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PROVÉRBIOS DURIENSES

(GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, Vol III, pg. 1.884)

A cultura e experiências da vida eram transmitidas oralmente de geração em geração e sem necessidade de escolaridade organizada, embora existissem escolas particulares da Igreja: presbiteriais, monacais, episcopais… depois universitárias. A Universidade de Bolonha, fundada em 1088, é a primeira universidade da Europa: ministrava Direito, Medicina e Teologia. A Universidade de Coimbra foi fundada por D. Dinis em 1288 e é a primeira de Portugal).

Os dados da sabedoria experimental popular, sobretudo a rural, era transmitida ritmicamente, com rimas e versos (ritmos).

As temáticas são muito abrangentes ou diversificadas: a alimentação, a economia, a religião, a saúde, as relações humanas, o amor, o namoro, o casamento e os filhos, a guerra e a paz, a meteorologia e a agricultura, a vida e a morte, enfim…

A estabilidade doméstica da Mulher confere-lhe um estatuto cultural muito honroso, que perdura no dito universalmente aceite: “Quando morre uma Velha é uma Enciclopédia que se vai”. Esta ‘enciclopédia’… era analfabeta; mas, se não sabia ler, sabia ‘estreler’ (= tresler, ler de trás para a frente), pois “para bom entendedor meia palavra basta”.

As histórias da literatura verificam que esta técnica da transmissão ancestral rítmica e de prática oral (e mesmo a poesia em geral) é muito anterior ao aparecimento da prosa, fragilizada pela falta da musicalidade da rima e do ritmo. Ainda que seja provável a existência de formas rítmicas historicamente anteriores (a exemplo dos Salmos e outros textos bíblicos), os primeiros documentos literários conservados pertencem precisamente à lírica galego-portuguesa, desenvolvida entre os séculos XII e XIV.

Em Portugal os provérbios (ritmados, rimados e orais) e a literatura galego-portuguesa (poesia, música, trovadores…) situam-se comprovadamente nos contextos de Santiago de Compostela, que em meados do século XI já se havia tornado um lugar pan-europeu de peregrinação. Esse estatuto ainda (séc XXI !) hoje se mantém, apoiado pelas organizações dos Jacobeus (Jacob = Tiago).

A prosa, por seu lado, desenvolveu-se apenas durante o século XVI, integrada nas dinâmicas do Renascimento e centrada sobretudo na prosa histórica e científica, as crónicas de viagens (a Expansão iniciou-se em 1415) e os textos religiosos, moralistas e filosóficos.

É lícito, portanto, concluir que a sabedoria popular (moralista, utilitária…) expressa em Provérbios
Adágios, Ditados, Máximas, Aforismos e Frases Feitas (em forma rimada, para melhor fixação) antecipou em vários séculos a prosa (também utilitária) do próprio Renascimento – embora funcionassem alguns textos interinos específicos do mundo eclesiástico.

Os rimances populares medievais (ver neste Site), transmissores de Lendas, Fait-divers… e geralmente monórrimos, musicados ou não, também reforçam os parâmetros da prioridade da Poesia sobre a prosa.

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EXEMPLOS DE PROVÉRBIOS

Amigos:
A conselho amigo, não feches o postigo.
A falta do amigo há-de-se conhecer mas não aborrecer.
Amigo diligente, é melhor que parente.
Amigo disfarçado, inimigo dobrado.
Amigo que não presta e faca que não corta: que se percam, pouco importa.
Amigo verdadeiro vale mais do que dinheiro.
Amigo, vinho e azeite o mais antigo.

Amor:
Amor com amor se paga.
Amor de pais não há jamais.
Amor querido, amor batido.
Amores arrufados, amores dobrados.
As sopas e os amores, os primeiros são os melhores.
Escândalo aparta amor.
Filho sem dor, mãe sem amor.
Mais se tira com amor do que com dor.
Mãos frias amores todos os dias.

Dinheiro:
A quem do seu foi mau despenseiro, não fies o teu dinheiro.
Amigo verdadeiro vale mais do que dinheiro.
Calças brancas em Janeiro, sinal de pouco dinheiro.
Com a mulher e o dinheiro, não zombes companheiro.
Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão.
Dinheiro e santidade, a metade da metade.

Tolos:
A vaidade é o espelho dos tolos.
Ao bebado e ao tolo, dá-se o caminho todo.
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Quem deixa o certo pelo incerto, ou é tolo ou pouco esperto.
Quem não se ri ao mês, ou é tolo ou quem o fez.
Quem parte e reparte e fica com a pior parte, ou é tolo ou não tem arte.

Guerra:
Em tempo de guerra todo o buraco é trincheira.
Em tempo de guerra, não se limpam as armas.
Não há guerra de mais aparato do que muitas mãos no mesmo prato.
Quando se declara a guerra, o Diabo alarga o Inferno.
Quem compra terras, compra guerras.
Quem vai à guerra, dá e leva.
Vem a guerra, vai a guerra, fica a terra.

Economia:
É tarde para economia, quando a bolsa está vazia.

Carnaval (Épocas do ano)
Carnaval na eira, Páscoa à lareira.
No Carnaval nada parece mal.
Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira.
Não há Entrudo sem Lua Nova nem Páscoa sem Lua Cheia.
Quem quiser o alho cachapernudo, plante-o no mês do Entrudo.

São Martinho:
A cada Bacorinho, vem seu S. Martinho (11/11).
Não há bacorinho sem seu S. Martinho.
No dia de S. Martinho (11/11) vai à adega e prova o vinho.
No dia de S. Martinho (11/11), mata o teu porco e prova o teu vinho.

No dia de S. Martinho (11/11): lume, castanhas e vinho.
Pelo S. Martinho (11/11) todo o mosto é bom vinho.
Pelo S. Martinho, deixa a água pró moinho.
Quem bebe no S. Martinho (11/11), faz de velho e de menino.
Queres pasmar o teu vizinho? Lavra e esterca p’lo S. Martinho.
Se o Inverno não erra caminho, têmo-lo pelo S. Martinho.

Horta:
Em Março, esperam-se as rocas e sacham-se as hortas.
Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta.

Janeiro:
A Pescada de Janeiro, vale um carneiro.
Aproveite Fevereiro quem folgou em Janeiro.
Calças brancas em Janeiro, sinal de pouco dinheiro.
Cava fundo em Novembro para plantares em Janeiro.
Chuva em Janeiro e não frio, dá riqueza no estio.
Comer laranjas em Janeiro, é dar que fazer ao coveiro.

Fevereiro:
Água de Fevereiro, mata o Onzeneiro.
Ao Fevereiro e ao rapaz, perdoa tudo quanto faz.
Aproveite Fevereiro quem folgou em Janeiro.
Em Fevereiro, chega-te ao lameiro.
Em Fevereiro, chuva; em Agosto, uva.
Fevereiro é dia, e logo é Santa Luzia.
Fevereiro enxuto, rói mais pão do que quantos ratos há no mundo.

Março:
Bodas em Março é ser madraço.
Em Março, esperam-se as rocas e sacham-se as hortas.
Em Março, tanto durmo como faço.
Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir.
Março duvidoso, S. João farinhoso.
Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão.
Nasce erva em Março, ainda que lhe dêem com um maço.
Páscoa em Março, ou fome ou mortaço.
Poda-me em Janeiro, empa-me em Março e verás o que te faço.

Abril:
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
Abril, Abril, está cheio o covil.
Em Abril águas mil.
Em Abril queima a velha o carro e o carril.
Em Abril, cada pulga dá mil.
Em Abril, lavra as altas, mesmo com água pelo machil.
Em Abril, vai onde deves ir, mas volta ao teu covil.

Maio:
A ignorância e o vento são do maior atrevimento.
As favas, Maio as dá, Maio as leva.
Boa cepa, Maio a deita.
Chovam trinta Maios e não chova em Junho.
Em Maio queima-se a cereja ao borralho.
Em Maio, já a velha aquece o palácio.
Em Maio, nem à porta de casa saio.

Junho:
Chovam trinta Maios e não chova em Junho.
Chuva de Junho, peçonha do mundo.
Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
Feno alto ou baixo, em Junho é cegado.
Junho calmoso, ano formoso.
Junho floreiro, paraíso verdadeiro.
Junho, dorme-se sobre o punho.
Junho, foice em punho.
Maio frio e Junho quente: bom pão, vinho valente.

Julho:
Água de Julho, no rio não faz barulho.
Deus ajudando vai em Julho mereando.
Julho quente, seco e ventoso, trabalha sem repouso.
Não há maior amigo do que Julho com seu trigo.
Nevoeiro de S. Pedro, põe em Julho o vinho a medo.
Quem em Julho ara e fia, Ouro cria.

Agosto:
Quem quiser ver o seu marido morto, é dar-lhe caldo de berças em Agosto

Setembro:
Agosto tem a culpa, e Setembro leva a fruta.
Em Setembro, ardem os montes, secam-se as fontes.
Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
Setembro, ou seca as fontes ou leva as pontes.

Outubro:
Em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente.
Em Outubro, o fogo ao rubro.
Em Outubro, paga tudo.
Logo que Outubro venha, procura a lenha.
Outubro meio chuvoso, torna o lavrador venturoso.
Outubro quente traz o diabo no ventre.

Novembro:
Cava fundo em Novembro para plantares em Janeiro.
Em Novembro, prova o vinho e planta o cebolinho.
Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
Tudo em Novembro guardado; em casa ou arrecadado.

Dezembro:
Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
Dezembro frio, calor no estilo.
Em Dezembro, treme de frio cada membro.
Nem em Agosto caminhar, nem em Dezembro marear.
Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.

Inverno:
Dos Santos ao Natal, é Inverno natural.
Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir.
Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão.
Nem no Inverno sem capa, nem no Verão sem cabaça.
O Verão colhe e o Inverno come.
Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno.
Se a Senhora das Candeias (02/02) rir, está o Inverno para vir.

Tempo:
Alto mar e não de vento, não promete seguro o tempo.
Assim como vires o tempo de Santa Luzia ao Natal, assim estará o ano mês a mês até final.
Bom é saber calar até ser tempo de falar.
Cesteiro que faz um cesto faz um cento, dando-lhe verga e tempo.
Em tempo de Figos, não há amigos.
Em tempo de guerra todo o buraco é trincheira.
Em tempo de guerra, não se limpam as armas.
Gaivotas em terra temporal no mar.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Trabalho:
Do trabalho e experiência, aprendeu o Homem a ciência.
Filhos criados, trabalhos dobrados.
Homem folgazão, no trabalho sonolento.
Não há atalho sem trabalho.
O trabalho do menino é pouco, mas quem o despreza é louco.
Quem ao comer sua, ao trabalho amua.
Quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos.

Pais:
Amor de pais não há jamais.
Casa de pais, escola de filhos.
Espera de teus filhos o que a teus pais fizeres.
Filho que pais amargura, jamais conte com ventura.
O que o juízo dos pais acumula, a loucura dos filhos desbarata.

Boi:
A preguiça morre à sede, andando a boiar.
Boi luzidio nunca tem fastio.
Boi velho com os ossos lavra.
Não ponhas o carro à frente dos bois.
P’lo S. Mateus, pega nos bois e lavra com Deus.
Quem não tem bois, não promete carrada.

Porco:
Em Janeiro, um Porco ao sol e outro ao fumeiro.
Morto por morto, antes a velha que o porco.
Mulher que assobia, ou capa porcos ou atraiçoa o marido.
No dia de S. Martinho (11/11), mata o teu porco e prova o teu vinho.
Porcos com frio e homens com vinho fazem grande ruído.
Quem com farelos se mistura, porcos o comem.

Fome:
A fome é a melhor cozinheira.
A fome é boa mostarda.
A fome é o melhor tempero.
A fome faz sair o lobo do mato.
Antes minha face com fome amarela, que vergonha nela.
Burro com fome, cardos come.

Provérbios sobre conceitos abstractos:

Liberdade:
Quem tem Saúde e Liberdade é rico e não sabe.

Inveja (imbejidade):
A Morte abre a porta da Fama e fecha a da Inveja.
Mais vale inveja que pena (ou: piedade).
Lágrimas de herdeiros, sorrisos sorrateiros.
Muito riso, pouco siso.

Sorte:
Ninguém está bem com a sorte que tem.
Quem tem sorte ao jogo não tem sorte aos amores.
Deus nos livre dos maus vizinhos de ao pé da porta.

Morte:
A Morte abre a porta da Fama e fecha a da Inveja.
Morte com honra, não desonra.
Morte desejada, é vida dobrada.
Quando é de morte o mal, não há médico para curar tal.
Macaco velho, não trepa galho seco.

Engano
Dos enganos vivem os escrivães.
O tempo em Fevereiro enganou a Mãe ao soalheiro.
Em Roma, faz como os Romanos.
Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão.
Ramos molhados, anos melhorados.
Cada macaco no seu galho.

Aprender, saber
Mais viver, mais aprender.
Para ensinar, é preciso aprender.
A quem tudo quer saber, nada se lhe diz.
Bom é saber calar até ser tempo de falar.
O novo por não saber e o velho por não poder deitam tudo a perder.
O Saber não ocupa lugar.
Saber esperar é uma grande virtude.
Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha.
Viver não custa, o que custa é saber viver.
Do trabalho e experiência, aprendeu o Homem a ciência.
De livro fechado, não sai letrado.
Um burro carregado de livros é um doutor.
Filho de peixe sabe nadar.
Nem tudo o que vem à rede é peixe.

Alguns preceitos de Medicina caseira
Onde sobeja a água, falta a saúde.
No Verão, torneira; no Inverno, padeira.
Com caracóis e figos lampos não bebas água.
Malvas e água fria fazem um boticário num dia.
A quem Deus quer dar a vida, água da fonte é mezinha.
Não comas caldo de nabos nem o dês aos teus criados.
Depois de jantar e depois de cear, assear.
Quem em Maio não merenda, à morte se encomenda.
Quem ceia e logo se vai deitar, má noite há-de passar.
A ceia quer-se sem sal, sem luz e sem moscas.
Quem bem ceia bem dorme.
Ceia pouco: dormirás como um louco.

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