca, Régua, Mesão Frio, Santa Marta, Sabrosa, Alijó, S. João da Pesqueira, Tabuaço, etc. não possuem senão estradas serpenteadas de suor e sofrimento.
A situação ainda é mais desesperada na parte mais nordeste, não só o Nordeste Transmontano mas também o beirão: um exemplo escandaloso é a situação de Barca de Alva.
Para acesso ao Rio e, por ele, ao Porto, os espanhóis deram-lhe uma ponte e um cais.
Mas, por exemplo, para se ir de Barca de Alva a Fozcoa (25km?) é preciso dar uma volta serpenteada por Moncorvo… ou por Figueira de Castelo Rodrigo!…
Com este estrangulamento, o homem do Douro corre o risco de sofrer, não só, um atrofiamento do bem-estar material, mas também das próprias capacidades de empreendimento.
Lembramo-nos de um conto do saudoso escritor João de Araújo Correia:
O Morgado de Santa Quitéria (“Caminho de Consortes”) nunca tinha saído da sua terra.
Aí era importante.
Mas um dia resolveu ir a Lamego… e, depois de desdenhar do próprio Marão (porque nunca o tinha visto), acredita finalmente que o mundo vai para muito mais longe do que as cepas plantadas na concha da aldeia.
– “Disseste aí, Manuel, que havemos de passar pelo relógio do Sol…
Meu Deus!… Nunca pensei que o mundo fosse tão grande!”
Durante séculos de produção e comercialização de um produto apreciado em todas as partes do Mundo, o poder político continua a fazer do Homem do Douro um ‘botocudo’ morgado de Santa Quitéria! Até quando?
Além da sangria humana, que a falta de condições económicas e culturais provoca, é de temer, ainda mais, a estagnação cultural e espiritual.
A desertificação espiritual dá origem a uma escravidão pior do que a do corpo: a da sujeição.
Sujeição a toda a espécie de arrivistas políticos sem escrúpulos.
O que é mais preocupante é que, além dos políticos nados e criados em Lisboa, os que para lá vão, mandados pela região, depressa esquecem as ‘berças’ para armarem em importantes.
O Eng. Mário Fernandes fez do nosso Rio o que é hoje: um traço de união ibérico, entre o mar e o coração da península.
Não é, apenas, uma Obra nacional: é peninsular. Quase como dar novos Mundos ao Douro.
Mas o partidarismo, que coloca incompetentes em poleiros dourados, precipitou a queda do Engenheiro do Douro.
Esqueceram-se, esses equilibristas, que o Eng. Mário Fernandes tem com ele a solidariedade e o apoio de todos aqueles que, como ele, amam o Douro.
Hoje já não é possível enganar por muito tempo os durienses.
Noutro conto de João de Araújo Correia, intitulado “Manuel do Mundo”, o Manuel, que partiu para fugir à sujeição, raramente vem à sua terra.
Quando aparece, vem de noite, roto, faminto, sujo e malcheiroso.
A velha mãe, depois de o lavar e lhe catar os piolhos, dá-lhe o caldo, queima-lhe a roupa e veste-o de novo.
Na aldeia, as mulheres sentem-se ameaçadas pelo mafarrico; mas, na taberna, os outros homens não levavam a sério a miséria do Manuel: por entre goles de vinho, meditam na sua própria miséria.
Essa é que é verdadeira: uma miséria de obediência a destinos talhados por homens de Lisboa.
Que fazem pagar caro pela Liberdade.
Parece ter chegado a hora triste de pensar que, para o Homem do Douro, é uma honra ter sido demitido pelos senhores de Lisboa!
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OUTUBRO/2000
Um texto de OS MAIAS, actual 110 anos depois…
No último editorial extraímos pormenores da vertente trágica dos MAIAS, tomando como oportunidade este ano do Centenário de Eça de Queirós.
OS MAIAS são obra lida e, até, estudada nas Escolas; aqui e agora, interessa-nos redescobri-la sob um ponto de vista cívico e jornalístico, referenciando-a à nossa época, isto é, projectando-a 110 anos para o futuro.
A visão do Portugal de 1888 é dada por Carlos e Ega (este já rendido à caducidade do Realismo e à sobrevivência do Alencar).
Transcrevemos um extracto do seu diálogo em Lisboa, após os dez anos do auto-exílio de Carlos:
“Pela sombra passeavam rapazes, aos pares, devagar, com flores na lapela, a calça apurada, luvas claras fortemente perpassadas do negro (…) com um arzinho tímido e contrafeito, como mal acostumado àquele vasto espaço, a tanta luz, ao próprio chique.
Carlos pasmava. Que faziam ali, às horas de trabalho, aqueles moços tristes de calça esguia? (…) E o que sobretudos o espantava eram as botas desses cavalheiros, botas despropositadamente compridas, rompendo para fora da calça colante com pontas aguçadas e reviradas como proas de barcos varinos…
– Isto é fantástico, Ega!
Ega esfregava as mãos. Sim, mas precioso! Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideias, das calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha… Somente, como lhe falta o sentimento da proporção e, ao mesmo tempo, o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o modelo, deforma-o, estraga-o até à caricatura. O figurino da bota que veio de fora era levemente estreito na ponta – imediatamente o janota estica-o e aguça-o, até ao bico de alfinete. (…)
O legislador ouve dizer que lá fora se levanta o nível da instrução – imediatamente põe, no programa dos exames d primeiras letras, a metafísica, a astronomia, a filologia, a egiptologia, a cresmática, a crítica das religiões comparadas, e outros infinitos terrores. (…) É o que sucede com os pretos já corrompidos de S. Tomé, que vêem os europeus de lunetas – e imaginam que nisso consiste ser civilizado e ser branco. (…) andam pela cidade, de tanga, de nariz no ar, aos tropeções (…) para serem imensamente civilizados e imensamente brancos.
Carlos ria:
– De modo que isto está cada vez pior…
– Medonho! É de um reles, de um postiço! Sobretudo postiço! Já não há nada genuíno neste miserável país, nem mesmo o pão que comemos!”
Que diferenças há entre este Portugal de há 110 anos e o actual?
Muitas: naquela altura não havia televisão.
Se houvesses, Carlos e Ega veriam esses moços acompanhados de moças, tudo numa boa, a fazerem amor ali mesmo em cima de um banco, encostado a uma parede, ou na relva – que ainda é grátis.
Mas as semelhanças são mais numerosas: por exemplo, no que respeita à instrução escolar: os ‘entendidos’ ouvem dizer que no estrangeiro os programas vão ser assim, ou assado… e lá vem mais uma badalada Reforma do nosso Ensino.
No estrangeiro tem alargado a escolaridade obrigatória? Nós vamos logo atrás deles e só exigimos que se saiba ler, escrever e contar aos… 18 anos!
De facilidade em facilidade, o país ficou cheio de moços (e moças) que se pavoneiam pelos locais públicos com um canudo na mão.
Quando àquela dos “cidadãos de S. Tomé” (sem meios para se valorizarem cultural e civicamente, coitados), esta associação de ideias é poderosamente aplicável à grande maioria dos políticos que nos governam segundo a moda europeia: como na Europa se põe em dúvida se a nossa capacidade é superior à do Terceiro Mundo, os nossos políticos, para Europa ver, portam-se como os pretos queirosianos, afivelando as lunetas da igualdade em flagrante contraste com a mentalidade de pé-descalço, que permite que os governos vão lá para fora fazer promessas de subsidiar cão e gato enquanto, cá dentro, devem milhões aos fornecedores dos bens essenciais, da área da saúde, da segurança social, da educação… mas ombreando nos subsídios milionários para Expôs, Euro 2004, Timor e outras ex-colónias, acções de soberania e caridade da Europa…
De tal modo está desenvolvido o complexo do “bico da bota” deste texto de Eça, que já ninguém estranha os inúmeros peditórios que se movimentam nas nossas ruas, para áreas da responsabilidade inalienável do Estado.
O Estado despeja para cima da Caridade (católica) as suas obrigações.
E, se não fosse o jogo (totobola, totoloto) da Santa Casa da Misericórdia, quase não haveria solidariedade social neste ‘São Tomé’ europeu.
No entanto, em vésperas de eleições, mesmo sem orçamento aprovado, arranjam-se 5% para arrebanhar os votos da numerosa terceira idade e dos ingénuos do costume.
Mais fez este Estado ‘São Tomé’: já se apressou ‘de lunetas’ a nivelar os nossos impostos pelo estrangeiro da EU, mas ainda não considera justo nivelar os nossos ordenados ‘de tanga’ com os da mesma UE.
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OUTUBRO/1998
O Político é um Predador?
O peditório que decorre a favor da luta contra o cancro é banal exemplo do falhanço estatal pelo recurso à caridade dos pobres e a grave inversão de valores que se verifica na nossa actual sociedade.
A transferência da responsabilidade política para as Regiões também demonstra que a democracia falhou em Lisboa, com a agravante de a nova chamada às urnas contribuir para esvaziar a AR e a banalizar outra fonte de soberania, sensibilíssima, que é o Referendo.
Todos os grandes nomes da política portuguesa consideram a regionalização um erro enorme.
O próprio Sampaio chama-lhe problema “abstracto”; os portugueses “querem ouvir falar de empregados, de escolas, tribunais, do problema da droga, do trânsito e dos transportes; é com isso que eles se debatem diariamente”.
Ideologicamente, neste referendo à portuguesa, decretado por políticos predadores, crus e irresponsáveis, as propostas situam-se exactamente nos pólos contrários aos que seriam coerentes: a esquerda, por natureza aglutinadora, centralista e socializante, é que está a fomentar a distribuição do poder.
Hipócrita.
Do ponto de vista marxista, a regionalização é um conceito rotundamente reaccionário; daí a coerência do Barreirinhas Cunhal, antes desta inconcebível cambalhota de 8 de Novembro.
Só que Cunhal negociou com os camaradas da rosa a herança de uma coutada ou um derradeiro bunker estalinista no Alentejo.
Que valem os votos do negócio?
Que vale o sim da esquerda, se contraria toda a vocação dos esquerdistas?
Quando os socialistas agem segundo modelos capitalistas só fazem desgraças: os dinheiros da EXPO e, agora, do Autódromo do Estoril somam muitos milhões de contos metidos nos bolsos dos predadores.
Cavaco privatizou coerentemente; as privatizações de Guterres são, segundo os manuais do socialismo, um autêntico sacrilégio.
Guterres não é um Robin dos Bosques (que lesse O Capital), pois anda para aí a engordar os capitalistas, os detentores do know how da manipulação do dinheiro.
E, quando já não houver mais EDPs, Telecoms, Brisas, etc. para privatizar, vamos ver um comuno-socialista a reestatizar essas mesmas empresas, para serem reprivatizadas por novos cavaquistas e reprivatizadas por novos comuno-socialistas, depois reestatizadas… etc.
Quem ganha, nesta dialéctica, é sempre o capital.
Porquê?
Porque é um predador honesto, coerente, competente e não estudou nas universidades do Estado.
E porque paga os cartazes.
À direita e à esquerda.
Os partidos não têm dinheiro: porque falam abstracto, são fúteis e não têm militantes.
Então os partidos estão falidos.
O que resta ideologicamente à democracia é ir-se aguentando enquanto houver políticos predadores.
A regionalização não é defendida por estes políticos só para chatear, ou, pior, brincar com o fogo, gerando a banalização do exercício da soberania popular.
Eles não brincam.
Há muito dinheiro envolvido numas eleições.
De tal modo que, se houvesse eleições todos os anos, um boss da política podia refastelar-se aos 40 anos com meia dúzia de milhões de contos.
Sem Regiões, o acesso a esse dourado saco azul (e laranja, e rosa, e vermelho…) está reservado aos Grandes Chefes de Lisboa.
O grande boss de Lisboa não quer esse Bolo repartido; mas o deputadito, por vezes filho de gente grada da terrinha, que em Lisboa só apanha migalhas (e uns pontapés debaixo de mesa… ) quer entrar em negócio directo com a sua Região.
Jogar em casa.
Até agora, enquanto simples representante dos seus eleitores na AR, o deputadito não fez nada pela sua Terra.
Porque acha que não lhe pagam para isso e porque está na política por não saber fazer nada e ter montes de tempo para investir nas esquinas do partido.
Mas em Lisboa aprendeu como as coisas se fazem:
“ Ah! Se tivesse uma Região só para mim e os meus patrícios! com acesso directo ao bolo do OGE e aos dinheiros da Europa!” – suspira.
Não importa que a Regionalização custe uns 16 milhões de contos, sem significado económico, segundo os malabaristas, que não têm esse dinheiro para um hospital… mesmo que, a curto prazo, a Regionalização custe 550 milhões de contos… como provam as contas, nuas e credíveis, de um economista de Guimarães!
Cada vez mais há quem nos assevere que 90% dos interesses postos na criação das Regiões deriva deste mecanismo predador da política, ligado ao tabu do financiamento dos partidos.
Qualquer empresário precisa de ganhar dinheiro e de boa vontade pagará para ter acesso à mama dos financiamentos fáceis… e, já agora, aparecer de braço dado com o novo mandão da Região… e então, por que não oferecer-lhe o usufruto de um ou dois BMW, um ou dois cartões de crédito dourados, uma ou duas casas de férias, uns títulos de tesouro, umas viagens ao estrangeiro, quiçá uns trocos numa conta em Espanha… ?
O cartaz CORRUPÇÂOx8 das nossas esquinas transmite saudavelmente esta mensagem.
Mas, do ponto de vista estritamente ideológico, não é o despesismo, ou, mesmo, a corrupção o principal rastilho da profunda ameaça à Democracia que se está a processar: é o esvaziamento dos Partidos e da AR, que consubstancia ou fundamenta toda a mecânica da soberania pelo sufrágio universal.
A Regionalização coloca em grande perigo a democracia portuguesa mesmo já a partir do risco de consagrar um abstencionismo, tão grave que já nem há cidadãos para as mesas de voto.
Resolve-se isso pagando-lhes uns 6.000$00 por cabeça.
Duvidamos é que em Portugal, ou nos Fundos Europeus, haja brevemente dinheiro para pagar a 10 milhões de eleitores… para irem votar!
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TROVAS DO MÊS
MAIO/1999
Liberdade… para votar
Em tempos que já lá vão,
havia muito aldrabão,
como agora, na nação.
Mas algum aldrabão-mor
trejurou que sim senhor
o povo tinha vontade
devia ter liberdade.
E a liberdade chegou
e logo o povo a usou,
e tanto usou, que abusou.
Desde então isto é um circo:
rico é cada vez mais rico
pobre é cada vez mais pobre!
E a massa, que há a dizer sobre?
Onde está ela afinal?
Levou-a o fisco? o Cunhal?
O Soares? Os Cavaquistas?
Ah! ah! com tantas conquistas
mesmo da classe operária
e não passa de precária
a bolsa dos portugueses!
E por isso a gente, ás vezes,
Começa a puxar pela tola,
e se não existisse a Bola
Fátima e também o Fado,
isto estava mal parado.
Somos livres, hã, que tal?
É a conclusão, tal e qual,
que o nosso portuga faz.
Lá vamos tendo um carrito,
um telemóvel bonito,
pagamos a gasolina,
mas o ar ainda é de graça…
Há uns tostõezinhos prá bucha,
a fome não mata (puxa!)…
dispensamos ter barrigas,
nesta vida tudo passa
e só queremos cantigas
desses nossos figurões
que nos levam os tostões
e nos deixam sempre sós,
mas que são iguais a nós
na hora das eleições.
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NOVEMBRO/1999
O parafuso de pau
Trova dedicada aos médicos,
por vezes obrigados a trabalhar como personagens
das histórias de quadradinhos…
Um rapazola saudável
não teve um dia agradável
pois que partiu uma perna
e não vinha da taberna.
Atormentado pelo mal,
foi parar ao hospital.
Ao ver a fotografia,
o médico desse dia
declarou, muito confuso,
ser preciso um parafuso,
mas o orçamento hospitalar
não chegava para o comprar…
Como o pai era ferreiro,
diz logo assim:
“ah! Porreiro!
vou a casa num instante…”
…Chegou depois, ofegante,
e entregou o material.
… … … … … … …
O rapaz sai do hospital
com a perna a dar a dar
a modos que assim torta
a ranger como uma porta
e o andar muito mau…
Diz-lhe o pai, comprometido:
– Não é o parafuso devido…
é um parafuso de pau…
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Nota (interessante e actual):
Foi glorioso ver uma fotocópia desta TROVA afixada em alguns Centros de Saúde da Linha de Sintra!
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MARÇO/1994
Corrupção na Câmara de Sintra – Famosíssima fábula dos quinhentos paus
Em tempos que já lá vão
Um construtor, malandreco,
Colocou quinhentos paus
Nos bigodes do leão
Que à Câmara faz vigia,
Mesmo ali, na escadaria,
A aterrar os que lá vão.
Passam as horas, os dias,
E o leão – oh co’um caneco! –
Mostrou-se muito esquisito,
Ou, mesmo, que era dos maus:
– Em vez de largar a massa
E demonstrar a quem passa
Que a corrupção é um mito…
…Ficou c’os quinhentos paus!!..
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Trata-se de um leão esculpido no fundo do corrimão da escada de pedra, à entrada da Câmara.
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MAIO/2002
Cerveja e Vinho?
Sousa Cintra é um empresário
corajoso, temerário
fabricante de cerveja;
tem fábricas no Brasil
donde sai muito barril
e a bebida que goteja
é a melhor de norte a sul
lá da América do Sul.
Um destes dias, o Leão,
fez uma inauguração
de uma fábrica moderna
e convidou os jornais,
as televisões, as revistas
tudo o que dava nas vistas
e solenizava mais.
Foi só comer e beber
saboreando delícias
logo que o padre Melícias
benzeu as instalações.
E quando o Cintra falou
os números revelou
que vão aos 15 milhões
em técnica e edifícios;
Cintra também confessou
que nunca tinha ressaca
como com cerveja fraca:
para o que der e vier
aconselhou a beber
ali mesmo a cada ouvinte
umas dez ou mesmo vinte.
E revelou mais o Cintra:
“– Esta água é maravilhosa
é natural e gostosa,
e aqui mesmo se obtém
na zona de Santarém;
e o meu lúpulo importado
é o mais qualificado
para uma cerveja fina
ou até mesmo divina.
Vai ser obra que se veja
que, além da minha cerveja,
fabrique refrigerantes:
vou fabricar laranjada,
com esta água encantada;
e um moderno guaraná,
que a bebida do Jardel
que até nem é nada má,
vai-se vender a granel !
Também vou engarrafar
esta água boa e pura
muito bem aproveitar
este bem enquanto dura,
empregar cá muita gente
fazer o povo contente
como trabalho e com bebida
que enquanto se vê a bola
não lhe suba muito à tola.”
***
Cintra não fez confissão
se ia também fazer Vinho;
pelo sim e pelo não…
rezemos a São Martinho!
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ABRIL/2000
BRASIL, em 1500 ainda sem mulatas
Diz Pêro Vaz de Caminha
que ao chegar ao Brasil
apareceram homens nus
besuntados de vermelho
que só comiam pevides
juntamente com as aves
bem canoras e garridas.
Depois de bem estudar
se era gente má ou boa
de boa ou má consciência
como mandava a prudência,
abriram-se então as portas
dos navios aos brasucas
e viu-se que as suas cucas
não eram de gentes tortas.
E então tornou-se possível
trocar prendas e convites
usando os truques do diálogo.
Para cumprir o decálogo
foi preciso ir à missa,
a que as pessoas da terra
assistiram com respeito.
Por ser domingo de Páscoa
chamou-se ao monte ‘Pascoal’
e o porto acolhedor
desse povo bom e puro
chamou-se ‘Porto Seguro’.
Tudo correu bem e calmo
deixando na brisa um salmo
de uma Amizade primeira
para durar a Vida inteira.
* * *
Não diz o Vaz de Caminha
se a saborosa mulatinha
já tinha sido inventada…
Não é por nada, mas, chiça!!
se já houvesse mulatas
ia faltar tudo à missa,
e em vez de missa pascal
havia batalha campal!!
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JULHO/2000
Oh! carago!!! Roubaram-me!!
Desejosos de bananas,
meia dúzia de macacos
fartos da treta pedagógica
e do trabalho da escola,
deitaram fora a sacola
e decidiram com lógica:
– Andam praí uns sacanas
a gozarem liberdade
com massa e pópós de estalo
e nós na flor da idade
andamos com grande galo
e temos de trabalhar
para mal nos sustentar…
Vamos chatear a cambada
e roubamos uns popós
com armas, aí vamos nós!
nunca nos faltará nada!
Fizeram alguns biscates
rodo e ferroviários
e a lei não tinha tomates
para os fazer presidiários.
Alarmada, a população
exige mais decisão
e então, com charme, o chefão
aproveita a ocasião
e vai dar uma voltinha,
dizer uma palavrinha
à Dona Televisão:
– Que não, está tudo seguro!
asseguro.. asseguro…
nem há criminalidade…
só uma ou outra maldade
típica da juventude…
só virtude… só virtude…
Eis senão quando, a bufar,
chega o chofer do chefão:
– Porque vens assim ‘passado’?
– Sôr ministro, foi roubado!!!
Roubaram os documentos
do casaco do fatinho
e ia levando no focinho!
– Esses gajos vão ter luta!!
Cara–o!! Filhos da puta!!…
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SETEMBRO/2000
Políticos vão a pé?
As notícias destes dias
têm sido boas, sadias,
sem barulho, poluição,
com os ministros a pé,
dando espectáculo ao Zé
e aos carros proibição.
O sistema traz vantagens:
com os carros nas garagens,
proibida a circulação,
além de poupar petróleo,
gasolinas e gasóleo,
também se poupa em estradas,
que, em vez de serem alargadas
para se ir trabalhar,
são simplesmente fachadas
para o portuga descansar.
Pra que servem os popós?
Segundo as modas actuais
não servirão para mais
do que para poluir,
pra passear, buzinar,
namorar, desesperar,
e chatear e gastar !…
Claro que há a excepção:
é daqueles que precisam
de transportar os miúdos,
levá-los aos estudos:
ou, outros, para distribuir
remédios, mercearias,
a correr todos os dias
para abastecer os mercados;
ou para ao médico ir,
ou para comprar material,
ou produto que esgotou…
ou…ou… ou… ou…ou…ou…
Carros são para trabalhar,
mas como há abastança
e o trabalho também cansa,
ou, como dizem, faz calos,
vamos a pé e deixá-los
a ‘esverdear’ uns diitas
e fazer mais umas fitas
para animarmos a politica
que pró povão é somítica
mas para tudo tem dinheiro.
Fiquemos refastelados
a ver nas nossas TêVês
o Big Brother; talvez
Até ganhemos mais massa
nalgum concurso que ai passa
que em anos sacrificados…
Mas não temos muita fé
se os políticos vão a pé
ou vão montados no Zé.
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