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GCAD_FADOS (de Lisboa)
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O Fado, originariamente cantiga de taberna e marginalidade, conseguiu impor-se artisticamente, com belas músicas e poemas e pôde adquirir há poucos anos o estatuto de Património Mundial pela UNESCO,
As tunas rurais apresentavam repertórios com um fundo de base local e regional, mas também tentavam adoptar experiências eruditas apreendidas em visitas às Grandes Cidades: os espectáculos (teatros de revista, cabarets…) do Porto e, ainda, os de Lisboa.
Era tarefa de ouvido, difícil, pois não havia rádios nem mesmo pautas publicadas. Daí que hoje se torna impossível apresentar um carimbo de autor, ou mesmo de local ou região da recolha, tornando-se injusto arriscar um autor ou local ou uma data, sem ter a certeza.
No entanto, as peças autóctones das nossas Tunas durienses oferecem na gereralidade um sabor genuíno, gerador de uma saudosa emoção muito bem conseguida, embora em vias de se perder, como as restantes tradições transmitidas em proximidade cívica fixa.
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EXEMPLOS
[Notas: escolhem-se apenas estes, de uma listagem bem mais abrangente. Como sempre, os arranjos são de simples apresentação, não se obrigando a copiar os originais]
FADO DA DESGRAÇADINHA [Vol II – p 1158] (Recolha e Arranjo: Altino M Cardoso)
Virgem casta, eu já fui como tu,
já vivi como os anjos do céu; (bis)
esta fronte que vês humildada
foi coberta com cândido véu. (bis)
Eu também, como tu, tive flores,
tive tanta grinalda singela!
Tive beijos de um pai carinhoso…
Eu também, como tu, já fui bela!
Como tu, eu já tive esperança,
já gozei dessa vida sagrada:
hoje vivo a lutar com a dor
que fulmina a mulher desgraçada!
Tive mãe, como tu inda tens,
que velava por minha ventura,
que tornava meus dias ditosos,
de seus lábios me dava doçura…
Mas bem cedo, donzela, essa glória,
qual um sonho, depressa passou;
essas flores consagradas que tive,
foi um beijo infernal que as murchou!…
Esse véu inocente que tive
mo tiraram sem pena, sem dó!
Ímpia mão mo rasgou com desprezo,
nem as cinzas se encontram no pó!
Ai, perdoa, donzela, este canto
repassado de dor e de fel!
Ouve as queixas da triste perdida,
que são ecos da sorte cruel!…
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FADO CHORADINHO [Vol II – p 1155] (Rec e Arranjo: Altino M Cardoso)
Fui encontrar a desgraça
Onde os mais acham prazer: (bis)
Amor, que dá vida a tantos,
Só a mim me faz morrer! (bis)
Ó cidra, considra ó cidra,
Ó cidra, considra bem:
Depois da cidra partida,
Cidra, que remédio tem? (bis)
Eu fui a mais desgraçada
Das filhas da minha mãe:
Todas têm a quem se cheguem,
Só eu não tenho ninguém!
Não sei que quer a desgraça,
Que atrás de mim corre tanto!
Hei-de parar e mostrar-lhe
Que de vê-la não me espanto.
Eu quero bem à desgraça
Que sempre me acompanhou,
Não posso amar a ventura
Que bem cedo me deixou!
Quem tiver filhas no mundo,
Não fale das malfadadas:
Porque as filhas da desgraça
Também nasceram honradas!
Das filhas da desventura
Devemos ter compaixão:
São mulheres como as demais,
Filhas de Eva e de Adão.
Debaixo do frio chão,
Onde o sol não tem entrada,
Abre-se uma sepultura,
Finda o fado à desgraçada!
E Deus, que tudo perdoa,
E a Virgem Nossa Senhora,
Hão-de ouvir a alma que implora
Salvação à pecadora!
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Fadinho do Cego [GCAD Vol II – pg 700] (Recolha e Arranjo: Altino M Cardoso)
OBS – Estrutura harmónica deste fado:
– na primeira parte (em tom MAIOR) narram-se factos tristes ou românticos da vida (amores, maldição, má sina, desgraças, etc.);
– a segunda parte (no tom relativo menor) expõe e aprofunda o lamento até ao fim.
Outros fados, radicalizam a desgraça desde o primeiro compasso –sempre em tom menor. Há exemplos neste livro. (GCAD- Vol II)
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