GCAD_Cantigas da VINHA B

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Descrição

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O GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO comporta três volumes (1.920 páginas), com uma recolha de 1.150 canções tradicionais do Alto Douro Vinhateiro, recolhidas pelo autor (Altino Moreira Cardoso) em quintas com epicentro em Godim e Loureiro, no concelho do Peso da Régua, donde é natural.

Naturalmente, a maior parte dessas canções tem como temática as vindimas, em que participava sazonalmente uma mão-de-obra (homens, mulheres e rapazes das cestas) rogada nos arredores serranos.

A grande quantidade de cantigas da vinha motiva neste website uma amostragem privilegiada, distribuída por quatro grupos.

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EXEMPLOS

 

Indo eu por i abaixo (G C A D, vol II, 1163)  [Recolha e harm AMC]

Indo eu por ‘i abaixo,
à procura dos amores,
encontrei um laranjale
carregadinho de flores.
Deitei-me à sombra dele
p’ra que não me queimasse o sole;
espertei descoradinha
ao cantar o rouxinole.
– Rouxinol que tão bem cantas,
onde fostes aprendere?
– Ao palácio da rainha,
onde o rei estava a escrevere.
O rei estava na varanda
e a rainha no quintale;
atiravam-se um ao outro
com pedrinhas de cristale.
Umas a meio tostão,
outras a meio reale,
Outras eram d’alto preço,
ninguém le pode chegare;
Só lá le chegava o rei,
como pessoa reale.

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Flor da idália  (G C A D, vol II, 1162)  [Recolha e harm AMC]

Ó idália, ó flor da idália,
ó idália da flor amarela,
ai, à sombra da flor da idália
ai, enganei uma donzela.
Ai, enganei uma donzela,
ai, enganei uma viúva…
ó idália, flor da idália,
ó idália da folhinha miúda!
Ai, enganei uma viúva,
ai, enganei eu uma donzela:
ai, prometi-lhe casamento
e depois não casei com ela!
Ai, enganei uma donzela,
ai, enganei uma menina…
ó idália, flor da idália!…
ó idália da flor miudinha!…

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Maria, se fores ao baile (G C A D, vol II, 1165)  [Recolha e harm AMC]

Maria, se fores ao baile,
Leva o teu xaile,
Pode chover…
Está o céu anuviado,
Está o chão molhado,
Podes morrer!…
Maria, se fores ao rio,
Não vás ao frio,
E ao ar gelado…
Lá vem a noite cerrada,
Cai a geada,
Toma cuidado!…
Maria, se fores dançar,
Eu sou teu par,
Baila comigo!
Ao romper a bela aurora,
Tu vais embora
E eu vou contigo…

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Malhão 2  (G C A D, vol II, 1167)  [Recolha e harm AMC]

Ó Malhão, triste Malhão,
Ó Malhão triste coitado!
Por causa de ti, Malhão,
Ando roto, esfarrapado!
Ó Malhão, triste Malhão,
Triste vida te hei-de dar:
Não hei-de casar contigo,
Nem te hei-de deixar casar!
Ó Malhão, triste Malhão,
Ó Malhão endiabrado,
Por tua causa, Malhão,
Hei-de morrer estafado!
Ó Malhão, triste Malhão,
Ó Malhão sem ter rival,
És da terra do bom vinho,
És do Porto natural.
Ó Malhão, triste Malhão,
Triste há-de ser o teu fim:
Hás-de acabar os teus dias
À porta de um botequim!
Ó Malhão, triste Malhão,
O que foste e o que és!
Ó Malhão, que estás virado
Da cabeça para os pés!

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Ó arvoredo fechado  (G C A D, vol II, 1173)  [Recolha e harm AMC]

Ó arvoredo fechado,
Onde eu ‘stava namorando…(bis)
Olhei para trás e vi
Um passarinho chorando… (bis)
Tu que tens, ó passarinho?
Diz-me lá: quem te ofendeu?
Ele não me disse nada:
Bateu as asas… morreu… (bis)

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À HORTA (GCAD I, 48) [Recolha e harm AMC]

Quando vou à horta,
quando vou e venho,
já me não importa
do amor que tenho!

Do amor que tenho
já me não importa:
quando vou e venho,
quando vou prà horta.

O meu amorzinho
anda carrancudo
por lhe não falar
vezes amiúdo.

Vezes amiúdo
não lhe hei-de falar:
se anda carrancudo,
deixá-lo andar!
(Constantim e Pegarinhos, Agosto de 1959)

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Arregaça (GCAD I, 105) [Recolha e harm AMC]

Fostes dezer ó meu pai
que eu andaba coradinha
o Meu pai te respondeu
que esta cor foi sempre a minha.

Refrão:

Arregaça, arregaça,
arregaça o teu bestido;
arregaça, arregaça,
as calças ó teu marido.

Rua abaixo, rua acima,
toda a gente me quer bem:
só a mãe do meu amor
num sei que raiba me tem!

Crabo branco na janela
é sinal de casamento;
menina, recolha o crabo
que o casar inda tem tempo.

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Carambas!   (GCAD I, 129) [Recolha e harm AMC]

Ondas do mar, abrandai,
Carambas, carambas!
Eu quero caçar um peixe…
Carambas, carambas!
Mas, oh, que carambas!

Eu quero deixar o mundo,
Carambas, carambas!
Antes que o mundo me deixe…
Carambas, carambas!
Mas, oh, que carambas!

Ondas do mar, abrandai,
Carambas, carambas!
Eu quero passar além…
Carambas, carambas!
Mas, oh, que carambas!

Qu’ria ber o meu amor,
Carambas, carambas!
Que é quem eu quero bem…
Carambas, carambas!
Mas, oh, que carambas!

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Aqui, aqui, aqui! (GCAD I, 100) [Recolha e harm AMC]

Aqui, aqui, aqui,
Aqui, agora, agora,
Aqui, neste recantinho,
É aqui que se namora.

Aqui, aqui, aqui,
Aqui é qu’eu hei-de estar,
Aqui, neste recantinho,
Toda a noite a namorar!

Toda a noite a namorar,
Toda a noite a dar paleio,
É um regalo andar
Com seu amor ao passeio!

Com seu amor ao passeio
Seu amor a passear,
É um regalo na vida
Noite e dia a namorar!

Aqui, aqui, aqui,
Aqui é que se está bem,
Ai ao pé do meu amor,
Só com ele e mais ninguém!

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Água leva o regadinho (GCAD I, 72) [Recolha e harm AMC]

– Água leba o regadinho,
água leba o regador…
enquanto rega e não rega,
bou falar ao meu amor.

Refrão:

Ó balancé, balancé,
balancé da nebe pura,
ó minha Salve Rainha,
ó minha ‘bida, doçura’.

– Água leba o regadinho,
água leba e vai regar…
enquanto rega e não rega,
ao meu amor bou falar.

– Água leba o regadinho,
pela minha fonte abaixo…
escorreguei e caí,
cubrei o fundo ó tacho.

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As penas do verde gaio (GCAD I, 108) [Recolha e harm AMC]

As penas do Berde Gaio
são berdes e amarelas
num te incostes senão caio,
num me toques nas canelas.

Refrão:

Ai, ó Berde Gaio,
bai de rás trás trás…
que é do meu amor,
que é do meu rapaz?
Ai, Berde Gaio
bai de rus trus trus…
que é do meu amor?
stá pró Bom Jesus.

Incontrei o Berde Gaio
lá im baixo na ribeira,
c’uma guitarra na mão
para ir prá brincadeira.

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Violetas ao comprido (GCAD I, 603) [Recolha e harm AMC]

À beira do rio nacem
Bioletas ao comprido…
Inda ontem me disseram
Que num casabas comigo.

Eu casar contigo hei-de,
Mas per ora inda não…
Amanhã, por esta hora,
Te darei a decisão.

Fui ao Porto, fui a Braga,
Fui à cidade maior,
Não achei que te trazer,
Minha sucena (*)do sol.
(*) sucena=açucena

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