GCAD_TUNAS-CHULAS DURIENSES

Descrição

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CHULAS DURIENSES

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Muitas letras (quadras populares)
são comuns a outros géneros musicais

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Dada a universalidade da métrica rítmica da redondilha (7 sílabas métricas) e o número incomensurável de quadras populares em circulação nos cantares tradicionais do nosso Povo, torna-se quase impossível emparelhar a letra com a música – isto é: dizer a que música pertencem as quadras populares, a não ser que a letra dê o título.
Note-se que, em geral, as quadras demonstram uma grande mestria poética, aperfeiçoada através dos tempos, muitas desde a própria época trovadoresca do galego-português.
As chulas e outros géneros utilizam quadras avulsas, pelo será prático inserir algumas das quadras que mais comuns nessas danças.
Nos volumes I e II do GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO as pautas inserem as letras (quadras) da parte cantada a solo – geralmente muito menor do que a parte do toque, que pode até desenvolver-se livremente ou permitir variantes, ao gosto de tocador.


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EXEMPLOS

Chula de Loureiro (Recolha e Arranjo: Altino M Cardoso) Ver pauta em: GCAD vol I, 142

CHULA DE LOUREIRO (RÉGUA)

Toque  ——     ——      ——

SOLO (quadras)

Nossa Senhora da Serra
tem um Filho sarrador
para sarrar a madeira
para o altar do Senhor.

Domingo, se fores à missa,
bem sabes onde eu me ponho:
dá-me um aceno co’os olhos
que eu co’ isso me componho.

Dizes que me queres bem…
eu por obra o quero ver;
o dizer quero-te bem
quem quer o pode dizer.

Se eu soubesse quem tu eras
e qual é teu coração,
uma fala que te dei
ou ta daria ou não.

Se eu soubesse quem tu eras
ou quem tu vinhas a ser,
mandava vir da botica
remédio para morrer.

O amor de homem casado
quem me dera sequer um
para couços de panela
que inda não tenho nenhum.

O amor de homem casado
quem o quer? quem o cobiça?
É como um cânt’ro quebrado
com a rolha de cortiça.

O amor de homem casado
quem o há-de pertender?
é como o vinho botado
que não se pode beber.

Hei-de escrever uma carta
ao rigor desse teu corpo:
juro que não chegará
quanto papel tem o Porto!

Deste-me um ar de teu riso
quando por ti fui passando:
empiscaste-me os teus olhos,
eu logo me fui chegando.

Ai, amores de ao pé da porta
quem mos dera a todo o risco:
ainda que a boca não fale,
os olhos sempre lhe empisco.

Aos olhos do meu amor
hei-d’lhes atirar um tiro,
já que eles por bem não querem
voltar a falar comigo.

Os olhos requerem olhos,
os corações, corações:
também as boas palavras
requerem boas acções.

Os olhos requerem olhos,
Tudo requer o que é seu:
eu requeiro o meu amor,
é por justiça que é meu!

O amor, quando se encontra,
causa pena e causa gosto,
sobressalta o coração,
faz subir a cor ao rosto.

Hei-de subir ao teu peito
por alta escada de vidro,
com fechaduras de prata
para me fechar contigo…

A CHULA é uma dança típica do Douro, bem batida e movimentada, até um pouco violenta, tal como a natureza agreste, que precisou de ser domada até se destilar em vinho doce e se transformar em Património Mundial.
Não hesito em escrevê-la neste tom, pois a cantadeira de uma chula tem de elevar a voz até ao sol, ou até, mais alto, como a lendária Marquinhas da Maratas, de Loureiro, que atingia o dó superior… como nem muitas divas da ópera!
Sobre a letra posso observar que está conotada com a Romaria à Senhora da Serra do Marão, no primeiro domingo de Setembro.
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Chula da Régua (Recolha: César das Neves | Arranjo: A M C) Ver pauta em: GCAD vol II,1140

CHULA DA RÉGUA

Eu hei-de te amar, amar,
eu hei-de te amar a rir;
mas hei-de te amar de dia,
que à noite quero dormir.
A candeia, por estar baixa,
não deixa de alumiar:
assim o amor, lá de longe,
não deixa de nos lembrar.
Há silvas que dão amoras
há silvas que as não dão:
há amores que são firmes
como há muitos que o não são.
Abre-te, meu peito, e fala!
Coração, salta cá fora:
anda ver o meu amor,
que chegou aqui agora.
As pombinhas quando nascem
põem-se logo aos beijinhos:
assim são os namorados
quando se encontram sozinhos…
Oh, coração, coração,
quem te atirara dois tiros,
com uma pistola de oiro,
carregada de suspiros!
A salsa do cais do Douro
de mimosa cai-lhe a folha:
tenho um amor bem bonito,
se não houver quem mo tolha.
O meu amor foi-se embora…
se ele foi, deiá-lo ir:
mas deixou-me prisioneira,
que não lhe posso fugir…
Vou-me embora do meu amo,
não lhe devo nem um dia:
antes me deve ele a mim
das noites que eu não dormia.
Ando por aqui de noite
às escuras como o rato:
ando de porta em porta
não atino co’o buraco.
Ando por aqui de noite
como o gavião perdido:
acordo e adormeço
contigo no meu sentido.
Limoeiro do Brasil,
bota pra cá um limão:
quero tirar uma nódoa
que tenho no meu coração.
Minha mãe é minha amiga,
quando coze dá-me um bolo:
quando se arrenega comigo
dá-me com a pá do forno!
De que servem as esquinas
numa noite de luar,
se elas não hão-de encobrir
dois amantes a falar?
O sol anda e desanda
mil voltas em derredor:
eu não ando nem desando,
sou leal ao meu amor.
Falais de mim, falais de oitros,
sempre tindes que dizer:
inda que o inferno bem cheio
vós haveis de lá caber!
Onze horas, meio-dia
e o jantar arrefece…
anda agora muito em moda:
quem mais faz menos merece!
Tenho catorze namoros
pra conversar às semanas:
três Marias, três Josefas,
Três Franciscas, cinco Anas.
A salsa do cais do Douro
de mimosa cai-lhe a folha:
tenho um amor bem bonito
se não houver quem mo tolha.
O meu amor foi-se embora…
se ele foi, deixá-lo ir:_
mas deixou-me na prisão,
que não lhe posso fugir…
Onze horas, meio-dia
e o jantar arrefece…
anda agora muito em moda:
quem mais faz menos merece!
Vou-me embora do meu amo,
não lhe devo nem um dia:
antes me deve ele a mim
das noites que eu nem dormia.
Falais de mim, falais de oitros,
sempre tindes que dizer:
inda c’o inferno cheio
vós haveis de lá caber!
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Chula do Marão  (Arranjo: A M C) I 145

CHULA DO MARÃO

– Boua noute meus sinhores,
bai começar a questão
desafio a cantadeira
mesmo sem ter pau na mão.
– Deus te perdoie cantadore
tanta léria, pouca obra
sou cantadeira assanhada
eu cá sou de pel’ de cobra.
– Num me metas tanto medo
que me dói aqui dum lado;
canta-me com mais meiguice
se me queres pra namorado.
– Eu namorado já tanho
e no meu peito bem pula
eu quero deitar-te abaixo
mas a cantar esta chula.
– Se calhar num lebo nada
por ‘star a cantar contigo
– Só quero que continues
a ser sempre meu amigo
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Chula rabela  (Arranjo: A M C)  I, 147

CHULA RABELA

Ó chula rabela, ó chula.
– Ouves, ó lindinha? –
Eu não te digo que não!
São rapazes de calça branca,
– Ouves, ó lindinha? –
e castanheta na mão.
Dizeis que viva Barqueiros.
– Ouves, ó lindinha? –
Por ter a frente caiada,
eu também digo que viva
– Ouves, ó lindinha? –
a bela rapaziada!
Vou dare a despedida.
– Ouves, ó lindinha? –
Vou dá-la e vou-me embora.
São horas de “recolhere”,
– Ouves, ó lindinha? –
o canário à gaiola.
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Chula farrapeirinha (GCAD II, 1145) [Recolha e harm AMC]

CHULA FARRAPEIRINHA

Ó minha farrapeirinha,
ó minha farrapeirona,
já trazes a saia rota,
da apanha da azeitona.
O diabo leve os homens,
aqueles que bebem vinho:
não me há-de levar o meu,
esse bebe poucochinho!
Ó minha farrapeirinha,
ninguém mais do que eu te quer:
hei-de pedir-te a teu pai,
para seres minha mulher.
Quem me dera ser retrós,
ou linha de toda a cor,
para andar junto ao teu corpo,
servindo de atacador.
Já te quis, já não te quero,
já te amei, já te não amo,
a minha pouca assistência
vai te dar o desengano.
Algum dia, meu brinquinho,
o meu regalo era ver-te:
agora tanto me vale
ganhar-te como perder-te!
Ó minha bela menina,
quanto tenho te darei:
darei-te a vista dos olhos,
cego por ti andarei!
Ó minha bela menina,
hoje sim, amanhã não:
hoje me tiras a vida,
amanhã o coração!
Muito brilha o branco-branco
ao pé do branco lavado:
muito brilha i’uma menina
ao pé do seu namorado!
Ó menina, diga, diga,
por sua boca confesse
se já teve em sua vida
amor que mais lhe quisesse!
Menina, se quer saber
como agora se namora,
meta o lencinho no bolso
com a pontinha de fora.
Nem tanto estar à janela,
nem tanto olhar para o chão,
nem tanto tirar o lenço
da algibeira para a mão.
Menina, se quer ser minha,
ponha o pé na segurança,
pois há-de andar direitinha
como o ouro na balança!
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Chula de Tabuadelo (Arranjo: A M C) ii 679

CHULA DE TABUADELO

Letra/solo (?)
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Chula Arrais do barco  (Arranjo: A M C)  I, 104

CHULA ARRAIS DO BARCO

Ó senhor Arrais do barco,
olhe lá a sua barquinha,
olhe lá a sua espadela
que não esbarre na minha!
Ó senhor Arrais do barco,
caiu uma rata à panela:
não me tire cá o caldo
que eu não quero comer dela!
Ó senhor Arrais do barco,
salte fora e venha ver:
venha ver a sua filha
que se vai “arreceber”!
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Chula de Alva  (Arranjo: A M C)  I, 141

CHULA DE ALVA

– Boua noute meus sinhores,
bai começar a questão
desafio a cantadeira
mesmo sem ter pau na mão.
– Deus te perdoie cantadore
tanta léria, pouca obra
sou cantadeira assanhada
eu cá sou de pel’ de cobra.
– Num me metas tanto medo
que me dói aqui dum lado;
canta-me com mais meiguice
se me queres pra namorado.
– Eu namorado já tanho
e no meu peito ele bem pula
eu quero deitar-te abaixo
mas a cantar esta chula.
– Se calhar num lebo nada
por ‘star a cantar contigo
– Só quero que continues
a ser sempre meu amigo.
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Chula de Baião  (Arranjo: A M C)

CHULA DE BAIÃO

Sem solo (letra)?
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Chula de Barqueiros  (Arranjo: A M C)

CHULA DE BARQUEIROS

Sem solo (letra)?
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EXEMPLOS DE QUADRAS POPULARES DAS CHULAS

SOLISTAS:
Ó amores novos, falai-me,
que os velhos já me esqueceram;
faço de conta que foram
folhas de papel que arderam!
Semeei o meu faval,
já tenho muitas favinhas:
já tomei novos amores…
os velhos que torçam linhas!
Eu só amo a três amores,
dois de manhã, um de tarde;
trago-os a dois enganados,
só a um falo verdade.
Já te quis, e bem, na vida,
isso quis, que eu não o nego;
fizeste-me uma traição
agora nem ver-te quero!
Cala-te, meu coração,
Tu nada queiras dizer:
quem se cala vence tudo,
também tu há-des vencer!
Eu amar hei-de te amar,
foi palavra que te dei,
por fim hei-de te deixar,
como tu fazes tambéim.
Hei-de amar a pedra dura
e ao teu coração não:
que a pedra dura não queima
e tu queimas sem razão.
Sois água e não matais sede,
sois pimenta e não queimais:
sois uns e pintais-vos de oitros
quando comigo falais.
Domingo, se fores à missa,
bem sabes onde eu me ponho:
dá-me um aceno co’os olhos
que eu co’ isso me componho.
Dizes que me queres bem…
eu por obra o quero ver;
o dizer quero-te bem
quem quer o pode dizer.
Se eu soubesse quem tu eras
e qual é teu coração,
uma fala que te dei
ou ta daria ou não.
Se eu soubesse quem tu eras
ou quem tu vinhas a ser,
mandava vir da botica
remédio para morrer.
O amor de homem casado
quem me dera sequer um
para couços de panela
que inda não tenho nenhum.
O amor de homem casado
quem o quer? quem o cobiça?
É como um cânt’ro quebrado
com a rolha de cortiça.
O amor de homem casado
quem o há-de pertender?
é como o vinho botado
que não se pode beber.
Hei-de escrever uma carta
ao rigor desse teu corpo:
juro que não chegará
quanto papel tem o Porto!
Deste-me um ar de teu riso
quando por ti fui passando:
empiscaste-me os teus olhos,
eu logo me fui chegando.
Ai, amores de ao pé da porta
quem mos dera a todo o risco:
ainda que a boca não fale,
os olhos sempre lhe empisco.
Aos olhos do meu amor
hei-d’lhes atirar um tiro,
já que eles por bem não querem
voltar a falar comigo.
Os olhos requerem olhos,
os corações, corações:
também as boas palavras
requerem boas acções.
Os olhos requerem olhos,
Tudo requer o que é seu:
eu requeiro o meu amor,
é por justiça que é meu!
O amor, quando se encontra,
causa pena e causa gosto,
sobressalta o coração,
faz subir a cor ao rosto.
Hei-de subir ao teu peito
por alta escada de vidro,
com fechaduras de prata
para me fechar contigo.
O sol, quando quer nascer,
à minha porta vem dar,
vem pedir obediência
dos raios que há-de deitar.
O sol para todos nasce,
só para mim escurece:
desgraçada rapariga
que até o sol aborrece.
Eu fui a que disse ao sol
que era escusado nascer…
à vista desses teus olhos,
que vem o sol cá fazer?
Ó meu cravinho vermelho,
salpicado na botica,
adeus, que me vou embora,
meu coração cá te fica.
Dizes que te vais embora
e já te estás preparando,
ai, se eu fora livre agora,
que te fora acompanhando.
Agora é que vou morrer,
vou passar o meu martírio:
vou morrer sem acabar,
padecer sem ter alívio!
Já lá vai o sol abaixo,
já não nasce onde nascia,
já não dou as minhas falas
a quem as dava algum dia.

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