MÚSICAS Saloias Palacianas

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Este trabalho concentra-se num aspecto muito específico da Cultura Saloia: a Música Saloia Palaciana.

O apogeu económico de Portugal deu-se no séc, XVIII, de D. João V, quando as riquezas provenientes dos Descobrimentos permitiram à nobreza de Lisboa expandir-se para a periferia marítima do eixo Oeiras – Cascais – Sintra – Mafra.

Erguem-se aí grandes projectos de nobreza e luxo, com relevo para os chalés e palácios, que são a base do estatuto de Património Mundial atribuído a Sintra, que, ainda actualmente, atraem a admiração de milhões de turistas de todo o mundo.

Era essencial a mão-de-obra dos habitantes, que se multiplicaram rapidamente, atraídos pelo emprego e pelo acesso ao fausto dos salões e, portanto, das roupas, culinária, músicas e danças, provenientes de toda a Europa monárquica através de grandes artistas contratados.

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O epíteto SALOIO

Segundo Altino Cardoso, o professor, escritor, musicólogo e investigador, a partir da análise do Foral de D. Afonso Henriques a Sintra e da caracterização demográfica no séc. XVI, situa no séc. XVIII o surgimento do epíteto “saloio”, atribuído aos habitantes rurais que abasteciam a população snob lisboeta. Os rurais consideravam os mordomos lisboetas, designados “alfacinhas“ uns fracos, mal alimentados; que os recebiam com desprezo carregados, cheios de quilómetros nos pés e odor corporal (salauds). Para além de outras notícias, este odor corporal, alcunha esta gente rude e simples de Saloios. São estes ditos saloios, que pela procura Alfacinha de alimentos, começam a abastecer a cidade provenientes dos arrabaldes, num raio de cerca de 35km a norte (Torres Vedras ) e também a sul, como até à pouco tempo, aliada à tradição religiosa centenária do “Círio“ de N. Srª do Cabo Espichel.

In: https://mariaalmiramedina.weebly.com/biografia-altino-cardoso.html

NOTA de Altino Cardoso: Ser SALOIO é ter a dignidade bíblica de “ganhar o pão com o suor do seu rosto”.

Ler em Cesário Verde (uma visão carinhosa da heróica Mulher Saloia):

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NUM BAIRRO MODERNO 
– Cesário Verde
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[…]
E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho de horta aglomerada,
Pousara, ajoelhando, a sua giga.

E eu, apesar do sol, examinei-a:
Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguedelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.

Do patamar responde-lhe um criado:
«Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais.» E muito descansado,
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.
[…]
O sol dourava o céu. E a regateira,
Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me, prazenteira:
«Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!...»

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantámos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.

«Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!»
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dos excessos de virtude
Ou duma digestão desconhecida.

E enquanto sigo para o lado oposto,
E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre afasta-se, ao calor de Agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
E sem quadris na saia de ramagens.
[…]
E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas.

E, como grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.
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Cesário Verde pode ser considerado um 'poeta de Linda-a-Pastora' 

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Actualmente, os ranchos folclóricos utilizam concertinas e acordeons para executar as músicas do cancioneiro saloio.
MAS COMO SOAVAM ALGUMAS DESTAS MÚSICAS NOS SALÕES DESSE TEMPO (séc. XVIII >)?
Admitimos várias hipóteses, desde música profissional e de câmara (ex. no palácio de Queluz) a instrumentistas individuais, nomeadamente de cravo (>piano).

De cravo ou piano apresentamos algumas hipóteses de reconstituições (Identificação, arranjos e gravações em MP3 de Altino M. Cardoso).

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EXEMPLOS

Passecate (Identificação, escrita e arranjo: Altino M Cardoso)

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Contradança (Identificação, escrita e arranjo: Altino M Cardoso)

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Dança palaciana (Identificação, escrita e arranjo: Altino M Cardoso)

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Minuete (Identificação, escrita e arranjo: Altino M Cardoso)

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Valsa antiga (Identificação, escrita e arranjo: Altino M Cardoso)

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Valsa a dois passos (Identificação, escrita e arranjo: Altino M Cardoso)

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NOTA: Para se obter um melhor enquadramento nos contextos históricos, sócio-económicos, culturais, etc. da Região Saloia, neste site/livro apenas esboçados, convém consultar:
– CARDOSO, Altino Moreira – CANCIONEIRO SALOIO, 170 pautas (músicas e letras), 2005;
– CARDOSO, Altino Moreira – MUSEU SALOIO – Memória Imaterial, 2016;

– CARDOSO, Altino Moreira – HINO DE SINTRA PATRIMÓNIO MUNDIAL (2022)

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